Oficina impulsiona Plebiscito Popular e integra Eixo 2 da 17ª Plenária da CUT
Plebiscito Popular é uma ferramenta que será central na disputa de hegemonia e na articulação com a sociedade civil ao longo de 2025
Publicado: 26 Junho, 2025 - 13h52 | Última modificação: 26 Junho, 2025 - 15h16
Escrito por: Luiz R Cabral | Editado por: Rosely Rocha

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) por meio de sua Secretaria de Formação iniciou na noite de quarta-feira (25/06), com apoio de diversas organizações sociais, uma nova etapa de mobilização em torno do Plebiscito Popular, ferramenta que será central na disputa de hegemonia e na articulação com a sociedade civil ao longo de 2025. A estratégia foi incluída no planejamento da entidade e integra o Eixo 2 da Plenária Nacional, com foco na formação, na mobilização de base e no fortalecimento do diálogo com os trabalhadores. Os temas trabalhados nessa oficina foram: escala 6x1 e isenção do imposto de renda para quem tem renda de até R$ 5 mil mensais.
O encontro foi virtual e teve o objetivo de qualificar a militância sindical para atuar diretamente nos territórios. Participam integrantes da Rede Nacional de Formação, cursistas das Escolas Sindicais do Curso de Formação de Formadores e Formadoras Continuado (FFC), secretários estaduais de formação e representantes de coletivos que compõem a estrutura de base da CUT. A ação marca um esforço concentrado rumo à consolidação do plebiscito popular como instrumento de escuta e construção coletiva.
Durante a abertura, a secretária de Formação da CUT, Rosane Bertotti, destacou o papel estratégico da formação sindical na construção do plebiscito: “Nossa metodologia de trabalho de base é parte essencial dessa mobilização. Estamos nos somando a um grande mutirão nacional para dialogar diretamente com os trabalhadores e trabalhadoras”.
Contexto político e urgência do debate
Milton Rezende (Miltinho), secretário nacional de Mobilização da CUT, abordou a conjuntura política. Em sua fala, destacou os desafios impostos pelo avanço da extrema direita e pela tentativa de desarticulação das organizações populares.
“O plebiscito não é apenas uma consulta. É uma resposta política ao autoritarismo e à desinformação”, e completou: “A gente sabe que o plebiscito, por si só, não vai mudar a correlação de forças nem a conjuntura. Não é essa a nossa intenção. Mas ele é uma oportunidade importante para criar um ambiente de diálogo político com a sociedade. A ideia é ir aos locais de trabalho, às feiras, às igrejas, aos territórios e conversar com as pessoas sobre os temas que escolhemos: a redução da jornada de trabalho sem corte de salário e o fim da escala 6x1 — uma bandeira histórica da CUT”.
Histórico e papel do Plebiscito Popular
Rosilene Wansetto, do Jubileu Sul, foi convidada a apresentar um panorama histórico do plebiscito no Brasil e explicar seus objetivos. Segundo ela, o instrumento tem papel pedagógico e político, funcionando como ferramenta de conscientização e participação popular. “
“O plebiscito é um processo de escuta, mas também de formação. Ele ajuda o povo a entender o que está em jogo nas grandes decisões do país”, afirmou.
A proposta atual busca mobilizar trabalhadores em torno dos temas, com perguntas claras e acessíveis. A ideia é transformar o plebiscito em um grande exercício nacional de democracia direta, articulando redes, sindicatos, coletivos e movimentos populares.
Formação como eixo estruturante
A oficina foi dividida em quatro etapas: leitura da conjuntura, apresentação dos objetivos e do histórico dos plebiscitos no Brasil, exposição dos temas e perguntas que nortearam o processo e definição das tarefas organizativas nos territórios. Essas atividades preparam os cursistas a realizarem uma intervenção inter-módulos nos sindicatos, ampliando o alcance da proposta nos estados e ramos.
CUT aposta no Programa Formigueiro para fortalecer diálogo e mobilização popular
A oficina teve também, foco organizativo e formativo, baseado no Programa Formigueiro — estratégia de formação inspirada no trabalho coletivo e persistente das formigas. A proposta busca ampliar o diálogo com a classe trabalhadora, fortalecer a organização nos territórios e estimular a ação política de forma contínua.
Voltado à atuação em bairros, periferias e locais de trabalho, o programa tem como meta estruturar a mobilização popular e interferir nos rumos do país. A oficina apresentou os fundamentos do Formigueiro e orientações práticas para sua aplicação nos estados e ramos sindicais, integrando a estratégia nacional da CUT para o Plebiscito Popular e demais ações de base.
Calendário de mobilização para o Plebiscito Popular e intensifica ações de base
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou o cronograma de mobilização para o Plebiscito Popular, que será realizado nos próximos meses com foco na ampliação da participação social e no fortalecimento do trabalho de base. A programação inclui mutirões de votação, atividades formativas e ações de comunicação articuladas em todo o país.
A votação começa oficialmente em 1º de julho, com o primeiro mutirão de coleta de votos previsto entre os dias 1º e 6 de julho. A segunda mobilização ocorre de 25 a 27 de julho, seguida por um novo esforço entre os dias 29 e 31 de agosto. O ponto alto da campanha será a Semana Nacional de Mobilização, de 1º a 7 de setembro, quando estão previstas grandes votações em praças, escolas, feiras e locais de trabalho.
Formação e engajamento digital
Paralelamente às ações presenciais, a CUT promoverá cursos de formação online ao longo do mês de julho, com o objetivo de qualificar a militância para o diálogo com a população. Os conteúdos abordarão os principais temas do plebiscito, suas perguntas e a importância da consulta como instrumento de pressão política e conscientização.
Para ampliar o alcance das ações, os organizadores orientam a criação de grupos locais de apoio, além do uso intenso das redes sociais. A recomendação é que as atividades sejam registradas com as hashtags oficiais e marcadas nos perfis @cutbrasil e @plebiscitopopular. Materiais de apoio, como playlists, apresentações e conteúdos explicativos, já estão disponíveis para facilitar a organização das equipes em todo o país.
Caminho coletivo
Rosane encerrou a abertura do evento reforçando que o sucesso da mobilização depende da atuação conjunta e solidária dos coletivos. “Não se trata apenas de formar opinião. É tempo de caminhar junto, construir base e disputar rumos”, afirmou. A fala ecoa uma convicção partilhada entre os presentes: a de que a luta é popular, coletiva e possível de ser vencida.
Acesse o site da 17ª Plenária João Batista Gomes. Clique aqui.
Acesse o material completo apresentado na oficina. Clique aqui.
Reforma trabalhista flexibilizou jornada e agravou desigualdades tributárias
A ampliação do trabalho aos domingos e a consolidação da jornada 6x1, após a reforma trabalhista de 2017, do governo Michel Temer (MDB) provocaram mudanças profundas na rotina de milhões de brasileiros. A flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permitiu que o domingo fosse incorporado como dia útil, sem os acréscimos salariais que antes compensavam o impacto desse tipo de escala. A medida enfraqueceu o direito ao descanso semanal preferencialmente aos domingos, afetando tanto a renda quanto a vida social do trabalhador.
A chamada jornada 6x1, em que se trabalha seis dias com folga apenas no sétimo, tornou-se mais comum. Antes da reforma, essa configuração exigia compensações, como adicional de até 100% por hora trabalhada aos domingos e pelo menos um domingo de descanso mensal. Hoje, sem limites legais claros, o domingo passou a ser tratado como qualquer outro dia, o que gerou perda salarial e desestruturação da vida familiar.
Segundo análise feita por Leandro Horie, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) , o modelo 6x1 compromete também a convivência social. "A dificuldade de conciliar folgas com a rotina dos familiares, que descansam nos fins de semana, gera isolamento", explica.
O problema se soma a outra questão estrutural: a injustiça tributária. Enquanto menos de 1% da população recebe salários acima de R$ 50 mil, cerca de 30 milhões de brasileiros vivem com até R$ 5 mil por mês — incluindo professores, enfermeiros e demais profissionais essenciais. No entanto, esse grupo arca com maior carga tributária proporcional, já que a maior parte dos impostos incide sobre o consumo.
A disparidade fica evidente quando se compara a tributação sobre o trabalho e sobre o capital. Assalariados têm imposto de renda retido na fonte, enquanto executivos que recebem dividendos de ações — forma comum de remuneração no alto escalão financeiro — são isentos.
"Isso significa que o trabalhador paga proporcionalmente mais do que quem acumula patrimônio", afirma Leandro.
Nesse contexto, ganha força a defesa da isenção de imposto de renda para salários de até R$ 5 mil, com redução progressiva para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. No entanto, a proposta só será viável com a taxação dos super-ricos. Caso contrário, a medida pode resultar em cortes de recursos em áreas como saúde e educação. “Sem reformar a tributação sobre os que mais ganham, não há como sustentar uma política fiscal justa e que mantenha os serviços públicos essenciais”, conclui.