PIB do Brasil acima de EUA, Alemanha e Japão
Brasil está preparado para ter crescimento econômico sustentável, afirma presidente da CUT
Publicado: 11 Março, 2010 - 23h05

Como já eraesperado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 alcançou índice próximoa zero. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),a retração de 0,2% significa que o País sofreu muito menos com a crise do que naçõescomo Estados Unidos (PIB de -2,4%), Alemanha e Japão (ambas com -5%).
CUT cobrou agenda positiva, ao contrário de outras centraisA aposta do governodo presidente Lula na expansão do mercado interno e no Estado como indutor dodesenvolvimento, atuando por meio da redução de impostos, da oferta de crédito atravésdos bancos públicos e do investimento em infraestrutura, mostrou-se acertada.
Porém, é precisolembrar que nem todos apostavam nessa saída. Alguns, inclusive representantesde trabalhadores, defenderam uma agenda negativa que incluía a flexibilizaçãode direitos e a redução de salários.
Em entrevista aoPortal Mundo do Trabalho, o Presidente Nacional da CUT, Artur Henrique, falasobre o PIB, a luta da CUT pelo desenvolvimento contínuo e destaca o embatepolítico por um modelo de desenvolvimento inclusivo e democrático.
Portal Mundo do Trabalho – Apesar da queda de 0,2%, oPIB brasileiro foi o sexto maior entre os países do G20 (grupo das principaiseconomias mundiais). Como você avalia esse índice?
Artur Henrique – Paraquem previa uma catástrofe, o resultado é desanimador e isso se deve a um conjuntode fatores. Primeiro, a postura dascentrais sindicais, especialmente da CUT, em cobrar durante a crise,principalmente a partir de setembro de 2008, uma agenda positiva por partetanto de empresários quanto do governo. Nós precisávamos enfrentar a crisefortalecendo o mercado interno e isso dependia de algumas ações que já vínhamosdebatendo como valorização do salário mínimo, as políticas públicas e sociaisimplementadas pelo governo Lula e a liberação e aumento do crédito.
Inicialmente, os bancos privados dificultaram o acessoao crédito. Como foi possível reverter essa situação?
Artur – Ascentrais sindicais tiveram que pressionar muito o governo para que liberasse ocrédito compulsório que ficava retido no Banco Central (BC). E mesmo quando o BCliberou, os bancos privados passaram a segurar esse dinheiro, emprestandoapenas para quem tinha risco próximo de zero, como grandes empresas, excluindo assimas micro e pequenas. Quem teve de intervir na economia, não apenas comoindutor, mas também executor do desenvolvimento foi o Estado brasileiro,pressionado pela CUT e pelas demais centrais sindicais. A partir daí, passamosa ver a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, programas como Minha Casa, MinhaVida, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a redução de impostos comcontrapartida de geração de emprego incentivando o investimento eminfraestrutura. A CUT sempre afirmou, ao contrário de outras centrais, que acrise era grave, mas que o Brasil tinha condições de enfrentar de formadiferente por conta do enorme mercado interno. Tudo isso foi formando uma ondade otimismo contra uma imprensa que vendia uma agenda negativa.
Quem esteve ao lado da CUT nessa iniciativa?
Artur – Nós tivemos apoio de muitosempresários no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e dogoverno para implementar essas políticas, que fizeram o Brasil entrar maistarde nessa crise e sair mais cedo. Quando olhamos hoje o resultado do PIBpróximo de zero, você pensa que o País não cresceu, mas observa os países daEuropa e mesmo em alguns países na Ásia você observa uma situação muito mais delicada.Na média, a União Européia descreu -4% em relação a 2008, todo mundo sofreu coma crise. O Brasil sofreu menos e está preparado para ter um crescimentoeconômico em 2010 que eu espero seja longo, sustentável, de 5% a 6%.
CUT cobrou agenda positiva, ao contrário de outras centraisQuais os problemas que o Brasil ainda precisar resolverpara crescer a longo prazo?
Artur – Estamos vivendo um momentomuito rico para discutir o modelo de desenvolvimento que queremos. Os modelosexistentes no mundo até então foram todos derrubados. Caiu o muro de Berlim, ecom a crise de setembro de 2008, caiu o muro de Wallstreet. Aquela idéia de que o mundo só tinha um modelo em que omercado iria resolver todo os problemas também ruiu. O papel do Brasil e daAmérica Latina é demonstrar que podemos criar formatos democráticos, que nãoapostem apenas em crescimento econômico, mas em desenvolvimento com inclusãosocial, distribuição de renda, valorização do trabalho e preocupação comsustentabilidade ambiental. Nesse debate, fica cada vez mais claro queprecisamos garantir o pleno emprego para poder dar conta de colocar a questãodo trabalho no centro do debate do modelo de desenvolvimento.
Em relação a essa questão, qual a importância daredução da jornada?
Artur – Não dá mais para ter umasociedade onde as pessoas vivam para trabalhar. Devemos ter uma sociedade emque as pessoas tenham mais tempo para lazer, para cultura, para viver com afamília. Por que um estudante no Brasil precisa começa a trabalhar com 17 anosde idade para aumentar a renda de sua família e não considerar a educação até ofim da universidade também como sendo trabalho? O período de estudo em umcolégio ou universidade pública deve ser considerado como se estivesse trabalhandopara o conjunto da sociedade. Claro que estou falando sobre uma sociedadeideal, sobre controle de qualidade da educação no Brasil e não esse modelo emque aprova o piso salarial, mas o professor precisa trabalhar em quatro lugaresdiferentes para ter um salário decente, sem tempo de preparar a aula. Queremosum projeto de desenvolvimento a longo prazo e por isso estamos discutindo aPlataforma de Desenvolvimento da Classe Trabalhadora.
CUT cobrou agenda positiva, ao contrário de outras centraisVocê acha que o parlamento já foi convencido daimportância da redução da jornada?
Eu acho que não. Se o Michel Temer colocar o projeto da redução da jornada emvotação, nós teremos 90% dos votos, porque nenhuma dos candidatos daquela Casavai votar contra os trabalhadores em ano eleitoral. Podemos ter algunsparlamentares, a minoria, comprometidos com os trabalhadores, mas a grandemaioria foi financiada por empresas privadas e na hora de escolher entretrabalhadores e empresas privadas, se não houver uma grande pressão da classetrabalhadora, vão escolher quem paga a campanha. Hoje, a disputa que temos noCongresso é entre nossa capacidade de mobilização e a capacidade de financiar acampanha eleitoral. Enquanto não houver reforma política que faça com que oscandidatos se elejam a partir de suas propostas e com financiamento público,viveremos essa situação. A luta é muito desigual porque o número de deputados esenadores vinculados aos trabalhadores é muito menor do que aqueles vinculadosao agronegócio, ao sistema financeiro. Esse pessoal não quer que ostrabalhadores avancem.
Depois da aposta do governo Lula no Estado indutor dodesenvolvimento ainda há espaço para quem defende o Estado Mínimo no Brasil?
Artur – Esse debate já não deveriaser o principal, mas por conta de uma parte da mídia ele ainda persiste. OEstado deve ser ao mesmo tempo indutor, regulador, executor e promotor dodesenvolvimento. O exemplo dos bancos públicos que eu citei e do BNDES (BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social) investindo na iniciativaprivada mostram que o papel do Estado executor é fundamental. Não aquele Estadocentralizado, que decide tudo, mas principalmente planejador. Quando você ouve analistaseconômicos na linha do Sardenberg (comentarista da TV Globo) falarem sobrepaíses como Portugal, Itália e Grécia, que foram muito mais afetados pela crisedo que o Brasil, eles sempre culpam o que chamam de gastança do Estado, porque elestêm uma visão de que o Estado não pode ter sistema de proteção social. Elesacham que essa proteção deve caber apenas a quem ganha um, dois, três saláriosmínimos e o resto da população que se vire para ter educação privada, pagar umplano de saúde.
A CUT defende o inverso?
Artur – Nós queremos um sistema deseguridade social, de educação, de saúde que sejam universais e de boaqualidade. Mas, para isso você precisa ter funcionários públicos contratados ecom ganhos e estrutura compatíveis com sua função no País todo. Quando eu ouçogente do governo dizer que devemos segurar o gasto público é sinal de que nãoestão vendo isso como investimento. Hoje temos necessidade de ter projetoporque destruíram o Estado brasileiro durante o governo do PSDB de FernandoHenrique Cardoso. A visão tucana é de que devemos ter menos Estado, menospolítica pública. Eles utilizam argumento de que não são contra Estado, mas simde que é necessário diminuir o gasto público. É o mesmo que falar que o Incradeve ter menos gente para fazer reforma agrária, que o Ministério do Trabalhotem que ter menos fiscal para combater quem vai contra a legislaçãotrabalhista. O que eles querem é totalmente diferente do que queremos.
Para presidente da CUT,"campanha contra o Brasil" feita pela mídia influenciou resultado doPIB