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RS: Bancários celebram greve proibida de 1979 e reafirmam luta pela democracia

Exatos 40 anos depois, os bancários tiveram um dia especial e uma noite cinematográfica e comemorativa, celebrando uma luta histórica da categoria e dos trabalhadores gaúchos

Publicado: 11 Setembro, 2019 - 12h24

Escrito por: CUT-RS

Reprodução
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Há 40 anos, quando era aprovada a lei da anistia no Brasil, os bancários de Porto Alegre viviam um dia decisivo na greve proibida de 1979, deflagrada em plena ditadura militar. Em 9 de setembro, uma assembleia na frente da sede da Fetrafi-RS teve o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva como um de seus principais oradores, e 3 mil bancários decidiram manter a greve pelo quarto dia consecutivo.

Se naquele ano a greve garantia pela força da decisão coletiva ao menos um dia a mais de piquetes e lutas, o movimento chegava a um dilema: aceitar uma proposta dos banqueiros ou desafiar o regime autoritário e seguir lutando pela liberdade dos dirigentes presos e pelo fim da intervenção no Sindicato dos Bancários.

Exatos 40 anos depois, na segunda-feira, 9 de setembro de 2019, os bancários tiveram um dia especial e uma noite cinematográfica e comemorativa, celebrando uma luta histórica da categoria e dos trabalhadores gaúchos.

Programa de rádio

No início da tarde, o programa "Esfera Pública", da Rádio Guaíba, foi transmitido ao vivo do auditório do SindiBancários. Sob o comando dos jornalistas Juremir Machado da Silva e Taline Oppitz, o assunto foi a greve de 1979, numa mesa de debates com a participação de Everton Gimenis (atual presidente do Sindicato), do ex-governador Olívio Dutra (à época presidente do SindBancários), do também ex-governador Tarso Genro (à época advogado do Sindicato) e do ex-deputado e prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (também ex-presidente do Sindicato).

“Nossa intenção foi trazer a tona, nos dias de hoje, um dos momentos mais marcantes do SindBancários e do sindicalismo no estado, quando enfrentamos uma greve de 15 dias em 1979, em plena Ditadura Militar. Hoje, quando o país está sob um governo que desmonta direitos trabalhistas e ataca a democracia, é fundamental le lembrar aquela data, quando tivemos Olívio Dutra e mais três dirigentes do Sindicato presos”, sintetizou Gimenis.

Ele destacou que o SindBancários sempre assumiu a linha de frente no movimento sindical e na parceria com os movimentos sociais. “Até o primeiro presidente da CUT no Rio Grande do Sul foi o bancário José Fortunati”, citou.

Exibição de documentário e convênio de parceria do CineBancários

Diante de uma plateia que quase lotou os 81 lugares da sala de cinema do CineBancários, grevistas voltaram a exaltar uma façanha. O documentário “Os 30 anos da Greve de 1979”, do diretor Hique Montanari, produzido em 2009, fez parte de um dia de celebração dos heróis da greve,   

Antes da exibição, o presidente do SindBancários e o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, assinaram um convênio, que garante meia-entrada no CineBancários para todos os sindicalizados da ativa e aposentados de sindicatos e federações filiadas à CUT, fortalecendo a parceria com as entidades sindicais e levando cultura para mais trabalhadores e trabalhadoras.

Personagens como os então presidente e secretário-geral do SindBancários, Olívio Dutra e Milton Mottini Machado, respectivamente, e bancários da base que fizeram parte da história de resistência, como o bancário do Banrisul e preso na greve, Namir Bueno, estiveram presentes na sessão histórica de cinema.

O documentário de 38 minutos recuperara em 2009 um diário da greve. Imagens dos piquetes dos bancários, das assembleias, entrevistas dos líderes como Olívio Dutra ilustraram os 14 dias de resistência.

A greve, como se pode perceber nos depoimentos dos personagens do documentário, não teve o efeito vencedor no que diz respeito às reivindicações econômicas, é certo. Os bancários queriam aumento de 86% e levaram 15%. Queriam manter os empregos e muitos foram demitidos. Mas a greve entrou para a história como um movimento que muito contribuiu para o fim da ditadura militar e a volta da democracia no País. 

Ato no auditório Olívio de Oliveira Dutra

As comemorações dos 40 anos da greve culminaram com a realização de um ato, chamado de "assembleia" pelo presidente do Sindicato, A mesa foi integrada por Gimenis, Olívio, Tarso e o tesoureiro do Sindicato, Tiago Vasconcelos, que idealizou as comemorações dos 40 anos da greve. Teve debates com a participação dos grevistas de 1979 e dirigentes sindicais.

Houve entrega de várias placas para bancários que fizeram a greve de 1979, como Olívio, Namir e Paulo Stekel, que foi grevista e preso em Santa Maria. Outras ainda serão entregues ao longo do ano.

As homenagens foram estendidas a dirigentes sindicais da época que apoiaram o movimento, como o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e hoje senador Paulo Paim, cuja placa foi recebida pela assessora Abigail Pereira, e o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e hoje preso político Luiz Inácio Lula da Silva, cuja placa será entregue em Curitiba.

Ao final, foi descerrada uma placa denominando o auditório com o nome de "Olívio de Oliveira Dutra", uma justa e merecida homenagem ao bancário que foi o maior protagonista da greve de 1979 e aquele que mais projetou o Sindicato ao longo da sua história de 86 anos de muitas lutas e conquistas.

Ana Santa Cruz

A participação da ex-bancária do Banerj e ex-diretora do SindBancários, Ana Santa Cruz, foi destacada nas comemorações dos 40 anos da greve. Era militante na base da categoria em 1979, mas foi uma das protagonistas do movimento.

Esposa do desaparecido político Fernando Santa Cruz na ditadura, em 1974, e mãe do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ela foi também protagonista e a única mulher presa durante a greve. Os outros presos foram Olívio, Luiz Felipe Nogueira e Namir Bueno.

Impossibilitada de participar das comemorações, em função de compromissos no Rio de Janeiro, Ana enviou uma mensagem especial, que foi lida no programa "Esfera Pública" pela jornalista Taline Oppitz e no ato realizado à noite pelo diretor do SindBancários, da Fetrafi-RS e da CUT-RS, Ademir Wiederkehr.

Ana saudou "os companheiros e as companheiras, amigos e amigas, de antes e de sempre, cujas vidas foram dedicadas a construir um país democrático e mais justo".

Para ela, “a distância entre a comemoração anterior, dos 30 anos da Greve, e os dias de hoje parecem muito maiores que apenas dez anos. Ainda estamos um pouco perplexos ao assistirmos um Governo cujo objetivo maior e único é destruir e nos destruir. A história, no entanto, irá demonstrar a esses arquitetos da destruição que eles não sobrevivem à luta dos que sonham sem medo de ser feliz”.

"Diante de tudo isto que estamos passando, penso que devemos nos unir a todos que queiram interromper a ação destes arquitetos do mal. Na luta, Lula Livre!", concluiu Ana.

Clique aqui para ler a íntegra da mensagem.

Lições da greve de 1979

Há sempre lições a serem tiradas de um movimento tão importante, marcado pela coragem e disposição de luta da categoria. A greve de 1979 abriu caminhos aos trabalhadores para seguirem dali para frente.

Não foi um movimento com ganhos econômicos como as greves dos bancários nos últimos 15 anos, que conquistaram aumentos reais nos salários, valorizaram o piso, vales refeição/alimentação e PLR e garantiram avanços sociais, dentre outros avanços. Mas é certo que foi uma greve que não teve medo de enfrentar a ditadura, expôs o quanto o regime militar era de arrocho salarial e de empobrecimento da classe trabalhadora e contribuiu muito para a redemocratização do País.