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José Dirceu defende que sindicatos assumam papel central na reconstrução do país

No primeiro dia da 17ª Plenária da CUT, o ex-ministro José Dirceu e o presidente da Central, Sergio Nobre, analisaram a conjuntura política e econômica do país e o papel da classe trabalhadora

Publicado: 14 Outubro, 2025 - 19h15 | Última modificação: 14 Outubro, 2025 - 19h30

Escrito por: Rosely Rocha, André Accarini e Walber Pinto

Roberto Parizotti
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O ex-ministro da Casa Civil e liderança histórica do PT, José Dirceu, foi o convidado especial da 17ª Plenária Nacional da CUT João Batista Gomes (Joãozinho) — com o tema “Novos Tempos, Novos Desafios”que começou nesta terça-feira (14), na quadra dos bancários, no centro de São Paulo.

Durante a mesa de análise de conjuntura, ao lado do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre e da vice-presidenta da Central, Juvandia Moreira, ele falou sobre o cenário nacional e internacional abordando a ascensão da extrema direita, o fortalecimento da luta para manter e ampliar as conquistas recentes no governo Lula e o papel dos sindicatos na construção de um Brasil mais justo.

O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, defendeu que o movimento sindical intensifique a mobilização até 2026, ano que definirá os rumos do país e do projeto liderado pelo presidente Lula. Em sua fala durante a plenária estatutária da Central, Nobre destacou que “a disputa central é de consciência e de narrativa” e que o sindicalismo precisa se reorganizar para dialogar com os milhões de trabalhadores fora da estrutura formal.

Entre as pautas centrais da CUT para o próximo período, que serão debatidas durante a Plenária, Sergio Nobre destacou a atualização do modelo sindical, que deve tramitar em comissão mista no Congresso, e a luta contra a reforma administrativa, apresentada pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ).

“Não existe acordo com esse texto. Precisamos pressionar e participar da marcha contra a reforma no dia 29 ”, disse. Ele também defendeu o avanço de projetos como a redução da jornada para 40 horas semanais e o fim da escala 6x1.

O papel da classe trabalhadora e dos sindicatos

José Dirceu defendeu que a classe trabalhadora e seus sindicatos assumam papel central na reconstrução do país e na consolidação do projeto político iniciado com o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo.

Para ele, o protagonismo da classe trabalhadora é condição para que a reconstrução nacional se torne efetiva. “O sindicalismo tem de ocupar novamente o centro da vida política, como fez em 1988. Foi a CUT e foi o movimento popular que garantiram a Constituição Cidadã, que estabeleceu os direitos sociais e trabalhistas. Agora, a tarefa é defendê-los e ampliá-los.”

Dirceu destacou que o país vive um momento decisivo, com queda do desemprego, retomada da indústria e políticas de valorização do salário mínimo, mas alertou para a necessidade de transformar esses avanços conjunturais em mudanças estruturais. “Não podemos depender de um ciclo econômico. Precisamos de reformas estruturais que garantam renda, emprego e cidadania para as próximas gerações.”

Reforma do Estado e soberania nacional

Ele lembrou que o Brasil viveu um processo de desmonte das políticas públicas e de perda de capacidade do Estado durante os governos anteriores, com privatizações e cortes orçamentários em áreas essenciais. “Nós precisamos reconstruir o Estado brasileiro, retomar empresas estratégicas e reindustrializar o país. Um Estado fraco é um Estado submisso”, disse, ressaltando a importância do BNDES e de programas como a Nova Indústria Brasil.

Dirceu associou a crise social e econômica à hegemonia neoliberal que, segundo ele, se impôs a partir dos anos 1990 e foi reforçada por governos recentes. “A agenda neoliberal desmontou o Estado, destruiu a soberania e retirou direitos. Nós estamos reconstruindo o Brasil, mas precisamos de um novo pacto nacional para sustentar isso.”

Roberto ParizottiRoberto Parizotti

Eleições 2026

O ex-ministro afirmou que o contexto nacional e internacional exige mobilização, consciência política e capacidade de disputar corações e mentes, sobretudo diante da proximidade das eleições de 2026.

“Não basta termos o presidente Lula. Precisamos de um Congresso comprometido com a soberania nacional e com os direitos do povo. É essa base parlamentar que garantirá que o projeto iniciado em 2023 não seja interrompido novamente”, afirmou. Para ele, as próximas eleições serão um divisor de águas: “Ou consolidamos o processo de reconstrução do Estado e da economia, ou voltaremos à estagnação e à tutela dos interesses privados”, declarou.

Dirceu afirmou que a derrota do bolsonarismo em 2022 não encerrou o ciclo autoritário, mas abriu uma janela de reconstrução que ainda é frágil. “Se Bolsonaro tivesse sido reeleito, talvez não estivéssemos mais aqui, reunidos. A democracia brasileira resistiu, mas ainda está sob ameaça. Por isso, 2026 é decisivo.”

Mobilização e consciência política

Dirceu reafirmou que o futuro do Brasil dependerá da capacidade de o povo se organizar. “A história nos ensina que sem mobilização não há transformação. A elite nunca abriu mão de seus privilégios por vontade própria. É o povo, nas ruas e nos sindicatos, que faz a roda da história girar.”

Para ele, o desafio não é apenas eleger representantes, mas formar consciência. “Temos de reconstruir a esperança, disputar o sentido do que é o trabalho, do que é o Estado, do que é o Brasil. Essa é a nossa tarefa histórica.”

Dirceu encerrou com um alerta e um chamado: “Não podemos achar que basta vencer a eleição presidencial. Sem maioria no Congresso, sem força popular, o projeto de desenvolvimento e soberania não se sustenta. 2026 será decisivo para consolidar o que começamos em 2023.”

Disputa ideológica e cultura política

Ao analisar o cenário mundial, Dirceu apontou a ascensão da extrema direita e a disseminação de discursos de ódio como desafios centrais. “O que estamos enfrentando não é apenas uma disputa eleitoral, é uma batalha de valores. Eles querem um mundo branco, cristão e hétero; nós queremos um mundo de diversidade, solidariedade e justiça social.”

Segundo ele, essa regressão civilizatória só pode ser enfrentada com organização popular e ação política permanente. “A luta é também cultural e ideológica. Precisamos disputar o imaginário da sociedade, a narrativa do que é ser brasileiro. É preciso reconstruir o sentido de nação.”

Juros, desigualdade e pacto social

Ao abordar a economia, o ex-ministro criticou as altas taxas de juros e a estrutura tributária regressiva. “Os ricos seguem isentos enquanto o povo paga a conta. O país é riquíssimo, mas a renda continua concentrada. Não é possível crescer sem distribuir”, afirmou.

Dirceu defendeu uma nova política de crédito e investimento produtivo, apoiada em bancos públicos, para fortalecer a indústria nacional e reduzir as desigualdades regionais. “Precisamos desconcentrar a renda e também o território produtivo. O Nordeste e o Norte têm de fazer parte do novo ciclo de desenvolvimento.”

Defesa do fim da escala 6x1

Em entrevista especial para as redes sociais da CUT, Dirceu falou sobre a escala 6x1, ao afirmar que “há uma rebelião silenciosa da juventude brasileira que não aceita trabalhar de segunda a sábado — não oito horas, que geralmente são 10, 12 horas — em funções como empacador, caixa, açougue, padaria, construção civil. A juventude não aceita mais isso”.

Dirceu contestou o discurso patronal que atribui a falta de mão de obra a uma suposta “falta de vontade” dos jovens. Para ele, o problema está nas condições oferecidas e na ausência de perspectivas dignas.

Os empresários estão reclamando que falta mão de obra, mas falta pelos baixos salários, pelos trabalhos extenuantes, repetitivos. Ao contrário do que andou dizendo por aí, essa é a verdade: a juventude não tolera mais essas condições”, disse.

O ex-ministro defendeu que a luta pelo fim da escala 6 por 1 e pela valorização do trabalho deve ser uma pauta prioritária do movimento sindical, especialmente num momento em que a economia brasileira se reorganiza e o emprego formal cresce lentamente.

“Essa pauta é uma pauta de todos nós, da CUT, de todas as centrais sindicais e da maioria do nosso público. Como as pesquisas indicam, vamos lutar pelo fim da escala 6 por 1 e por melhores salários”, afirmou.

 

 

Lutas em 2026

Para o próximo ano, o presidente da CUT, Sergio Nobre, citou o 8 de janeiro, dia em que deverão ser organizados atos em defesa da democracia, a mobilização das mulheres no 8 de março, a jornada para o 1º de Maio – Dia do Trabalhador em 2026 e a Marcha da Mulheres Negras, no dia 25 de novembro. Ele propôs ainda a realização de atos descentralizados no 1º de Maio e anunciou a preparação de um seminário internacional da CUT, em Brasília, com centrais sindicais de diversos países.

“O que está em jogo nas próximas eleições é o projeto de nação. O mundo inteiro vai olhar para o Brasil. E nós precisamos estar organizados, nas ruas e nas urnas, para defender o futuro do país”, ressaltou.

Roberto ParizottiRoberto Parizotti

Sobre as eleições ele ressaltou que o resultado das urnas será determinante para a continuidade do projeto em curso.

A eleições também foram tema da análise de conjuntura feita por José Dirceu. Ele afirmou que “2026 será decisivo para consolidar o projeto iniciado por Lula”

O presidente nacional da CUT também afirmou que é essencial retomar o trabalho de base e a comunicação direta com os trabalhadores. “O sindicato precisa mostrar o que faz, o que conquistou, o quanto colocou de recursos na economia com aumentos reais e acordos coletivos. O trabalhador precisa voltar a se reconhecer nessa luta”, afirmou.

Plenária

O encontro, que vai até sexta-feira (17), reúne 598 delegados e delegadas de todos os estados do país, de forma presencial e on-line, e marca um novo ciclo de debates estratégicos sobre o futuro do trabalho, a democracia e a soberania nacional.

Durante quatro dias, a plenária discutirá temas centrais para o movimento sindical e a classe trabalhadora, como a precarização das relações de trabalho, o avanço da pejotização, a crise climática, a defesa da democracia, a soberania nacional e os rumos da reconstrução do país.

Confira aqui a programação completa da 17ª Plenária Nacional da CUT.

O que são as Plenárias da CUT

As plenárias nacionais da CUT são realizadas a cada dois anos, após o Congresso Nacional da Central. Elas cumprem o papel de avaliar o cenário político e sindical, atualizar as estratégias de luta e mobilizar as bases para o próximo período. Também são momentos de reafirmação dos princípios fundadores da CUT — independência, solidariedade, democracia e defesa intransigente dos direitos da classe trabalhadora.

Objetivos estratégicos da 17ª Plenária

Entre os principais eixos da 17ª Plenária Nacional estão:

  • Atualizar a reflexão sobre a conjuntura nacional e internacional e seus impactos sobre a classe trabalhadora;
  • Fortalecer o sindicalismo cutista, com valorização da negociação coletiva e atualização da estrutura sindical;
  • Reforçar o protagonismo da CUT na reconstrução do Brasil, da democracia, dos direitos e da soberania;
  • Ampliar a intervenção da Central na retomada do desenvolvimento econômico sustentável e no combate às desigualdades;
  • Deliberar sobre alterações estatutárias;
  • E elaborar a estratégia e o plano de lutas para o próximo período.