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Privatizada há 13 anos, Vale viola direitos...

Publicado: 12 Maio, 2010 - 16h05

Escrito por: Radioagência NP, Jorge Américo


 

Fundada em 1942 e privatizada em maio de1997, a mineradora Vale transformou-se em símbolo da política neoliberalimplementada pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). A estatal foiadquirida pela iniciativa privada pelo valor de US$ 3,4 bilhões. Atualmente, ovalor de mercado passa de US$ 140 bilhões, valor quarenta vezes maior que opreço de sua venda.

 

Somente no ano de 2009, a Vale teve umlucro líquido de mais de US$ 5 bilhões. Em contrapartida, sua ação exploratóriaem aproximadamente 30 países em que atua está provocando conflitos sociais eambientais.

 

A semelhança das ocorrências nos diversospaíses onde a Vale atua fez com que 80 organizações, presentes nos cincocontinentes, organizassem o Movimento Internacional dos Atingidos pela Vale.

 

Com a mobilização, foi criado um dossiê,que demonstra a ação devastadora da empresa. O documento foi entregue àOrganização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos(OEA) no final de março deste ano.

 

Em entrevista à Radioagência NP, a economistaKarina Kato, integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul,defende a anulação do leilão da Vale e fala sobre a tensão social nosterritórios atingidos pela multinacional brasileira.

 

Radioagência NP: Karina, o que consta neste “Dossiê dos Impactos e Violações da Valeno Mundo”  que foi enviado para osorganismos internacionais?

 

 Karina Kato: No Peru, teve um caso de umfuncionário de uma subsidiária da Vale que foi condenado por tentativa dehomicídio. A Vale está entrando lá para a constituição de milícias armadas. Sãodenúncias parecidas com aquelas que ouvimos aqui, na Baía de Cepetiba, ondeestá sendo construída a Companhia Siderúrgica do Atlântico. Enfim, são váriasviolações de direitos humanos, casos de destruição do meio ambiente. Por isso,esse dossiê foi apresentado como um documento que prova essas violaçõescometidas pela vale e entregue a diversas instâncias.

 

RNP: No documento, a Vale é acusada deviolação dos direitos humanos, exploração de trabalhadores, destruição do meioambiente, entre outros. Como ela consegue preservar a imagem de companhiasustentável?

 

 KK:A Vale acaba construindo uma imagem de si que não corresponde à realidade. Nosterritórios onde atua, ela possui uma imagem totalmente diferente daquela queela vende. No entanto, ela consegue manter no imaginário social do brasileirocomum a imagem de uma empresa verde-amarela, que pertence a todos osbrasileiros, o que já não é mais verdade há muito tempo, desde a privatização.

 

RNP: Sustentabilidade é um dos assuntosmais debatidos no momento. Como ele foi abordado na assembléia da qualparticiparam o movimento e os acionistas?

 

 KK:A Vale fez uma apresentação de como foi sua atuação em 2009. As palavrassustentabilidade, meio ambiente e comunidade não apareceram na apresentação.Era uma apresentação voltada para o mercado, vendas e exportação decommodities. Foi curioso porque os próprios acionistas cobraram isso daempresa. Questionaram as ações que estão sendo feitas acusações de violação nosterritórios.

 

RNP: Que impactos a ação da Vale provocanas comunidades onde ela atua?

 

KK: Na Tailândia tem cerca de 1.5 milfamílias de acampamentos e assentamentos que convivem com 79 fornos queproduzem carvão. A produção funciona 24 horas para alimentar as indústrias daVale. A conseqüência são problemas respiratórios, crianças que não conseguem irao colégio por conta da alergia e outros problemas. A mesma coisa acontece comfamílias que moram perto de siderúrgicas. A violência que vitima os camponesesque se opõem às ações da empresa. A Vale é arrogante, tem uma forma muitoagressiva de exploração dos recursos naturais e dos recursos humanos em todasas áreas.

 

RNP: A questão trabalhista também estásendo desrespeitada?

 

KK: Um grande exemplo dessa arrogância estána greve de nove meses, onde 3.5 mil mineiros estão parados. Um detalhe é queno Canadá os trabalhadores não recebem pelos dias parados. O sindicatocontribui com 20% do salário que eles recebem. Vem de um fundo para a greve.Para se ter uma idéia, eles estão passando necessidades, alguns estão passandofome. Segundo cálculos do sindicato, se os trabalhadores aceitassem todas asexigências da Vale, a redução do custo da empresa por libra de níquel seria decinco centavos. Seria um impacto muito grande para os trabalhadores. Emcontrapartida, um impacto muito pequeno para a empresa.

 

RNP: O Movimento defende a anulação doleilão de privatização da Vale?

 

KK: Consideramos que o leilão foi ilegal,as reservas foram subvalorizadas, foram vendidas a um preço extremamente baixo.Era um patrimônio brasileiro, que passou para as mãos da iniciativa privada semao menos se fazer uma consulta à população. A Vale tinha um fundo que destinava3% de sua lucratividade, que eram revertidos para as comunidades onde elamantinha a exploração. Esse fundo foi retirado, se tornou um valor fixo, que écontrolado e operacionalizado pelo BNDES.”

 

RNP: Como os movimentos sociais devem seorganizar diante do poderio das grandes corporações?

 

 KK:Precisamos denunciar e dar voz a esses grupos que estão sendo impactados. Épreciso articular as diferentes lutas em torno de uma luta só. Afinal, estamoslutando pelo mesmo motivo. Por condições de vida digna, por um meio ambientesaudável, por distribuição de riqueza, pela não-exploração do trabalho. Parecemlutas distintas, mas é uma luta só.