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Emoção e espírito de luta marcam abertura oficial da 17ª Plenária Nacional da CUT

Com homenagem ao ex-diretor João Batista Gomes, convocação para reforçar a defesa da democracia e debater desafios, plenária da CUT foi aberta oficialmente na noite desta terça-feira (14), em São Paulo

Publicado: 15 Outubro, 2025 - 11h22 | Última modificação: 15 Outubro, 2025 - 17h27

Escrito por: Luiz R Cabral | Editado por: André Accarini

Roberto Parizzoti (Sapão)
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A 17ª Plenária Nacional da CUT foi aberta oficialmente na noite desta terça-feira (14), em São Paulo, em uma cerimônia marcada pela emoção e pelo espírito de luta. Além da homenagem a um dos dirigentes mais combativos e atuantes do movimento sindical, João Batista Gomes (Joãozinho), falecido em abril deste ano e dá nome à plenária, a mesa oficial contou com a presença de lideranças da CUT, de centrais sindicais, movimentos sociais das frentes Brasil Popular e Povo sem medo, e partidos políticos.

A solenidade também exibiu um vídeo que ressaltou a identidade da classe trabalhadora e a responsabilidade do sindicalismo na construção de um país mais justo e democrático. Ao final, o grito coletivo de “sem anistia” ecoou pelo auditório, reafirmando o compromisso dos delegados e delegadas da CUT, vindos de todo o país, com a defesa da democracia.

Com o tema “Novos Tempos, Novos Desafios”, a plenária, que segue até o dia 17, ocorre de forma híbrida, com cerca de 200 participantes acompanhando remotamente, para atualizar e definir a estratégia de luta da central em defesa da classe trabalhadora frente às transformações no mundo do trabalho e diante das mudanças políticas, tecnológicas e ambientais.

Entre os convidados da mesa de abertura estiveram o presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart; o secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Canindé Pegado; o diretor-executivo da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Carlos Rogério; o secretário-geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), Rafael FreireEric José de Souza, representando a Frente Brasil Popular; Danilo Lopes, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST); a diretora-técnica do Dieese, Adriana Marcolino; e Rosane Silva, representando a ministra das Mulheres e ex-diretora da CUT.

Leia mais: No primeiro dia da 17ª Plenária da CUT, ex-ministro José Dirceu e o presidente da Central, Sergio Nobre, analisam a conjuntura política e econômica do país e o papel da classe trabalhadora

“Orgulho de ver a CUT viva e mobilizada”, diz Sérgio Nobre

Na mesa de abertura, a CUT reafirmou sua posição em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos sociais e trabalhistas. O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, expressou orgulho pela mobilização.

"é um orgulho ver que com toda essa dificuldade os delegados saíram dos seus estados, dos vários estados do país, com recurso próprio e vieram e lotaram aqui o salão da quadra dos bancários, isso que dá muito orgulho de ser presidente dessa central".

Nobre destacou que as discussões resultarão em "grandes resoluções, não só para a Central, mas para o conjunto do movimento sindical brasileiro e também da esquerda brasileira.  

Em sua fala, o presidente da CUT também destacou que a plenária busca formular respostas às transformações que impactam o mundo do trabalho. “A militância sindical está preparada para enfrentar os efeitos das transições tecnológica e ambiental, que alteram as relações produtivas e desafiam o movimento sindical a se reorganizar”, disse Sérgio Nobre, reforçando que, da Plenária, sairão resoluções importantes para o movimento sindical brasileiro.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, reforçou a importância do evento para a disputa política futura: "Eu tenho certeza que daqui vão sair propostas muito importantes pra gente fazer a disputa nesse cenário para 2026 fortalecer nosso projeto político. Eleger o presidente Lula, eleger bancada de deputados e deputadas para fortalecer nosso projeto", disse

Ela ainda ressaltou “a necessidade de enfrentar a digitalização, a uberização e o avanço das big techs, que intensificam a precarização e enfraquecem a representação sindical” e alertou para o crescimento da extrema direita e sua tentativa de restringir direitos trabalhistas e o poder de mobilização das entidades.

CUT: patrimônio do povo brasileiro

O presidente do PT e ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, destacou o papel histórico da CUT na construção do projeto democrático e popular que governa o país.

“A CUT é um patrimônio do povo brasileiro. É impossível pensar na redemocratização, nos avanços sociais e na eleição do presidente Lula sem reconhecer o papel que essa central desempenhou. Essa plenária é um espaço fundamental de escuta e formulação para os novos desafios da classe trabalhadora”, afirmou.

Edinho Silva também analisou o atual cenário político e destacou que a classe trabalhadora enfrenta um novo ciclo de disputas. Segundo ele, a rejeição da Medida Provisória 1303, que previa a taxação dos bancos, das bets e dos bilionários, expôs a antecipação do debate eleitoral de 2026.

“A derrota da MP 1303 não é apenas a rejeição de uma medida provisória, mas a recusa, por parte do Congresso, em discutir a democratização da renda. De um lado, avançamos com a isenção para quem ganha até R$ 5 mil e a desoneração até R$ 7.300. De outro, vimos setores do Parlamento se articulando para antecipar o embate político de 2026”, afirmou.

Também participaram representantes do PSOL, PCdoB, MST, UNE, MAB, Marcha Mundial de Mulheres e Fundação Perseu Abramo. Entre as lideranças políticas além de Edinho Silva, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), o vereador Hélio Rodrigues (PT-SP), o secretário sindical do PT Nacional, Paulo Cayres.

Leia mais: CUT abre 17ª Plenária Nacional reafirmando luta por soberania, democracia e direitos

Unidade das centrais e desafios da conjuntura

Diretor da CTB, Carlos Rogério, trouxe a saudação de sua central e destacou a unidade no Fórum das Centrais Sindicais em torno do plebiscito popular, cujas propostas incluem a "taxação das grandes fortunas, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000  e principalmente a questão do fim da escala 6x1, que nós queremos a redução da jornada junto com a questão da redução da jornada sem redução de salário", disse ele.

Representando a UGT, Canindé Pegado saudou os delegados e enfatizou o compromisso com a unidade do movimento sindical. “Os desafios são grandes, mas é justamente a unidade e o fórum das centrais sindicais que nos permitem avançar. A CUT tem exercido um papel essencial nesse processo, puxando a construção da unidade de ação em defesa da classe trabalhadora”, disse o dirigente, ao transmitir mensagem do presidente nacional da UGT, Ricardo Patah.

O secretário-geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), Rafael Freire, ressaltou que a defesa da democracia e o combate à extrema direita são prioridades do sindicalismo nas Américas.

“Não podemos naturalizar a extrema direita. Queremos os sindicatos nas primeiras filas dessa luta, defendendo a democracia e um novo projeto de desenvolvimento”, afirmou. Freire também defendeu que o emprego esteja no centro das políticas econômicas e destacou o papel da CUT na articulação internacional da classe trabalhadora.

“Ou retomamos a ideia de classe trabalhadora internacional, ou teremos uma divisão no sindicalismo mundial. A CUT tem um papel fundamental nesse debate”, pontuou.

Eric Queiroz, da Uniaão Nacional dos Estudantes (UNI) representando também a Frente Brasil Popular, enfatizou o papel da mobilização. “A unidade dos movimentos sociais e sindical visa impulsionar a mobilização popular, que é essa coisa quase mágica, porque ela influi diretamente na correlação de forças".

Ele citou como vitória recente a derrota da PEC da blindagem. "Nem os senadores bolsonaristas tiveram a coragem de votar a favor da PEC da blindagem no Senado Federal", pontuou.

Joãozinho, Presente!

A plenária foi dedicada ao companheiro João Batista Gomes, o Joãozinho, que faleceu em abril de 2025. Joãozinho foi um militante internacionalista, do Partido dos Trabalhadores e da Corrente O Trabalho, tendo dedicado sua vida à luta por uma sociedade mais justa e socialista.

Com uma trajetória que se iniciou em 1988 no Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (SINDSEP), ele foi dirigente da CUT São Paulo e integrou a direção plena nacional da CUT Brasil entre 2019 e 2023.

Sua esposa, Heloísa Rego Gomes, e seu filho, Thiago, estiveram presentes na homenagem. Ela emocionou-se ao relatar que, mesmo durante os cinco anos de tratamento contra o câncer, Joãozinho nunca abandonou a luta e conseguiu realizar o sonho de colar grau no curso de Direito.

O legado de Joãozinho foi resumido em seu último desejo. "A vida tem que continuar e a luta tem que continuar". A homenagem se encerrou com a frase “A vida é bela, que as futuras gerações se livrem de todo mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-las plenamente” de Trotski, que ele tinha tatuada.

 O secretário-geral da CUT, Renato Zulato, e a diretora executiva Juliana Sales entregaram à família um quadro com sua imagem e um buquê de flores. Um vídeo exibido no telão relembrou sua trajetória de militância e contribuição para o movimento sindical.

“A melhor homenagem que podemos fazer a Joãozinho é seguir o exemplo que ele nos deixou como militante sindical e como ser humano”, afirmou Zulato.

Julian Sales lembrou que Joãozinho acreditava que, “caminhar para a libertação é fruto da nossa própria obra” e que central dará continuidade à sua luta.

Joãozinho foi lembrado por sua dedicação e por usar com frequência o termo “formidável” para descrever reuniões e conquistas do movimento.

Representando a Frente Povo Sem Medo, o dirigente do MTST, Danilo Lopes, ressaltou o papel histórico da CUT como centro de resistência e mobilização da classe trabalhadora.

“A CUT nasceu num momento de redemocratização, quando os trabalhadores eram reprimidos por lutar. Hoje, ela segue sendo fundamental, representando a luta organizada da classe trabalhadora, que é quem gera toda a riqueza desse país”, afirmou.

Danilo defendeu a continuidade da unidade entre os movimentos sociais, sindicais e populares e destacou a importância de fortalecer o projeto político em torno do governo Lula.

“Que essa plenária seja espaço de resistência e construção, para avançarmos na retomada dos direitos e na consolidação de um projeto popular de país”, concluiu.

Mística: diversidade e reinvenção do sindicalismo

A mística de abertura, coordenada pela Rede Nacional de Formação da CUT, ressaltou a diversidade como a maior força do povo brasileiro. As reflexões iniciais apontaram para a complexidade do momento atual, em que "a crise não é só econômica, é ambiental, é política, é de direitos". A apresentação conclamou o sindicalismo a se reinventar diante de transformações como a digitalização, automação e plataformização, garantindo que "o futuro do trabalho só terá sentido se for também O futuro da dignidade".  

"O Brasil se ergue na força do trabalho de milhões. São mãos que constróem, vozes que ensinam, corpos que cuidam, braços que plantam, consciências que sonham. Aqui encontram todas as cores, culturas e identidades. Somos diversidade, o povo brasileiro em sua grandeza", dizia trecho da apresentação para explicar que o "mundo mudou e segue mudando" e que hoje, em meio às transformações do mundo do trabalho, o sindicalismo nasceu da resistência reinventar sua luta. 

 A Plenária

A Plenária Nacional da CUT é realizada a cada dois anos, após o Congresso Nacional da Central. Durante os quatro dias do evento, serão debatidos temas de interesse da classe trabalhadora, como a precarização do trabalho, o aumento da pejotização, a crise climática, a defesa da democracia e a soberania nacional, entre outros.

A 17ª Plenária Nacional da CUT João Batista é um marco de reafirmação da luta coletiva em tempos desafiadores e de transformação do mundo do trabalho.

Confira neste link a programação completa.