Parada LGBTQIA+ de Belo Horizonte vence perseguição política e leva 350 mil às ruas
CUT participou da marcha, considerada a maior manifestação da diversidade sexual e de gênero da história de Belo Horizonte. Evento superou obstáculos jurídicos e conquistou as ruas nos dias 19 e 20 de julho
Publicado: 21 Julho, 2025 - 16h09
Escrito por: Redação CUT | texto: André Accarini

Belo Horizonte (MG) viveu um momento histórico nos dias 19 e 20 de julho de 2025. A 26ª edição da Parada do Orgulho LGBTQIA+ não apenas superou todas as expectativas em termos de público - com impressionantes 350 mil participantes -, mas também se transformou em um símbolo de resistência política contra tentativas de cerceamento dos direitos da população LGBTQIA+.
A CUT teve papel fundamental na organização e realização do evento. "É o segundo ano que participamos oficialmente, e desta vez foi ainda mais organizado", destacou Walmir Siqueira, secretário de Políticas LGBTQIA+ da CUT.
No entanto, a presença da CUT não se limitou ao apoio logístico, mas incluiu participação ativa na área VIP e nas falas no caminhão de som. A participação de personalidades reforçou a dimensão política do evento. A presença da secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Ministério de Direitos Humanos, Macaé Evaristo, e da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, demonstrou o apoio institucional às causas LGBTQIA+ em contraste direto com as tentativas locais de sabotagem.
A batalha judicial que quase impediu a festa
O que deveria ser uma celebração da diversidade quase não aconteceu. Dias antes do evento, vereadores do Partido Liberal (PL), Uner Augusto e Pablo Almeida, moveram uma ação judicial questionando o repasse de verbas municipais para a realização da parada. A decisão do juiz Danilo Couto Lobato Bicalho, da 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública, limitou significativamente os recursos destinados ao evento, criando uma corrida contra o tempo para os organizadores.
A ação apresentada pelos dois vereadores sustentou que há irregularidades no repasse, questionando a ausência de chamamento público para a escolha do organizador da Parada do Orgulho LGBTQIA+. No entanto, para os organizadores e participantes do movimento, ficou claro que por trás das alegações administrativas existia uma clara perseguição política.
"Foi uma luta intensa, mas a organização conseguiu garantir o evento", relatou Walmir Siqueira, secretário de Políticas LGBTQIA+ da CUT, que esteve presente durante toda a mobilização. A declaração evidencia como a pressão política não conseguiu abalar a determinação do movimento em realizar uma das principais manifestações de visibilidade LGBTQIA+ do país.
Histórico de perseguição
Esta não foi a primeira vez que a Parada LGBTQIA+ de Belo Horizonte enfrentou obstáculos políticos. Segundo informações dos organizadores, "todos os anos, o Cellos-MG é alvo de ataques de vereadores alinhados a essa ala conservadora da Câmara Municipal de BH, especialmente perto da data da Parada LGBTQIA+".
O padrão de perseguição revela uma estratégia sistemática de grupos conservadores em utilizar a população LGBTQIA+ como "bode expiatório" em disputas políticas mais amplas. Como declararam os organizadores: "Essa ação, para nós, evidencia que nós, pessoas LGBTQIA+, viramos escada para esse jogo sujo que discute no campo moral".
A tentativa de judicialização da parada faz parte de um fenômeno nacional mais amplo. Organizações de direitos LGBTQIA+ em todo o país têm denunciado que "paradas LGBTQIA+ viram alvo de perseguição política no Brasil", demonstrando que o caso de Belo Horizonte não é isolado.
Marcha das Feminilidades
Um dos grandes diferenciais da edição 2025 foi a criação da 1ª Marcha das Feminilidades Lésbicas e Trans, realizada no sábado (19 de julho). Esta iniciativa pioneira representou um marco importante ao incluir especificamente mulheres trans e reafirmar a diversidade dentro do próprio movimento LGBTQIA+.
A marcha contou com apoio fundamental de sindicatos, especialmente o dos professores, que cedeu um caminhão para garantir a realização do evento. Este gesto de solidariedade demonstrou como a luta por direitos LGBTQIA+ transcende as fronteiras do próprio movimento, encontrando eco em outras categorias organizadas.
O Festival Fuzuê, também realizado no sábado, ofereceu uma programação cultural diversificada com shows e atrações de artistas locais, criando um ambiente de celebração que antecedeu a grande manifestação do domingo.
Impacto estadual e nacional
O sucesso da Parada de Belo Horizonte reverberou muito além das fronteiras da capital mineira. Walmir Siqueira destacou "a pluralidade do movimento com a participação de novas entidades e a força de cidades do interior mineiro, que se inspiram na capital para realizarem suas marchas".
Este efeito multiplicador demonstra como eventos de grande porte em capitais servem como catalisadores para movimentos similares em cidades menores, ampliando o alcance da luta por direitos LGBTQIA+ em todo o estado.
Recorde
O número impressionante de 350 mil participantes representa muito mais do que um recorde de público. É uma resposta contundente às tentativas de silenciamento e uma demonstração inequívoca de que a sociedade brasileira, em sua diversidade, repudia qualquer forma de discriminação.
A realização bem-sucedida da parada, apesar dos obstáculos jurídicos e da redução orçamentária, evidencia a força organizativa do movimento LGBTQIA+ e de seus aliados. Mais do que isso, representa uma vitória da democracia sobre tentativas autoritárias de cerceamento de direitos fundamentais.
O evento de Belo Horizonte se consolida, assim, não apenas como a maior Parada LGBTQIA+ da história da cidade, mas como um marco na resistência política contra a perseguição sistemática aos direitos da população LGBTQIA+ no Brasil. Em tempos de crescente polarização política, a festa da diversidade nas ruas de BH enviou uma mensagem clara: a democracia e os direitos humanos prevalecerão sobre qualquer tentativa de retrocesso.