O que incomoda a elite é empoderamento que Lula proporcionou ao povo
Para a chefe de cozinha paulistana, Bel Coelho, "a elite não admite o empoderamento de toda uma classe que não tinha comida, não tinha água, não tinha acesso à educação, jamais teve um filho na universidade"
Publicado: 13 Abril, 2018 - 16h38 | Última modificação: 13 Abril, 2018 - 16h52
Escrito por: João Marcelo B. Cardoso, do Sindicato dos Bancários de Curitiba

A chef de cozinha Bel Coelho, que está no Acampamento Lula Livre, em Curitiba, para saudar as cozinheiras e falar sobre a importância do voto consciente para cargos do Legislativo, além da luta pela liberdade de Lula e o direito do ex-presidente ser candidato nas eleições deste ano
No local, a chefe de cozinha paulistana deu uma entrevista ao Portal CUT, onde falou sobre a manipulação da grande imprensa que está tentado, de todo jeito, colocar os vizinhos do acampamento, montado nas proximidades da sede da Polícia Federal, contra os acampados, disse que o que viu lá foi uma convivência pacífica e democrática e luta coletiva. Ela falou também sobre a seletividade da Operação Lava Jato e disse que a perseguição ao ex-presidente Lula por parte da mídia e do Judiciário e sua prisão política mostram que a elite não admite o empoderamento de toda uma classe que não tinha comida, não tinha água, não tinha acesso à educação, jamais teve um filho na universidade.
Tudo isso é um símbolo contra esse feito, que foi fundamental. Estamos retroagindo, infelizmente
Confira e íntegra da entrevista:
Portal CUT: Como você avalia a cobertura da imprensa comercial sobre o acampamento Lula Livre, em especial no que se refere a convivência entre os acampados e vizinhos que, segundo a grande imprensa, estariam com receio dos acampados?
Bel Coelho: Estou vendo um acampamento extremamente pacífico, sem embates. O que vi foi um povo em paz, simplesmente lutando pelo que acredita dentro do que está previsto, inclusive, na nossa democracia e na nossa Constituição. Não vi absolutamente nada de errado e sei que qualquer coisa contrária a isso é manipulação das grandes mídias. Não vi absolutamente nenhuma atitude que incitasse violência. Qualquer narrativa contrária a isso é de má fé, ignorância ou manipulação. Convido qualquer um que venha visitar, inclusive os que pesam o contrário.
Portal CUT: O que você esta vendo ao andar pelo acampamento e conversar com os acampados?
Bel Coelho - Estou vendo a cara do povo brasileiro. Esse é o povo brasileiro. Extremamente organizado, feliz, limpo, pacífico, alegre e solar, com a cara do que eu acredito ser o povo brasileiro.
Portal CUT: E sobre a luta que eles estão fazendo pela liberdade do ex-presidente Lula, o que você tem a dizer?
Bel Coelho - É um movimento lindo, que representa muito, que representa a força que o Lula teve no Brasil, a mudança que o Lula representou e que está sendo destruída com todo esse processo. A gente vai ter um retrocesso, aliás, já estamos tendo um retrocesso muito grande nas conquistas sociais, na educação, no desenvolvimento em geral.
Portal CUT: Fale um pouco mais sobre o que o ex-presidente Lula representou para a classe trabalhadora e o povo mais pobre deste país, a partir de sua experiência pessoal?
Bel Coelho: Eu viajei o Brasil inteiro fazendo meu programa, visitei comunidades muito pequenas, ribeirinhos, indígenas, o sertão do Brasil. Foi, mais ou menos, em 2013, então estávamos vendo a influência que o governo Lula exerceu nessas regiões e é monumental o que isso [as políticas econômicas e sociais implantadas no governo do ex-presidente] mudou na vida dessas pessoas. Elas passaram a ter geladeira, os filhos passaram a poder ir para escola. Ninguém me falou, eu vi. E, eu queria deixar muito claro que eu venho de uma família rica, sou branca, da elite e minha intenção nisso tudo é justamente contribuir para diminuir esse abismo dessa desigualdade social.
Portal CUT: Vinda de uma família rica, como você conseguiu enxergar as necessidades, sonos e anseios da população mais pobre e como isso mexeu com você?
Bel Coelho: A gente não sabe o que o povo quer até entrar [em seu mundo, em suas casas] e conversar com eles. A gente não sabe o que a periferia quer até entrar e conversar com ela. Assistindo da televisão a gente nunca vai saber o que realmente essas comunidades querem. Sinto-me em dívida e responsável por essa desigualdade, até porque estou na ponta privilegiada. Vou lutar até o fim dos meus dias para diminuir isso dentro das minhas possibilidades. Acho que essa é uma dívida de todos. Alguns têm essa consciência, outros não e aí vamos tentado influenciar, fazer tudo que a gente pode para mudar.
Portal CUT: O que você espera dessa luta para pagar essa dívida histórica com o povo mais pobre desse país?
Bel Coelho: Que mais pessoas entrem nesse movimento. Um mundo mais justo é bom para todo mundo, vamos nos sentir menos inseguros, com menos assaltos, menos violência. Não consigo entender o porquê das pessoas não enxergarem essa relação.
Portal CUT: E o que você está fazendo para isso acontecer?
Bel Coelho: Tenho tentado fazer na minha vida, no meu microcosmo, coisas que diminuam esse Apartheid [separação] invisível que existe no Brasil. Mas, não é fácil. A elite tem muito medo de perder privilégios, é um medo muito louco de não ter alguém para limpar a própria privada. Então, eu acho que precisamos lutar para diminuir esse abismo, e é o que estou tentando fazer na minha vida.
Portal CUT: E o que mais pode ser feito para o Brasil ser uma Nação mais justa e para todos?
Bel Coelho: Com relação ao campo, a gente precisa se juntar para votar em deputados federais, estaduais e senadores que eles defendam as pautas ligadas à agricultura agroecológica, manejo orgânico, com manejo sustentável, que levantem essas bandeiras, que lutem por vocês. É o que vou e pretendo fazer. Vou lutar. Nas cidades, que lutemos por interesses da periferia. Acho que discussão agora é muito sobre o Legislativo. Mas, a gente precisa, obviamente, pensar no Executivo [presidente da República e governadores] e também fazer nossas campanhas para os nossos candidatos.
Acho que a conversa diária não é mais só para defender a legalidade, o Lula livre. É, sobretudo, para defender candidaturas de pessoas que levantem as bandeiras de interesse do povo, do país. Precisa ser no corpo-a-corpo, procurar saber em quem as pessoas vão votar. Não votar na legenda. Tentemos descobrir a pauta do deputado federal que você está votando, essa é a importância. Você precisa saber em quem está votando no legislativo. Eu estou muito nessa campanha.
Portal CUT: E sobre Operação Lava Jato, apontada como a maior operação contra a corrupção do Brasil, o que você acha?
Bel Coelho: Eu acho a Lava Jato extremamente seletiva e arbitrária, no caso do Lula, especificamente tem cunho político. Eles queriam que ele estivesse fora dessa eleição. É um medo tremendo da força do Lula. Ele provavelmente ganharia, ou levaria as eleições para o segundo turno. E acho que continuará sendo seletiva. Vamos ver muitas coisas injustas acontecendo ainda, infelizmente.
Portal CUT: E sobre as decisões da Justiça?
Bel Coelho: Ainda sobre a operação, gostaria de dizer que não sou contra a Lava Jato, essa coisa de uma investigação profunda das confusões que envolveram todas essas esferas se fazem necessárias, seguem necessárias. Mas, não podemos ter um [Poder] Judiciário parcial, um juiz parcial com interesses políticos. Eu acho que em outro país, um juiz não janta com político do Executivo ou do Legislativo. Isso é uma falta de respeito com o povo, na minha opinião.
Portal CUT: Agora, sobre sua visita ao acampamento, que tem várias mulheres, assentadas do MST, essas máster chefs que estão fazendo milagres para alimentar centenas de pessoascom as condições que elas têm aqui, o que você tem a dizer?
Bel Coelho: Primeiro, queria prestar minha reverência e admiração por qualquer cozinheiro, mas, especialmente, às cozinheiras do nosso Brasil. Nessas condições citadas, nem se fala, né? Eu já cozinhei em muitas cozinhas, já estou há 23 anos nesse mercado. Cozinhar é muito duro, muitas horas em pé, é calor, é pressão, é medo de não dar comida, de não dar na quantidade. Então, são muito guerreiras, são heroínas, são parte fundamental da nossa cultura. É isso tento sempre valorizar nas cozinheiras, caseiras que fazem comidas regionais. Elas são fundamentais para nossa cultura