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RS: Documentário “Golpe” é lançado após censura em circuito comercial

Produção resgata os eventos que antecederam e sucederam o processo de impeachment impetrado contra a presidenta eleita Dilma Rousseff

Publicado: 16 Agosto, 2018 - 17h30 | Última modificação: 16 Agosto, 2018 - 17h40

Escrito por: CUT-RS

Reprodução
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Após dois anos de produção, os cineastas Guilherme Castro e Luiz Alberto Cassol lançaram na noite de terça-feira (14) o documentário de longa metragem “Golpe”, lotando as poltronas do Cine Bancários, no centro de Porto Alegre. A exibição do filme foi vetada no circuito comercial da cidade.

Com uma hora e dez minutos de duração, a película busca resgatar os eventos que antecederam e sucederam o processo de impeachment impetrado contra a presidenta eleita Dilma Rousseff em 2016. Através de entrevistas com ativistas sociais, intelectuais, militantes e figuras públicas do Rio Grande do Sul, a dupla jogou luzes sobre um período que, apesar de recente, já integra um capítulo obscuro da história brasileira.

O filme conta com a participação de Benedito Tadeu Cezar, Bruno Lima Rocha, Celi Pinto, Claudir Nespolo, Gleidson Renato Martins Dias, Juremir Machado, Kátia Azambuja, Mario Madureira, Matheus Gomes, Miguel Rossetto, Moises Mendes, Néstor Monasterio, Priscila Voigt Severiano, Tarso Genro, Vanessa Aguiar Borges e Zoravia Bettiol.

Claudir Nespolo, presidente licenciado da CUT-RS, aponta os efeitos nefastos do golpe para a classe trabalhadora e observa as ligações dos golpistas com interesses estrangeiros, identificando as digitais do imperialismo norte-americano.

O documentário segue em cartaz no Cine Bancários com sessões nesta quinta-feira (16), às 21h, e nesta sexta-feira (17), às 21h15.  Os ingressos podem ser adquiridos no local a R$ 10,00. E estudantes ganham 50% de desconto.

A imprensa da CUT-RS compareceu à primeira sessão, antecedida da apresentação da equipe técnica e sucedida de um debate, conversou com exclusividade com os dois realizadores. Na entrevista, que você poder ler abaixo, Castro e Cassol tratam da censura, do ativismo e da importância dos movimentos de resistência ao golpe apontarem caminhos, para que a democracia e a soberania nacional sejam retomadas no Brasil.

Confira os principais trechos da entrevista!

CUT-RS: O que motivou vocês a fazerem o fime?

Guilherme Castro: O filme foi feito basicamente por um motivo: porque fazemos filmes.  O documentário, em particular, é uma espécie de crônica da realidade. Juntos, eu e o Cassol temos mais de 50 anos de documentário.

A primeira gravação para este documentário eu fiz em março de 2015 e depois fiquei um ano sem mexer no material. Só voltei a fazer entrevistas em 2016, após uma reunião que tivemos no Fórum Entre Fronteiras, que aconteceu em Oberá, na Argentina, onde tivemos uma reunião com cineastas paraguaios e argentinos, logo após a queda do presidente Lugo no Paraguai.

Naquela época, nós produzimos um vídeo de resistência que foi veiculado em uma emissora de televisão pública paraguaia, ainda no período em que os golpistas estavam no processo de tomada do canal público. Então fomos, de certa forma, contagiados pelo espírito de resistência deles e, ao voltar pra casa, nos deparamos com o  processo de impeachment da ex-presidente Dima Rousseff. Foi neste momento que decidimos fazer esse registro.

CUT-RS: Nós, que representamos diversas entidades sindicais, acreditamos que o golpe foi dado para que o Congresso Nacional, apoiado pelas elites empresariais, conseguisse aprovar as reformas trabalhista e previdenciária, além de outros retrocessos. Qual a opinião de vocês sobre isso?

Luiz Alberto Cassol: O filme trata disso, os entrevistados abordam esse tema. Eu, pessoalmente, concordo com essa linha cronológica de pensamento. Por isso que o documentário remonta a 2013, como uma forma de contextualizar melhor os acontecimentos

Guilherme Castro: O filme é uma síntese de tudo isso, ele parte de um ponto de vista de entendimento de um golpe, mas o analisa sem esquecer-se de suas complexidades. É um filme que está em aberto. Eu e Guilherme poderíamos ainda  estar com a câmera aberta gravando, pois ainda vivemos em um período de exceção. Ainda vivemos em um período de golpe.

CUT-RS: Vocês partiram de um olhar engajado para a realização do documentário. Vocês recomendam esse tipo de postura para a população em geral? O filme é um instrumento de conscientização das massas?

Guilherme Castro:  Nós poderíamos ter adotado um ponto de vista mais afastado, mas não foi o caso. Decidimos assumir essa posição e entendemos que todos os trabalhadores e trabalhadoras deveriam adotar uma postura crítica e militante em relação aos acontecimentos que estamos vivendo desde 2016.

CUT-RS: Como vocês avaliam a adesão da população brasileira aos movimentos de resistência ao golpe de 2016?

Guilherme Castro: Nós, enquanto participantes do processo, acompanhamos manifestações muito tímidas da população, praticamente quando o golpe já estava dado. Os artistas e intelectuais, em um primeiro momento, ficaram em estado de choque e levaram muito tempo para efetivamente se mobilizar.

Em março de 2015, durantes as primeiras imagens que fizemos aqui em Porto Alegre, registramos apenas uma marcha do MST e o povo olhando para eles sem nenhum interesse.  Entretanto, Cassol e eu aprendemos, através da nossa experiência na militância, que a história é muito dinâmica, a roda gira e que toda essa conjuntura pode mudar rápido.

Então, essa crise e esse massacre que estamos sofrendo com a aprovação das reformas precisam ser combatidos.  Daí eu me alinho com o que pensa o Claudir Nespolo e a CUT. Eu boto fé que a gente tome as ruas e mude esse negócio, que a gente tire o Lula da cadeia na marra. De qualquer forma, a montagem do filme é o meu discurso, minha forma de resistência.

CUT-RS: Qual a importância de promover o lançamento do filme em um sindicato com o SindBancários?

Luiz Alberto Cassol: Sem dúvida, é muito importante. Nós recebemos total apoio da direção do SindBancários e é simbólico fazer a premiere do nosso filme em um sindicato, até porque nós enfrentamos muita resistência por parte das salas de cinema e cinematecas tradicionais para conseguir lançar o documentário. Isso dá uma ideia da gravidade do momento atual pela qual passa o país.

Um filme intitulado Golpe chama uma carga de responsabilidade para si. Com ele, nós gritamos ao mundo: sim, aconteceu mesmo um golpe de estado no Brasil. Todos os locais que procuramos nos disseram não. Não porque estamos próximos do período eleitoral, não porque o momento é errado e, principalmente, não porque o tema é polêmico. A censura voltou pro Brasil depois de 30 anos.  Entretanto, já estão surgindo convites para exibi-lo no exterior.

Sobre os realizadores

Guilherme Castro  é  cineasta e professor. Dirigiu os documentários Becos, Transversais e Saúde; os curtas-metragens Terra Prometida e Boa Ventura; os especiais para a RBSTV Mariazinha, O Massacre dos Bugres e Garibaldi – Heroi de Dois Mundos. Atualmente leciona Jornalismo na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

Luiz Alberto Cassol é diretor cinematográfico e cineclubista. Dirigiu longas metragens documentais e foi presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/CNC e diretor do Instituto Estadual de Cinema do RS (IECINE) e da Cinemateca Paulo Amorim.