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Relatório do Grupo dos Trabalhadores da CNV...

Alterações na legislação trabalhista levaram ao pior arrocho salarial e demissões em massa; relatório também apontará como foi estabelecida a estrutura público-privada de repressão

Publicado: 03 Junho, 2014 - 17h37

Escrito por: William Pedreira

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Na reta final dos trabalhos - a Comissão Nacional da Verdade tem até dezembro para apresentar o seu relatório – integrantes do GT13 ‘Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical’ no âmbito da CNV estiveram reunidos na manhã desta terça-feira (3) na sede da CUT.

Instaurado em março do ano passado, o Grupo dos Trabalhadores tem se debruçado na construção de um relatório coerente e consistente que aponte todos os atores responsáveis pelas violações acometidas à classe trabalhadora no período da ditadura militar, possibilite o resgate da memória e faça justiça e reparação aos trabalhadores e seus familiares.

De acordo com Expedito Solaney, secretário de Políticas Sociais da CUT e um dos integrantes do GT, este relatório deverá ser entregue à Comissão Nacional da Verdade até o final de julho.

Em sua fala, o dirigente da CUT recordou que os trabalhadores foram à classe social que sofreu maior perseguição política e social, sendo qualificados como inimigos pela ditadura. Logo no primeiro dia do golpe mais de 400 sindicatos, 43 Federações e três Confederações foram alvo de intervenções com apoio de empresas que entregavam os trabalhadores e ativistas sindicais nas chamadas listas sujas.

Integrantes do Grupo dos Trabalhadores oganizam construção do relatório finalIntegrantes do Grupo dos Trabalhadores oganizam construção do relatório finalNo processo de enfraquecimento da organização sindical e ataque a classe trabalhadora diversas alterações na legislação foram se sucedendo, como a lei do arrocho salarial, a lei anti-greve e a revogação da lei da estabilidade no emprego.

Para a advogada Rosa Cardoso, umas das integrantes da CNV e coordenadora do GT13, a legislação anti-trabalhista levou a um período de intenso arrocho salarial e demissões em massa. “Ainda hoje os salários não se reconstituíram ao nível anterior da ditadura, sem contar que a rotatividade continua a fazer suas vítimas”, declarou Rosa, apontando ser agora o momento para se estabelecer o acerto de contas sobre a herança maldita deixada pela ditadura.

“Houve uma concomitância entre a estrutura público-privada em repressão aos trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, também estamos buscando esclarecer como empresas e empresários arquitetaram, financiaram e participaram do golpe”, completou Rosa. Segundo a advogada, uma das grandes dificuldades é o acesso e a captação de documentos oficiais. “O golpe teve um forte apoio da direita conservadora, violenta e regressiva e este setor ainda se opõe ao processo de revelar as mazelas da ditadura. A própria corporação militar e as Forças Armadas como instituições extremamente corporativas não são capazes de pedir desculpas a nação e entregar a documentação que poderia ajudar a elucidar estes problemas.”

Já Vagner Freitas, na figura de presidente nacional da CUT, colocou-se a disposição para dialogar com os órgãos competentes no intuito de colaborar no trabalho da Comissão Nacional da Verdade e na construção do relatório final.

Na visão de Solaney, a CNV tem cumprido a importante tarefa de levar o debate a sociedade e resgatar a verdade histórica dos fatos. “Queremos dizer com todas as letras que no período do regime militar o Estado cometeu as maiores atrocidades e crimes de lesa-humanidade, incluindo a destruição do movimento sindical”, disse.

O relatório final terá um capitulo em suas recomendações instando ao Ministério Público fundamentar denúncias para que a justiça seja feita aos que cometeram crimes de lesa-humanidade. Para tanto, enfatiza Solaney, seria necessário uma revisão na Lei de Anistia com a supressão do artigo 1º, parágrafo 1º, que estendeu a anistia aos agentes públicos que cometeram graves violações aos direitos humanos.