Produtos cancerígenos
ANVISA apreende um milhão de quilos de agrotóxicos na Syngenta e a empresa recebe prêmio da mídia
Publicado: 05 Fevereiro, 2010 - 17h26
Escrito por: Norian Segatto, Sindicalismo e Cultura
Durante o 10º Fórum SocialMundial, ocorrido em Porto Alegre, de 24 a 29 de janeiro, o MST realizou um atona Assembleia Legislativa em repúdio à criminalização dos movimentos sociais. Omote concreto desta vez foi a prisão de nove pessoas em Iaras (interior de SãoPaulo) acusadas de participar da ocupação da fazenda da Cutrale – aquela que aGlobo não cansou de mostrar um trator passando por cima de pés de laranja.
No evento, que lotou oplenarinho da Alers, o líder sem terra João Pedro Stédile comentou sobre aapreensão feita pela Anvisa (Agência de Vilância Sanitária) e Polícia Federalna fábrica da Syngenta, em Paulínia (SP), dois meses antes: em 21 de outubro de2009, a agência governamental, motivada pela denúncia de um funcionário daSyngena, apreendeu 150 mil litros do agrotóxico Priori Xtra adulterado.
A maior produtora deagrotóxicos do mundo já havia sido autuada no início desse mesmo outubro,quando a Anvisa interditou cerca de 1 milhão de quilos de agrotóxicos comirregularidades e adulterações . “Após três dias nas instalações da maiorempresa em vendas de agrotóxicos no Brasil e no mundo no ano de 2008, a equipeda Anvisa encontrou várias irregularidades na importação, produção e comérciode produtos agrotóxicos. A ação contou com apoio da Polícia Federal. Do totalde produtos interditados, 600 mil kg correspondiam a agrotóxicos e componentescom datas de fabricação e de validade adulteradas. A empresa também foi autuadapor destruição total das etiquetas de identificação de lote, data de fabricaçãoe de validade do agrotóxico Flumetralin Técnico Syngenta, igualmenteinterditado. Vários lotes do mesmo produto também foram interditados porapresentarem certificado de controle de impurezas sem assinatura, data da suarealização ou com data de realização anterior à produção do lote analisado. Ocontrole de impurezas toxicologicamente relevante no Flumetralin Técnico éobrigatório uma vez que tais impurezas são reconhecidamente carcinogênicas ecapazes de provocar desregulação hormonal”, diz a nota emitida pela AgênciaSanitária (http://www.anvisa.gov.br/DIVULGA/noticias/2009/051009.htm).
Omissãoe desvario
Caro leitor, leitora:seiscentos mil quilos de um produto cancerígeno e que provoca desregulaçãohormonal são apreendidos pela Polícia Federal e a maior revista do país e amaior rede de televisão do país não publicam uma linha? É, no mínimo, paracoçar os piolhos da cabeça e imaginar que tem algo errado, muito errado com amídia.
Resolvi fazer uma brevepesquisa e entrei no sítio da Veja, a pior revista do Brasil. Na barra de buscapesquisei a palavra “Syngenta” (que Stédile se refere como nojenta, rima boa).Surgiram 55 referências, a maioria assinada pelo escroto Reinaldo Azevedo,aquele pseudo jornalista que chama Chê Guevara de “porco fedorento”. E o quediziam, em resumo, os posts desta besta: defendiam a fábrica da Syngenta doParaná, cujas milícias participaram do assassinato do militante sem terra ValmirMota de Oliveira, o Keno, em 21 de outubro de 2007. Nada mais natural para umrepresentante da direita carcomida como Azevedo.
Próxima pesquisa: apalavra “MST”. Surgiram nas páginas de Veja 32.064 citações e 24 capas – nãoprecisei perder o tempo lendo para saber que em nenhuma matéria se encontrariajornalismo e sim pregação ideológica a favor do latifúndio.
Prêmiopara quem mata
A multinacional suíçacontrata capangas armados, adultera milhões de litros de agrotóxico, que irãoser utilizados nas plantações de frutas e legumes que você e seus filhosconsumirão (e anos depois em algum velório alguém vai comentar “nem fumava emorreu de câncer”), nenhum diretor da empresa é preso ou processado, e qual é aatitude da mídia comercial? Dar um prêmio a esta empresa, claro!
Foi exatamente isso que asOrganizações Globo, por meio da revista Época fez no dia 28/09/2009, uma semanaantes da enorme apreensão de agrotóxicos. A Syngenta foi homenageada peloPrêmio Época de Mudanças Climáticas 2009. Lindo, né? E, com certeza, a empresasabe recompensar seus diletos amigos da mídia.