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Tsipras: Solução para a Grécia e UE...

Publicado: 14 Junho, 2012 - 16h54

Escrito por: Antonio Pimenta/Hora do Povo

Alexis Tsipras, líder da oposicionista Coalizão Syriza que disputa eleição no domingo (17), apresenta medidas do plano de reconstrução da Grécia e propõe que Europa rompa com “dogma neoliberal”

Neste domingo (17) a Grécia vai às urnas para decidir seu destino, sob a indignação provocada por cinco anos consecutivos de recessão e dois anos e meio de choque neoliberal do FMI/BCE/Comissão Europeia, e sob intensa campanha de chantagem para que a população se dobre e vote nos partidos do arrocho, o Pasok e a Nova Democracia. Em entrevista ao jornal mexicano “La Jornada”, o líder do partido que foi para o primeiro lugar em pesquisas, por se opor ao memorando do FMI, Alexis Tsipras, da Syriza, apresenta o plano de reconstrução da Grécia, propõe que a Europa rompa com o “dogma neoliberal” e defende uma solução conjunta para a crise da dívida no continente, assim como a permanência da Grécia na zona do euro. Indagado sobre a “inexperiência” da Syriza para governar, Tsipras retruca categórico: “Claro que não temos experiência, não estamos acostumados a roubar nem a malbaratar o dinheiro público. Porém temos uma vantagem importante, temos a razão de nossa parte e o povo ao nosso lado”.

“Nós queremos permanecer na zona do euro”, assinalou Tsipras, aclarando que “o coração do problema que vivemos existe no centro da Europa e a crise vai afetar rapidamente aí também”. “Se um banco na Grécia entra em colapso, isto afetará o sistema bancário europeu. Então, se um banco helênico colapsar, levará com ele bancos na Itália e estes a outros na Holanda ou em Bruxelas”, acrescentou. Continuando, ele apontou que “a França também está no coração do problema” e disse crer, inclusive, “que a Alemanha não ficará de fora desta crise”. “Neste contexto as opções que a Alemanha tem são duas. Ou se dá conta de que a insistência neste erro é catastrófica e que deve deixar de lado a teimosia para mudar de política, ou que seja a Alemanha que saia primeiro da zona do euro”, ressaltou.

SOLUÇÃO

Sobre qual é verdadeiro peso de seu país na crise que aflige a zona do euro, o jovem político que pode sair do pleito como novo primeiro-ministro do país destacou que a Grécia “na realidade não constitui mais que 3% do PIB europeu, nossa dívida representa 2,85% da dívida europeia. É como uma gota no oceano”. “O maior problema para a zona do euro é a Espanha, que é uma economia grande e está a ponto de desmantelar-se. É a Itália, que tem mais dívida que nós”. Assim, “o que ao mesmo tempo é o grande problema, é também a arma da Grécia, reivindicando uma solução em conjunto para toda a Europa”, sublinhou.

Para Tsipras, as medidas de austeridade que asfixiam seu povo “são as mesmas que foram aplicadas na América Latina, que fracassaram, porém que são trazidas agora à Grécia. Não só não salvaram o paciente, mas sim que o deixaram pior. O remédio foi pior que a enfermidade”. Ele denunciou que a crise foi usada como pretexto para “desmantelar as leis trabalhistas e reduzir os salários em nome da competitividade, baixando o custo dos trabalhadores”, ao mesmo tempo em que seguiam “especulando sem limite. Dois anos e meio depois, nosso PIB foi reduzido em 20 pontos e é o nosso quinto ano em recessão”.

Ele falou sobre o protagonismo que a Syriza assumiu, ao se opor de forma ampla e bastante firme à catástrofe trazida pelo FMI. “Há dois anos ninguém na Grécia podia imaginar que, em um país desenvolvido no coração da Europa, na zona do euro, viriam a impor políticas de choque. Ninguém esperava, há dois anos, que a Grécia em 2012 seria um país à beira de uma crise humanitária. Então, é completamente normal que tenha havido uma mudança política. O paradoxo seria que as pessoas tivessem fome e seguissem apoiando a seus assassinos. Isso é ilógico. Creio que o mais normal é que as pessoas tentem converter sua ira em uma proposta política alternativa”.

RECONSTRUÇÃO

Tsipras se mostrou pronto para encabeçar uma reviravolta nessa situação e afirmou que “nós queremos formar em 18 de junho um governo de esquerda. Sabemos que será difícil, mas não temos outro caminho senão agarrar esta oportunidade”. Ele ressaltou que o plano nacional de reconstrução que vai substituir o memorando contempla a “nacionalização do sistema bancário e como passo seguinte sua socialização através de um controle público social com transparência”. “Vamos eliminar parte das dívidas das famílias e dos negócios superendividados, levando em conta as perdas desde o momento em que se firmaram os empréstimos. Vamos tentar apoiar principalmente os grupos sociais mais débeis”, anunciou.

O líder da Syriza avançou nas questões sobre a crise da dívida na Europa. “A solução ao problema da Grécia e da União Europeia começa entendendo a derrota do dogma neoliberal da senhora Merkel e dos líderes da Europa e sua obsessão pelas medidas de austeridade”. Tsipras propôs que “a dívida poderia ser manejada mediante um novo papel do Banco Central Europeu, através dos eurobônus, e de uma reunião multilateral europeia sobre a dívida”. Parte dela seria eliminada por ser ilegal e a outra parte passaria ao “controle do BCE ou do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira”. Só assim – reiterou o representante grego – “os mercados vão entender que não são eles que têm o controle sobre esta situação, que a política tem controle sobre os mercados”.

Tsipras fez uma grave advertência. “Qualquer outra opção pode, a curto prazo, levará ao desmantelamento da zona do euro e isso seria um acontecimento de influência mundial. O euro é a segunda moeda de reserva mundial, assim não estamos falando da bancarrota de uma economia pequena, e sim da destruição da segunda moeda mais importante. Isso levaria toda a economia mundial a uma crise”.

MUDANÇA

O líder da Syriza assinalou que na Europa “começou a soprar um vento de mudança, sobretudo através dos movimentos e da resistência dos cidadãos”, enquanto alguns governos se mostram “em desconforto” e outros “persistem nos mesmos erros”. Ele descartou que a Grécia esteja “isolada”. “A Grécia pode ser um país pequeno da Europa, porém ao mesmo tempo é uma via de passagem entre três continentes. É também uma via de passagem de energia. Tínhamos, tradicionalmente, relações de aliança e amizade que deveremos retomar com a Rússia e pretendemos aproximar-nos em todos os sentidos ao mundo árabe e sobretudo à América Latina”.

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