Sem investimentos da Coelba, Salvador sofre...
Publicado: 24 Outubro, 2011 - 14h23
Escrito por: Sinergia Bahia
Nos últimos dias o caos se estabeleceu na capital baiana. Deslizamentos de terra, inundações e muito transtorno. Salvador parou. Vários pontos da cidade ficaram sem energia elétrica. Os bairros mais afetados foram Liberdade, Itapuã, Pirajá, IAPI e Pernambués. Na Região Metropolitana, as principais ocorrências foram registradas em Lauro de Freitas, Guarajuba (Camaçari), Candeias e parte da Ilha de Itaparica. O interior também sofre com a falta de energia. As regiões Sudoeste e Oeste da Bahia, onde chove com maior intensidade, são as mais afetadas. Mas será que só o mal tempo é o único vilão dessa história?
Após inúmeras reclamações nos órgãos de imprensa, a Coelba tentou justificar o caos colocando a culpa na chuva e no aumento consequente das solicitações, que dificulta a resolução dos problemas. Em parte isso é verdade. Mas, segundo a direção do Sindicato dos Eletricitários da Bahia – Sinergia, essa desculpa não é totalmente verdadeira. “É preciso lembrar que a empresa deixa de cumprir a sua atividade fim com o objetivo de ampliar o lucro, terceirizando os serviços e minimizando investimentos”, destaca Regino Marques, Coordenador Geral do Sinergia. O sindicalista explica que o prejuízo amargado pela população é fruto do descaso da Coelba.
Desde 2009, foram dezenas de denúncias feitas pelo sindicato sobre falta de manutenção e ausência de investimentos. As ações preventivas dão resultados, entretanto, a Coelba, depois da privatização, só corrige algum defeito nas redes quando a situação fica insustentável. Toda a manutenção preventiva tem um cronograma anual a ser cumprindo. Mas não é o que está acontecendo. Com a privatização, essas atividades deixaram de ser desempenhadas, e a consequência disso são os constantes apagões, como os que estamos vivenciando nos últimos dias.
De acordo com Regino, a Coelba não tem turma própria de manutenção em linhas de transmissão. Assim, as inspeções para detectar problemas na rede deixaram de acontecer. As empresas terceirizadas, segundo ele, não têm interesse de fazer a manutenção corretamente. “Estas empresas justificam a falta de manutenção por conta do valor irrisório que a Coelba paga. O lema das terceirizadas é não fazer, para não gastar”, comenta.
Dois pesos duas medidas – As reclamações contra a Coelba seriam bem menores caso a empresa investisse na modernização das suas redes de distribuição e transmissão adotando, por exemplo, as chamadas redes multiplexada, space ou subterrâneas. Estas redes ocupam menos espaço físico e possuem condutores isolados. Ou seja, em caso de contato da rede energizada com árvores ou outros agentes que provocam interrupção de energia durante as chuvas, o transtorno praticamente não aconteceria, já que a possibilidade de fuga de eletricidade é menor.
Curiosamente, estas redes são utilizadas apenas nas áreas mais nobres da cidade (Pituba, Ondina, Vitória, Itaigara, Caminho das árvores, etc). Já o Subúrbio e outras áreas da periferia de Salvador e do interior do estado sofrem com a falta de investimentos, que é claramente percebida nestas situações.
Terceirização prejudica também a população
Atualmente, a Coelba possui cerca de 30 empresas de manutenção terceirizadas. Isso equivale a, aproximadamente, oito mil funcionários, divididos entre setor operacional e de manutenção. Essas empresas levam, em média, um ano prestando serviço, e muitas nem chegam a cumprir o contrato. “Elas diminuem o valor para ganhar o serviço, mas não tem condições de executar todas as tarefas”, explica o coordenador.
Ainda segundo o Sinergia, a terceirização dos serviços energia elétrica não deu certo. Muitas empresas fora da Bahia já estão retomando a contratação de pessoal próprio. Recentemente, a Coelba foi obrigada pelo MPT a regularizar as condições de trabalho dos funcionários das empresas terceirizadas no Extremo Sul da Bahia. A entidade lembra que durante o período de privatização centenas de trabalhadores morreram ou foram mutilados por não possuírem conhecimento técnico necessário e aturem em condições degradantes.
Mas, no próprio ambiente de trabalho da Coelba fatores adversos também são encontrados. Diversos profissionais da companhia ultrapassam os limites do tolerável. Muitos são levados à estafa com acúmulo de atividades e sem intervalo mínimo de descanso. Na área operacional existe um risco inerente à própria função. Quando as condições de trabalho são precárias, esse risco é ampliado. No caso dos Controladores de Sistemas, profissionais que coordenam as redes energizadas durante reparos, há uma sobrecarga acentuada de trabalho nos períodos de chuva. Em condições normais, este profissional já toma conta de uma área enorme e acaba levando risco de acidentes aos outros profissionais que executam o serviço nas redes.
Mas o descaso não pára por ai. Além de ter todas as atribuições correspondentes a sua área, um Controlador de Sistema tem que dividir a atenção com outras atividades (atender notas de reclamação, receber ordem de serviço, solicitação de intervenção, transferência de carga e equipamentos indisponíveis, elaborar relatórios de ocorrências, entre outras atividades). Esse desvio predispõe ao erro. Vale lembrar que, em operação, um erro é sinônimo de morte. E em caso de acidente, o profissional responde criminalmente.
Para corrigir esta situação, o Sinergia tem, insistentemente, denunciado as condições que os trabalhadores são submetidos. Dossiês já foram entregues ao Ministro do Trabalho e o MPT da Bahia também já foi notificado várias vezes. Contudo, a fiscalização tem sido negligente, o que, lamentavelmente, contribui para o transtorno no fornecimento de energia e crescente número de acidentes com vítimas fatais.