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Para CUT, tarifas de Trump são ofensiva contra soberania e apoio à extrema direita

Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, afirma que tarifaço imposto pelos Estados Unidos tem forte cunho ideológico e influência da família Bolsonaro

Publicado: 06 Agosto, 2025 - 17h55 | Última modificação: 06 Agosto, 2025 - 18h18

Escrito por: André Accarini

André Accarini
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A imposição de tarifas sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que entraram em vigor nesta quarta-feira (6), tem como principal motivação a defesa não apenas do ex-presidente Jair Bolsonaro como da extrema direita na América Latina. A afirmação é do secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, que enxerga no tarifaço de Trump uma forma de retaliação ao Brasil e à Justiça brasileira.

“Muito se fala sobre esse tarifaço ser uma maneira de Trump ameaçar e chantagear o Brasil pela atuação dos BRICS, que afetaria as relações comerciais dos Estados Unidos com outros países, as big-techs, entre vários outros motivos, que até têm razão de ser mas o pano de fundo, o principal, é a articulação da família Bolsonaro nisso que podemos afirmar que é uma traição à pátria”, diz Lisboa.

Eduardo Bolsonaro, filho 03 do ex-presidente, deputado-federal cuja licença já terminou e que ainda está nos Estados Unidos é um dos principais articuladores dessa ofensiva que traz inúmeros prejuízos ao Brasil – para a economia, para empresários e para os trabalhadores.

“O gesto ultrapassa uma disputa comercial e se insere em um projeto político de longo alcance, com impactos diretos sobre a soberania brasileira e o fortalecimento da extrema-direita no continente” diz o dirigente.

Ele explica que Trump quer criar as condições para ganhar as eleições intermediárias dos Estados Unidos do ano que vem, para ter a maioria no Senado e na Câmara e, assim, aprovar uma emenda constitucional que dê a ele o direito a uma nova reeleição.

“A meta de Trump, portanto, passa por fortalecer uma rede de apoio internacional, onde o Brasil é peça-chave. Ele quer garantir que no Brasil exista o avanço da extrema-direita e que ele possa ter um suporte”, diz o secretário de Relações Internacionais da CUT.

Para o dirigente, a relação de Trump com a extrema-direita global, da qual Jair Bolsonaro é um dos principais expoentes, tem papel determinante nesse cenário.

"A questão do Bolsonaro para essa estratégia do Trump, inclusive da sua reeleição, ela é fundamental e é mais urgente e Trump aposta na aplicação de tarifas como uma forma de angariar apoio nas eleições legislativas de 2026”.

Família Bolsonaro: elo com o trumpismo

A presença da família Bolsonaro nesse xadrez político-ideológico é descrita por Lisboa como estratégica para os interesses de Trump e da extrema-direita global. "Trump enxerga a situação do Bolsonaro como ele esteve. Se a gente for ver do ponto de vista cronológico, as coisas sempre acontecem dois anos antes: ele perde as eleições, depois invade o Capitólio. O Bolsonaro perde as eleições, depois invade a Praça dos Três Poderes."

Para o secretário da CUT, o apoio de Trump à figura de Bolsonaro — ainda que dissimulado — visa garantir a continuidade de uma base política alinhada aos interesses da extrema-direita nos EUA e na América Latina. “A gente pode dizer que ele [Trump] está defendendo, na verdade, não o Bolsonaro, mas a extrema-direita no Brasil. É um projeto, é parte de um projeto.”

Lisboa também comenta o papel de Eduardo Bolsonaro nas articulações com o trumpismo. “O que o Eduardo Bolsonaro está fazendo é, de fato, trabalhando contra o Brasil. Isso ele está fazendo muito bem, da cabeça dele, evidentemente, por interesses dele”, critica.

Segundo Lisboa, Eduardo Bolsonaro não possui poder de decisão no núcleo duro do governo Trump, mas atua dentro de uma rede que tem como articulador o estrategista Steve Bannon, um dos principais ideólogos da extrema-direita global.

“O Steve Bannon tem um nível de incidência no governo muito forte. Então, é uma composição dessa rede e que o Donald Trump, obviamente, é o líder principal, mas existem os estrategistas que estão por trás disso”, afirma.

Steve Bannon é um ex-executivo dos setores bancário e de mídia. Já comandou sites de ultra direita. Espécie de guru de extremistas, mantém laços estreitos com a família Bolsonaro, especialmente com Eduardo Bolsonaro. Bannon já prestou várias consultorias informais ao clã. Ele ainda criou um projeto internacional chamado “O Movimento”, para aproximar líderes populistas de direita e extremistas pelo mundo. O deputado Eduardo Bolsonaro é o representante do grupo no Brasil.

“Estão jogando a soberania do Brasil na lata do lixo”

Ao comentar a instrumentalização da política externa brasileira pelos interesses familiares dos Bolsonaro, Lisboa é enfático: “O que eles estão fazendo é, em nome da família deles, para resolver o problema dessa família, colocando o Brasil, a soberania do Brasil, enfim, deixando de lado, na lata do lixo.”

Para a CUT, a ofensiva tarifária liderada por Trump e o alinhamento dos Bolsonaro ao projeto da extrema-direita internacional configuram uma “invasão” aos interesses nacionais brasileiros, conclui Lisboa.

A Central tem reiterado sua defesa da soberania nacional e da democracia como princípios inegociáveis. Junto com as demais centrais sindicais, a CUT entregou ao presidente Lula um documento contendo propostas para enfrentar o tarifaço e Trump

O documento intitulado “Propostas das Centrais Sindicais diante da Guerra Comercial: Soberania, Emprego e Desenvolvimento” expressa preocupação com o agravamento das disputas comerciais globais, particularmente com o “tarifaço” anunciado ainda no governo de Donald Trump, que entra em vigor nesta quarta-feira (6) e impõe elevações tarifárias de até 50% sobre diversos produtos brasileiros exportados para os EUA.

As lideranças sindicais alertaram que o cenário atual representa uma ameaça direta à indústria nacional, aos empregos e à soberania produtiva do país, e defenderam um novo projeto de desenvolvimento baseado em inclusão, inovação e justiça social.

Em tempo

O tarifaço tem sido alvo de diversas interpretações sobre sua motivação real, entre elas a de que Trump estaria, na verdade, incomodado com a articulação dos BRICS, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Segundo o dirigente, ainda que os BRICS estejam no pano de fundo das decisões de Trump, a questão central é outra. "Dizem que os BRICS são o centro dessa questão, mas não é bem assim. A medida é, de fato, para pressionar o Brasil nas questões que envolvem Bolsonaro. Até por isso, ele também vem perseguindo o judiciário brasileiro, com cancelamento de vistos e a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do STF, Alexandre de Moraes”, pontua Lisboa.