Seminário 'Nanotecnologia e Globalização'
Publicado: 21 Maio, 2007 - 15h35
Escrito por: Contac/CUT e UITA defendem ação governamental em defesa da soberania alimentar
O seminário nacional "Novas Tecnologias e a Globalização", realizado nos dias 18 e 19 em Serafina Corrêa-RS, reuniu dezenas de sindicatos e Federações dos Trabalhadores da Alimentação para debater a nanotecnologia, o fortalecimento da organização nos locais de trabalho e a articulação internacional para potencializar as negociações num período onde o capital transnacional abocanha parcelas cada vez maiores do setor. A luta contra a agressão à soberania alimentar dos nossos países e povos, representada pelo avanço das áreas destinadas ao biocombustível e aos desertos verdes (plantações de eucalipto), foram temas que também ganharam destaque, em virtude da recente visita de Bush à América Latina.
Entre outros, estiveram presentes ao evento convocado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT), pela União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA) e pelo Instituto Nacional de Saúde no Trabalho, delegações da Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
O dirigente uruguaio Gerardo Iglesias, secretário da UITA para a América Latina, lembrou dos perigos e desafios da nanotecnologia, "palavra de alcance desconhecido para a maioria das pessoas, que trata da nova revolução tecnológica que já decolou". Na verdade, ressaltou, está se falando é da tecnologia atômica, dado que as empresas transnacionais pretendem manipular os átomos, moléculas e partículas subatômicas para criar novos produtos e monopolizar cada vez mais a economia. Diante disso, estas empresas, "preferem o termo nanotecnologia, pois é menos alarmante". "E o estudo, desenho, criação, síntese, manipulação, aplicação e exploração de materiais, aparelhos e sistemas funcionais através do controle da matéria na nano escala. Ocupa-se da manipulação, 'controlada' e produção de materiais, instrumentos e estruturas em escala nanométrica", declarou Iglesias, lembrando que nanotecnologia "revela unicamente o tamanho do material que se manipula". Em um nanômetro cabem entre três e cinco átomos, sendo dez mil vezes mais fino que um cabelo humano.
CONVERG?NCIA - Uma das principais preocupações, lembrou o dirigente da UITA, é que a nanotecnologia representa a convergência da biotecnologia, informática, robótica e ciência cognitiva, manipuladas em função dos interesses das transnacionais, cujo único objetivo é o superlucro, "Isso terá conseqüências desconhecidas para a saúde, a biodiversidade e o ambiente. As nanopartículas podem ter diversos efeitos negativos sobre o ambiente, podem entrar na cadeia alimentícia, influenciar a biosfera, alterar os ecossistemas e criar novos tipos de lixo". Gerardo lembrou dos argumentos utilizados pela mídia em favor da liberação dos transgênicos e as suas graves conseqüências para a soberania alimentar, a saúde e o meio ambiente, citando como exemplo a soja roundup, da Monsanto, que ampliou a concentração de renda e o controle da empresa, encarecendo os produtos, contaminando o solo com agrotóxicos e tornando os produtores dependentes de sementes híbridas (que não nascem de novo).
Entre as 37 empresas que sabidamente já investem ou utilizam nanotecnologia, advertiu Gerardo, "é chamativo que 18 estejam ligadas à alimentação ou à agricultura", entre as quais encontram-se Cargill, Bayer, Monsanto e Syngenta. Diante dos riscos iminentes, a UITA sublinha a necessidade de sensibilização dos governos, "por consciência ou por vergonha, uma vez que não existe legislação alguma em nenhum país do mundo para regular a nanotecnologia". "Mais de 200 produtos que incorporam nanotecnologia encontram-se à venda sem nenhuma regulamentação e sem que em suas embalagens apareça nenhuma advertência. Nos Estados Unidos, as vendas de produtos que incorporam nanotecnologia alcançaram US$ 32 bilhões em 2005, sendo que um terço desses produtos ingere-se ou aplica-se sobre a pele, sem que tenham sido feitos estudos sobre tumores e outros impactos", acrescentou.
INSEGURAN?A -Para o presidente da Contac e do INST, Siderlei de Oliveira, o que preocupa é a falta de pesquisas na segurança dos novos produtos: "De US$ 1 bilhão que o governo dedicou no ano passado para financiar a pesquisa em nanotecnologia, só 11 milhões foram parar em estudos sobre a segurança". "Com a marcha ditada pelo lucro empresarial, estão sendo lançados ao mercado produtos sem que a sociedade tenha possibilidade de analisar seus efeitos sociais, econômicos, ambientais ou na saúde", condenou.
Na avaliação de Siderlei, "o estudo e o debate sobre as novas tecnologias são fundamentais, pois graças a elas é possível fabricar produtos que antes pareciam impossíveis de serem viabilizados. Mas o nosso objetivo tem de ser a população, o combate à fome, a melhoria da qualidade de vida das pessoas e não o enriquecimento de uns poucos". "A principal conclusão do nosso seminário é que os avanços proporcionados pela ciência e pela tecnologia devem beneficiar à humanidade e não serem manipuladas pelos cartéis internacionais contra o homem, especialmente contra o trabalhador, e que venham a trazer risco para os consumidores", asseverou.
"Não podemos ser contra a tecnologia que busca substituir o homem em um trabalho penoso ou em um trabalho altamente periculoso, mas o que está acontecendo é a utilização de novas tecnologias para fechar postos de trabalho", acrescentou Siderlei, frisando a necessidade dos trabalhadores ampliarem e fortalecerem a sua organização sindical. Ao mesmo tempo, defendeu, "é fundamental a articulação com as entidades de trabalhadores e de consumidores da Europa e dos EUA, para que sejam informados sobre os problemas enfrentados em nosso país pelo intenso ritmo de trabalho, por exemplo, onde multinacionais como a Cargill espalham lesões e mutilações". "Com o apoio daquelas sociedades, podemos ampliar a pressão contra os desmandos ainda existentes, mostrando como o frango barato deles sai caro para o trabalhador brasileiro, que paga com sua saúde", frisou.
Gerardo Iglesias acredita que "o Seminário valeu para conferir o crescimento da Contac, o seu amplo relacionamento com organizações que não são filiadas à CUT, mas que são da indústria da alimentação". O dirigente da UITA expressou sua "alegria de ver novamente que o setor sai na frente com o debate sobre o tema da nanotecnologia". "A exemplo do que ocorreu com os transgênicos, estamos fazendo um trabalho de denúncia e sensibilização política, colocadas na pauta sindical pela UITA e pela Contac", concluiu.
O seminário foi encerrado com um grande baile em comemoração aos 32 anos do Sindicato de Serafina Correa, homenageado por Iglesias como "uma referência nacional e internacional pela sua luta incansável em defesa de melhores condições de vida e trabalho". A ex-presidente e atual diretora do Sindicato e da Contac, Geni Dalla Rosa, foi eleita recentemente no Congresso da UITA em Genebra, na Suíça, para compor a executiva da entidade internacional.