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Romper com capitalismo é caminho para igualdade

Em terceiro módulo de curso de formação, economista destaca necessidade de romper com atual modelo de produção

Publicado: 24 Novembro, 2014 - 15h12 | Última modificação: 25 Novembro, 2014 - 13h14

Escrito por: Luiz Carvalho

Roberto Parizotti
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Maria Júlia e Rosane Silva durante uma das mesas do curso

Curso de formação chegou ao terceiro módulo com cutistas de todos os estados do país (Fotos: Roberto Parizotti)Curso de formação chegou ao terceiro módulo com cutistas de todos os estados do país (Fotos: Roberto Parizotti)
Nos anos 2000, a economia brasileira  e o PIB (Produto Interno Bruto) cresceram, a inflação caiu, o emprego diminuiu, o país implementou uma política de valorização permanente do salário mínimo. Mas nenhuma dessas medidas modificou efetivamente a segregação do trabalho das mulheres.

Essa é a conclusão da professora da Unicamp, Eugenia Tranconso, que apresentou um estudo durante curso de formação para diretoras e trabalhadoras representadas pela CUT na última semana.

Segundo ela, para que a continuidade do crescimento da economia gere efeitos favoráveis ao bem-estar da população, é preciso reestruturar o mercado de trabalho a partir da redução significativa das desvantagens das mulheres, que ainda enfrentam dupla jornada e recebem menos, apesar de melhor qualificação.

“Nas áreas onde há maior concentração de mulheres e mais escolaridade, a diferença salarial é maior. No emprego formal, 25,5% das mulheres tem nível superior contra 13,3% dos homens, por exemplo. Ainda assim, o rendimento dos homens supera o das mulheres na mesma função em 14,8%”, apontou.

Há áreas em que essa diferença é brutal. No serviço administrativo, em que 60,4% são trabalhadoras, o rendimento dos homens supera o das mulheres em 30%.

A pergunta, portanto, é como mudar esse cenário. A resposta, de acordo com a economista Marilane Teixeira, passa por romper com o sistema capitalista.

“No início do século 20, a mulher lutava por direitos básicos, como o voto, conquistado no Brasil em 1932, para reduzir a jornada, regulamentar o trabalho insalubre. Nos anos 1960 e 1970, a luta era em defesa do reconhecimento à dupla discriminação de gênero, como mulher e trabalhadora, que realiza dupla jornada, para reconhecimento do trabalho doméstico não remunerado. E, nos anos 2000, apesar de avanços e de ocuparem espaços onde ainda não estavam presentes, há o entendimento de que não haverá mudanças estruturais sem romper com o modelo de produção e consumo. Porque os homens, em geral, se beneficiam da dupla jornada e dos salários inferiores que recebemos”, explica.

Para as trabalhadoras da CUT, a transformação depende de mobilização que, por sua vez, passa pelo processo de formação para a luta e defesa da igualdade. Um grande passo foi dado com a aprovação no 11º Concut (Congresso Nacional da CUT) da paridade entre homens e mulheres na composição da direção nacional e das estaduais.

O próximo passo, destaca a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, é aprimorar a concepção do feminismo dentro da Central para que os espaços ocupados pelas trabalhadoras sejam sinônimo de mudanças no sindicalismo cutista.

“Nosso objetivo com o curso é formar novas lideranças feministas. Porque quando propomos a paridade não foi só para ocupar espaços de poder simbolicamente, mas para superar o machismo e, para isso, temos que ter mulheres que compreendam o significado do feminismo e porque lutamos por uma sociedade igualitária”, explicou.

Racismo – Um das palestrantes desse terceiro módulo do curso de formação para as trabalhadoras da CUT, a secretária de Combate ao Racismo da Central, Maria Júlia, ressaltou avanços da última década, como a criação de uma secretaria de Políticas Promoção para a Igualdade Racial (Seppir), a criação da Lei 10.639/03, que institui o ensino das escolas públicas e particulares da história e cultura afro-brasileira e africana, e lei de cotas nas universidades e serviços públicos.

Para a dirigente, os avanços não são benesses, mas sim o reconhecimento da dívida do Estado com os negros.

“Com o fim da escravidão, os negros não recebiam nenhum tipo de retribuição financeira pelo trabalho que realizavam e, assim, começamos a entender porque as desigualdades persistem até hoje.”

Júlia ressalta que a reflexão sobre o racismo no mês da Consciência Negra ajuda a quebrar a ideia de que a discriminação no Brasil é camuflada, conforme discute a publicação Revista CUT com Raça, que a central lançou recentemente.

“Uma das ideias que quebramos com nossas marchas é a de que a miscigenação no país foi tão grande que vivemos em harmonia. Convivemos sim, mas o preconceito, a exclusão dos negros nos melhores postos sob a alegação de boa aparência, por exemplo, continua. Somos 52% da população, mas quando vamos olhar nos espaços de poder, ou a representação é pequena ou inexiste. A gente olha as estatísticas e pesquisas e vê que mulheres negras estão na base da pirâmide. Quando se observa postos de trabalho considerados precários, as mulheres negras também estão lá e sofrem por serem mulheres e por serem negras”, defende.