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Podcast Estúdio CUT traz a história da Pesquisa Nacional da Cesta Básica do Dieese

No novo episódio, a economista Patrícia Costa, do Dieese, conta a história da pesquisa criada em 1959, sua relação com o salário mínimo e o papel estratégico para o movimento sindical e políticas públicas

Publicado: 03 Setembro, 2025 - 19h57 | Última modificação: 04 Setembro, 2025 - 07h59

Escrito por: Redação CUT

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O mais novo episódio do Podcast Estúdio CUT traz como convidada Patrícia Costa, economista do Dieese e supervisora da Pesquisa Nacional da Cesta Básica, para uma conversa sobre um dos levantamentos mais tradicionais e relevantes do país. Criada em 1959, a pesquisa nasceu a partir de um decreto de 1938 que estabelecia os alimentos essenciais para garantir saúde e dignidade aos trabalhadores e serviu como base para o cálculo do salário mínimo em 1940. Desde então, a cesta básica se tornou referência para medir o custo de vida da população, acompanhar a evolução dos preços de produtos fundamentais e subsidiar negociações coletivas, políticas públicas e o debate sobre o poder de compra no Brasil.

Veja o vídeo 

 

Disponível no Youtube da CUT

Mais sobre a pesquisa

Durante a entrevista, Patrícia Costa resgatou a história da pesquisa, lembrando que sua primeira aplicação ocorreu em São Paulo, em 1959, quando o Dieese começou a medir o custo real de vida dos trabalhadores. Na época, havia uma desconfiança generalizada de que os índices oficiais de inflação não correspondiam ao cotidiano das famílias, o que motivou o movimento sindical a criar seu próprio instituto de estatística. Assim nasceu o Dieese, com a missão de produzir informações confiáveis a partir da realidade das trabalhadoras e trabalhadores.

Inspirada no decreto de 1938, que listava grupos de alimentos essenciais e associava seu custo ao cálculo do salário mínimo, a pesquisa passou a acompanhar os preços de uma cesta de produtos básicos. Entre eles estão carne bovina, arroz, feijão, leite, pão, café, tomate, banana e outros alimentos que, somados, garantem uma dieta mínima de cerca de 2.500 calorias por pessoa. O levantamento é feito mensalmente de forma presencial em padarias, feiras, açougues e supermercados, permitindo calcular o preço médio da cesta em cada capital pesquisada.

Patrícia explicou que a pesquisa ganhou relevância justamente por aproximar estatísticas e realidade. “Ela mostra de forma prática como os preços mudam e impactam diretamente o bolso da classe trabalhadora”, afirmou. Além de permitir ao consumidor perceber aumentos ou quedas de preços de itens fundamentais, a pesquisa revela as diferenças de custo de vida entre regiões. Em São Paulo, por exemplo, a cesta básica historicamente se mantém como uma das mais caras do país, enquanto em outras regiões os valores podem variar bastante devido à produção local, logística e hábitos alimentares.

O salário mínimo necessário

Um dos temas centrais do episódio foi a relação da pesquisa com o cálculo do salário mínimo necessário, indicador elaborado pelo Dieese desde o início da década de 1980. A ideia surgiu porque, embora o salário mínimo fosse criado para garantir renda digna às famílias, sua política de reajustes durante a ditadura militar passou a ser usada como instrumento de controle da inflação, reduzindo sistematicamente o poder de compra dos trabalhadores.

O estudo do Dieese parte do valor da cesta básica mais cara entre as capitais pesquisadas e multiplica esse valor por três, para estimar o gasto de uma família de quatro pessoas com alimentação. A partir daí, calcula os demais gastos — saúde, educação, habitação, transporte — com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. O resultado é um salário mínimo ideal, que hoje gira em torno de R$ 6.900 a R$ 7.000, muito acima do valor oficial em vigor.

“O salário mínimo necessário mostra, na prática, quanto deveria ser pago para que uma família tivesse condições dignas de sobrevivência, como prevê a Constituição”, explicou Patrícia. Esse indicador se tornou referência para negociações coletivas e instrumento fundamental na luta sindical por valorização salarial.

Ampliação para as 27 capitais

O episódio também destacou uma conquista recente: a ampliação da pesquisa para todas as 27 capitais brasileiras. Até dezembro de 2023, o levantamento era realizado em 17 cidades. Com a parceria firmada entre Dieese e Conab, em 2024 a cobertura se tornou nacional. Isso permite conhecer melhor a realidade de regiões antes pouco monitoradas, como a Amazônia, onde fatores como transporte e distribuição encarecem os alimentos.

Segundo Patrícia, a ampliação já revelou resultados importantes. Em estudos comparativos que utilizaram as mesmas quantidades e produtos em todas as capitais, Fortaleza aparece como a terceira cidade mais cara do país, atrás apenas de São Paulo e Porto Alegre. “Esse dado mostra como o Brasil é diverso e como é essencial ter informações detalhadas de cada região para orientar políticas de abastecimento e renda”, destacou.

A parceria também prevê a inclusão de novos alimentos no monitoramento, levando em conta hábitos regionais, produção local, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Essa atualização dialoga com o decreto de março de 2024, que instituiu uma nova cesta básica nacional como referência para políticas públicas.

Impacto social e político

Mais do que números, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica influencia diretamente o cotidiano. Ao acompanhar preços de alimentos indispensáveis, ajuda famílias a planejarem o orçamento, orienta políticas de combate à fome e serve como ferramenta de pressão para o movimento sindical.

Patrícia lembrou que, durante a pandemia de 2020, o preço do arroz disparou devido ao aumento das exportações. “Enquanto o governo dizia que era culpa dos consumidores que estocavam arroz, a pesquisa mostrou que a alta se devia à exportação recorde. É esse tipo de dado que desmente discursos oficiais e mostra a realidade dos trabalhadores”, explicou.

A economista reforçou também a importância de acompanhar os resultados mensais. “A pesquisa baliza decisões de compra, ajuda a entender o cenário econômico e fortalece a luta por políticas públicas que garantam o direito à alimentação e à renda digna”, disse.