Oito metros em queda livre
Mais um operário terceirizado é assassinado em obra na cidade de Campinas
Publicado: 04 Agosto, 2010 - 23h00
Mais um operário terceirizado morreu naúltima terça-feira (3), em Campinas, assassinado por homens que se dizemempresários e que, via de regra, tecem loas à “responsabilidade social” e ao “trabalhodecente”. Gedeão Fernandes dos Santos, de 33 anos, exercia sua função deajudante de pedreiro em cima de um telhado, a oito metros de altura, quandocaiu em queda livre. Segundo relatos, estava com o cinto de segurança preso...a lugar nenhum. Despencou, bateu a cabeça e morreu. O corpo ficou ali mesmo,esticado no chão. O socorro foi chamado, mas não deu tempo para nada.
Conforme os companheiros, Gedeão estavafeliz com o emprego. A obra é da Construtora Nogueira Porto, que subcontratou aSD Montagem Estrutural e Metálica Ltda, que alçou o operário à altura sem lhedar qualquer treinamento ou instrução. Nem a mais básica. Além de lhe ternegado o direito a informações básicas, as empresas o lançaram ao ar sem nem sequerlhe terem feito o exame admissional. Não sabiam se poderia executar o trabalhoem altura, algo que é vedado a epilépticos, por exemplo.
DESPREZO- Deacordo com o secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias daConstrução e Mobiliário de Campinas e região, Francisco Aparecido da Silva (Chico),este é o sexto operário do setor que morre apenas neste ano na cidade. “Todoseles eram terceirizados. No caso de Gedeão, ele inclusive estava com o cinto desegurança, mas não estava preso, o que demonstra o completo desprezo destes mausempresários pelo treinamento básico de quem é diretamente responsável pelosseus lucros”, condenou.
Diante da gravidade da situação, oSindicato mobilizou o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalhopara uma audiência pública no próximo dia 21 de setembro. A ideia é ampliar ocerco à precarização, pressionando também por mais fiscalização nos canteiros emaior rigor na lei, para que os assassinatos não fiquem impunes.
Como lembrou o secretário de PolíticasSociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construçãoe da Madeira (Conticom/CUT), Luiz Carlos de Queiroz, é inadmissível acontinuidade de tamanho descalabro e perversão contra a vida humana.
Operário pendurado em gambiarra no centro da capital paulistaGRAVIDADE- Relatandoque a situação é extremamente grave, Luizinho recordou que recentemente,durante reunião da CUT Nacional num hotel do centro da capital paulista, todospuderam ver um pintor dependurado a mais de 20 metros de altura em cima de umacadeira, que conforme a lei não poderia ser de madeira – como foi flagrado pelofotógrafo Dino Santos, documentando a gambiarra – mas de material apropriado eregido por rígidas normas técnicas. Da mesma forma que Gedeão, o pintor não estavapreso ao chamado “cabo da vida”, obrigatório por lei, mas apenas acopladoao mesmo cabo que segurava a cadeira, ou seja, sem função alguma de segurança. Se a cadeiradespencasse, o trabalhador iria junto.
“Lutamos por melhores condições de vida e trabalho. O país está crescendo com as obras do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida, que agora virão se somar muitas outras da Copa do Mundo de2014 e das Olimpíadas de 2016. É preciso agir rápido para garantir segurança, que a fiscalizaçãoesteja à altura da vida e os crimes não fiquem sem castigo“, declarou Luizinho,conclamando os sindicatos a ampliarem as denúncias e a voz para humanizar oscanteiros de obras.