Seminário sobre Mulher em PE: Mercado de trabalho e disparidades foram o foco do debate
Publicado: 12 Maio, 2008 - 11h06
Com o propósito de avaliar e discutir a participação das mulheres no mercado de trabalho foi realizado na quinta-feira (8), manhã e tarde, no auditório do Sindicato dos Bancários, no Recife, o Seminário Reflexões e Lutas Contemporâneas: Mulheres e Desigualdades no Mundo do Trabalho. O evento contou com a participação expressiva de mulheres de Pernambuco e de outros estados representantes do movimento sindical, feminista e do poder público. Na mesa de abertura estiveram presentes: Silvia Camurça (Articulação das Mulheres Brasileiras), Rejane Pereira (Fórum de Mulheres/PE), Tereza Souza (Secretaria de Mulheres da CUT-PE), Lenira Carvalho (Sindicato das Empregadas Domésticas), Juliana César (Coordenadoria da Mulher da Prefeitura do Recife), Vera Jatobá ( Gestora de Políticas Sociais da DRT-PE), Cristina Buarque ( Secretária da Mulher em Pernambuco) e Betânia Ávila (SOS Corpo).
Nas intervenções foram debatidas as lutas das mulheres sobre igualdade, desemprego, direitos de trabalho, violência e a falta de políticas públicas. Além disso, elas comentaram sobre o cenário pernambucano, que vive um momento de desenvolvimento econômico forte - com o estaleiro, a refinaria, o pólo de poliéster, a fábrica de resina plástica, entre outros investimentos incorporados ao sistema econômico do Estado. Apesar da situação favorável, 'a estrutura de desigualdade entre homens e mulheres não tem mudado. Ela se altera, mas não se transforma. Esse seminário é importante para formação e mobilização em torno da questão do trabalho e para colocar novas preocupações e questionamentos. Exigimos igualdade e avanços nos direitos', afirmou a coordenadora do SOS Corpo, Betânia Ávila.
Logo depois, economista e supervisora do Dieese/PE, Jackeline Natal, apresentou o perfil e a inserção das mulheres no mercado de trabalho em nível nacional e, principalmente, na Região Metropolitana do Recife. As mulheres estão mais presentes nos setores de serviços e comércio, os quais representam os segmentos de maior absorção de mão-de-obra na economia. No entanto, os números apontam que cerca de 265 mil mulheres na RMR, em sua maioria, não têm qualquer acesso aos direitos trabalhistas e proteção social. 'A situação tende a se agravar se levarmos em consideração que a proporção de domicílios chefiados por mulheres aumenta a cada ano', avaliou.
A professora da Unicamp, ?ngela Araújo, outra palestrantes da manhã, também fez observações sobre as mudanças do mercado de trabalho e alertou sobre a informalidade. 'Quando encontram trabalho remunerado, as mulheres não acham o emprego. São geralmente ocupações temporárias, bicos, sem carteira assinada e com precárias condições de trabalho', comentou. Hoje, o índice de mulheres desempregadas na Região Metropolitana do Recife aumentou: representavam 52,7% do total de desempregados em 2006, e em 2007 passaram a corresponder a 52,9%, o que significa 169 mil do contingente feminino em desemprego, de acordo com pesquisa do Dieese.
No período da tarde, a deputada estadual, Teresa Leitão (PT) fez a abertura do evento. Ela ressaltou a importância da reflexão do tratamento da mulher no mercado de trabalho. “Desejo que o fluxo dessas discussões influencie de verdade nas decisões de políticas voltadas para nós mulheres”, comentou. Para compor a mesa estiveram presentes Bethânia Ávila e Verônica Ferreira (SOS Corpo), Ana Paula Maravalho (Observatório Negro de Pernambuco) e a Márcia Ramos (coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres). Um ponto bastante debatido pelas mulheres foi a proteção das mulheres pela previdência social. A pesquisadora do SOS Corpo, Verônica Ferreira, colocou que há uma necessidade de criar um sistema especial de inclusão previdenciária para as mulheres, principalmente para aquelas que realizam trabalhos domésticos não remunerados. “As mulheres possuem uma dupla jornada de trabalho. Precisamos lutar por esse reconhecimento do trabalho delas”, destacou.
Para debater a situação das mulheres negras no mundo do trabalho, a advogada Ana Paula Maravalho explanou sobre o histórico do racismo enfrentado pelos negros. “Ocorre uma divisão racial de trabalho. Principalmente para as mulheres negras, pois recebem os piores salários e realizam as atividades mais precárias.”, apontou.Na avaliação da secretária das mulheres trabalhadoras da CUT-PE, Tereza Souza, o seminário cumpriu o objetivo na perspectiva de unir o movimento sindical, de mulheres e feminista para debater o tema trabalho. “O importante foi analisar os desafios e as propostas que nós temos para a inserção das mulheres no mercado de trabalho e ampliar ainda mais essa discussão”, salientou.
Para Bethânia Ávila, o evento foi bastante positivo no sentido de esclarecer as temáticas abordadas e mobilizar as trabalhadoras. “O ponto alto foi não somente traçar estratégias como também conhecer melhor o tema e os problemas do mundo do trabalho para as mulheres, além de colocar a disposição de um diálogo com o poder público, para exigir políticas públicas para elas”, frisou. A coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres (UBM), Márcia Ramos, destacou que o seminário foi o início de uma série de debates para a construção de ações concretas no fortalecimento das mulheres. “Não apenas num caráter informativo, mas também político”, acrescentou. Segundo ela, com base nas propostas apresentadas, a previsão é que no próximo seminário o tema “Economia Solidária” seja discutido.
O seminário se propôs a fazer não somente a discussão, como também a elaboração de um plano de ações estratégicas para serem desenvolvidas no âmbito de políticas voltadas para mulher. Entre as ações elaboradas, está a luta pelo direito das trabalhadoras domésticas, a campanha pela proteção da previdência social e pela divisão do trabalho doméstico, a regulamentação do trabalho das prostitutas, entre outras.