Trabalhadores devem liderar a transição justa, defende CUT na Cúpula dos Povos
Durante debates do Eixo 3, a secretária de Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim, destacou que a transição energética não pode ocorrer sem participação dos trabalhadores, movimentos sociais e povos tradicionais
Publicado: 13 Novembro, 2025 - 12h29
Escrito por: Tali Pires/Andé Accarini
Na manhã desta quinta-feira (13), a CUT teve papel de destaque nos debates do Eixo 3 – Transição Justa, Popular e Inclusiva da Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à COP30, em Belém (PA). O eixo, que integra a programação política e cultural do evento, discute alternativas de desenvolvimento que unam justiça social, ambiental e territorial, contrapondo a financeirização do clima e os modelos de transição que mantêm a lógica do grande capital.
O ponto enfatizado foi a necessidade de uma transição energética e climática justa, sob o foco de que as decisões sobre energia e meio ambiente não podem ser tomadas sem a participação ativa da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e das comunidades tradicionais.
Em sua fala, a Secretaria Nacional de Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim, defendeu a centralidade da classe trabalhadora nos processos de transição energética e nas decisões que impactam os territórios. Segundo ela, não é possível falar em justiça climática sem garantir a participação de quem vive e trabalha nas regiões diretamente afetadas pelas mudanças estruturais impostas pela economia verde.
“Os trabalhadores precisam ter voz e estar na discussão das pautas sobre a transição energética justa. Não é possível fazer essa transição da forma como está sendo feita hoje, sem a participação da classe trabalhadora, da sociedade, dos movimentos sociais, das comunidades quilombolas, dos ribeirinhos e dos povos tradicionais”, afirmou Rosalina.
A dirigente destacou que a CUT tem levado esse debate também para dentro da COP30, reforçando a necessidade de democratizar o acesso à energia e proteger os direitos humanos e ambientais nos territórios. Para ela, a transição energética não pode se restringir a um processo técnico ou mercadológico, mas deve estar comprometida com a redução das desigualdades e com a proteção das populações mais vulneráveis.
“Precisamos estar na linha de frente da discussão de como essa energia vai ser democratizada, porque o que vemos é uma transformação energética sem a garantia de que os nossos povos, nas comunidades mais distantes, tenham acesso a ela. Isso não é aceitável”, disse a dirigente.
Rosalina ainda denunciou que diversos projetos de energia solar e outras iniciativas associadas à transição energética vêm sendo implementados de forma excludente, atingindo diretamente comunidades rurais, quilombolas e ribeirinhas. Segundo ela, a implantação de empreendimentos sem consulta prévia tem provocado deslocamentos e ameaçado modos de vida tradicionais.
“Hoje, vários companheiros estão sendo tirados de seus territórios por conta da implementação de projetos solares. Não podemos deixar que esses projetos avancem sem garantir direitos humanos, proteção ambiental e proteção social”, alertou.
A secretária também chamou atenção para a responsabilidade histórica do Norte Global na crise climática e cobrou que os países mais ricos assumam compromissos concretos para reparar os danos ambientais e sociais causados ao longo de décadas de exploração intensiva dos recursos naturais.
“Na COP tem que haver a responsabilidade do Norte Global, que foi quem mais criou danos ao meio ambiente. O Sul Global e a classe trabalhadora não podem ser penalizados nesse processo”, enfatizou.
Durante sua fala, Rosalina conclamou os movimentos sociais e sindicais a ampliarem a mobilização em torno da transição justa com trabalho decente, requalificação profissional e garantia de direitos. Para ela, é inaceitável que a mudança energética venha acompanhada de terceirização, pejotização e perda de empregos.
“Queremos trabalho decente, queremos requalificação e garantia dos nossos empregos e salários. Não dá para aceitar essa precarização que vem acontecendo no mundo do trabalho e nas comunidades”, disse.
A dirigente encerrou sua intervenção convocando uma grande manifestação conjunta entre trabalhadores, movimentos sociais e organizações territoriais, como forma de denunciar o modelo de transição imposto sem diálogo e reafirmar a luta por justiça climática com participação popular.
“Vamos juntos construir uma grande frente de lutas, para que todos os companheiros e companheiras dos territórios, da classe trabalhadora e dos movimentos sociais façam o enfrentamento a esse projeto. Como dizia Chico Mendes, ‘ecologia sem luta de classes é jardinagem’. Vamos defender as nossas vidas e as gerações futuras.”
Os eixos da Cúpula dos Povos
A Cúpula dos Povos é organizada em seis eixos principais:
- Territórios e Soberania Popular e Alimentar – defesa dos territórios, dos direitos de povos originários e comunidades tradicionais, demarcação de terras, reforma agrária e agroecologia.
- Reparação Histórica e Racismo Ambiental – debate sobre os impactos desiguais da crise climática e políticas de combate ao racismo ambiental.
- Transição Justa, Popular e Inclusiva – busca uma transição energética que una justiça social e territorial, com protagonismo dos trabalhadores.
- Democracia e Internacionalismo dos Povos – fortalecimento da democracia e das lutas contra opressões interseccionais.
- Cidades Justas e Periferias Vivas – reivindicação por cidades mais resilientes, com voz às periferias urbanas.
- Feminismo Popular e Resistências das Mulheres – valorização do protagonismo das mulheres e suas lutas contra a violência e o extrativismo.
Realizada paralelamente à COP30, a Cúpula tem reunido movimentos sociais, sindicatos, povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e organizações de diversas partes do mundo. As atividades incluem debates, plenárias, marchas, feiras e manifestações culturais, reforçando a defesa da justiça climática e social a partir da perspectiva dos territórios.