Fim da escala 6x1 e melhores salários resolveriam falta de mão de obra no comércio
Para economista da Unicamp, Marilane Teixeira, o mercado aquecido, os baixos salários e jornadas extenuantes afastam trabalhadores das vagas oferecidas. O fim da escala 6x1 é uma das pautas dos atos do dia 7/09
Publicado: 22 Agosto, 2025 - 09h00 | Última modificação: 22 Agosto, 2025 - 12h11
Escrito por: Rosely Rocha

No ano passado mais de 7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras pediram demissão de seus empregos, sendo que de 80% a 90% atuavam no comércio com escala 6x1 e salários que oscilavam entre um a um e meio salário mínimo (R$ 1.518 a R$ 2.277), além de muitos serem informais sem direito a férias, 13º salário, aposentadoria e outros.
Esses números têm alarmado empresários do setor de comércios como supermercadistas e de lojas populares, principalmente da região do Brás, centro comercial de São Paulo conhecido por vender produtos a preços mais baixos. A situação está tão crítica que a prefeitura da capital paulista em parceria com a Associação de Lojistas do Brás (Alobrás) está realizando um mutirão facilitar o acesso dos trabalhadores às 10 mil vagas disponíveis na região, que vão de cargos operacionais, de vendas, administrativos, fabris, entre outros.
O que, no entanto, esses empresários não oferecem são melhores condições de trabalho e salariais, avalia a professora de economia da Unicamp e especialista em trabalho, Marilane Teixeira.
“ Temos um ambiente econômico mais favorável que está impulsionando os empregos e, as pessoas estão menos disponíveis, dispostas a trabalhar por baixos salários e jornadas 6 por 1. Portanto, elas têm condições de escolher melhor entre as diferentes opções”, explica Marilane.
Pauta da classe trabalhadora nos atos marcados para o 7 de setembro, a escala 6 x1 tem outro aspecto importante para o atual cenário é a de que a informalidade é muito grande, sem registro em carteira. A economista ressalta que hoje uma das discussões mais importantes que está se fazendo no mercado de trabalho, é tentar confrontar essa ideia do empreendedorismo. Mas não é que as pessoas estão se recusando a trabalhar com CLT, elas estão, na verdade, se recusando a trabalhar em condições muito precárias.
Outro problema apontado pela economista em relação ao empreendedorismo é a ilusão desses jovens do ganho imediato, mesmo que um trabalho celetista garanta férias, 13º salário, vales refeição e alimentação e outros benefícios.
“Muitos se iludem com a ideia de que com uma renda um pouco maior eles podem lidar melhor com os desafios do dia-a-dia, com as despesas, mas nem sempre isso acontece”, diz.
Há um sentimento, uma certa revolta, principalmente entre as pessoas mais jovens, de que não querem mais esse tipo de trabalho e elas querem buscar outras formas. O problema é que tem um certo encantamento com o empreendedorismo, com o trabalho por conta própria, e nem sempre é vantajoso
“ Entre ficar seis dias da semana preso dentro de um comércio, trabalhando de oito a dez horas por dia, um salário no mês que vai variar a mínimo, os jovens preferem buscar outra forma de trabalho que dê mais liberdade, para que eles possam organizar melhor o tempo”, complementa.
Programas sociais
A economista critica a visão distorcida por uma parte do empresariado que vê nos programas de transferência de renda ,como o Bolsa Família, o principal problema da falta de mão de obra.
Segundo Marilane, é óbvio que os programas de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família, ele, em alguns casos, considerando as condições das pessoas, é muito melhor, do que um emprego que eventualmente pode representar um ganho muito menor, insuficiente para sustentar a família, mas tem a ver exatamente com as condições do mercado de trabalho, que é o problema.
“ Quando há uma situação, por exemplo, de desemprego alto, as pessoas topam trabalhar sob quaisquer condições. Quando você vê um contexto de desemprego em queda, as pessoas têm mais opção de escolher o que é que elas querem fazer, e elas estão recusando esse tipo de trabalho e a queixa de falta de mão de obra vem basicamente do comércio, do serviço, e de parte da indústria, que também apresenta condições bem precárias, extenuantes. Então, a queixa vem basicamente desse segmento que oferece condições de trabalho muito ruins no geral para os trabalhadores”.
Hoje a taxa de desemprego no país é de em 5,8% registrada segundo trimestre (abril a junho de 2025) – é a menor da série histórica iniciada em 2012.
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Para a economista a ganância de parte do empresariado faz com que não enxergue esse momento como uma oportunidade para também melhorar as condições de trabalho, de quem trabalha com ele, e só pensa que é um momento apropriado para o processo de acumulação, o que é um pouco como funciona o capitalismo.
“Alguns empresários percebem isso e têm um pouco mais de consciência, mas, no geral, eles não estão nem um pouquinho preocupados com as condições de trabalho e salário de quem trabalha com eles”.
É, por isso, que segundo ela, o debate sobre a redução da jornada de trabalho gerou um alvoroço, principalmente nesse segmento que alega que tem baixa produtividade, que vão ter que demitir, os custos vão aumentar e a sociedade vai ser penalizada com isso.
“Eles nem raciocinam no sentido de que pode ser que também sejam beneficiados, porque com jornada reduzida diminui o número de dias trabalhados. Não significa que o supermercado vai funcionar só 5 dias da semana, ele vai continuar funcionando pelo menos 7, só que ele vai ter que contratar mais gente pra poder organizar os turnos, inclusive isso implica na própria ampliação do seu consumo e das suas vendas por parte até de seus funcionários”, conclui Marilane.