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No México, NAFTA afundou mais 4,5...

Publicado: 26 Outubro, 2009 - 12h16

Escrito por: Hedelberto López Blanch

O Portal do Mundo do Trabalho reproduz abaixo artigo do jornalista cubano Hedelberto López Blanch sobre os custos da submissão política e econômica do governo mexicano aos Estados Unidos, país de onde provêm 80% das importações do país com a implantação do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte). Com a crise que devastou a economia norte-americana, mais de 4,5 milhões de mexicanos foram levados à pobreza, situação em que encontram-se mergulhados hoje 55,1 milhões, ou 51,3% do total da população, estimada em 107,4 milhões de habitantes.

México: o enorme custo do Tratado de Livre Comércio da América do Norte

Hedelberto López Blanch

Um velho provérbio diz que "guerra avisada não mata soldado", mas os governantes mexicanos, por mais que alertados, continuaram adiante com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) que tem impulsionado a desigualdade e a pobreza do povo.

Em dezembro de 1992 o presidente Carlos Salinas assinou o TLCAN, (integrado também pelos EUA e o Canadá), que entrou em vigor em janeiro de 1994, e os sucessivos chefes de Estado Ernesto Zedillo, Vicente Fox e Felipe Calderón continuaram impulsionando-o.

Duas entidades apologéticas do NAFTA como o Grupo de Diários América (GDA) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ofereceram um panorama desalentador para o México ao apontar que a economia retrocederá este ano 7,2 % em relação a 2008.

Porém, o mais significativo é que os dois entes acrescentaram que o país está pagando com acréscimos sua dependência do comércio com os Estados Unidos, que desabou por conta da recessão que enfrenta.

Enquanto o FMI acrescenta que outro dos fatores foi a queda nas entradas pelas exportações de petróleo, que provocou uma deterioração drástica nos balanços fiscais, o GDA diz que nos primeiros sete meses do ano o gasto total em investimento físico foi de 20,7 bilhões de dólares, a metade do previsto inicialmente.

O Banco Mundial (BM) informou que a recessão econômica afundou este ano na pobreza a outros 4,5 milhões de pessoas, somados aos quase 6 milhões que tinham passado a esse patamar entre 2006 e 2008.

Dados do oficial Conselho Nacional de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social (Coneval) indicam que em 2008 existiam no país 50,6 milhões de pessoas na pobreza, que ao se acrescentar os 4,5 milhões deste ano, alcançam a cifra de 55,1 milhões, ou seja, 51,3 % do total da população, estimada em 107,4 milhões de habitantes.

O Coneval, que se encarrega de analisar o estado de pobreza, avaliou os anos 2007 e 2008, marcados por um aumento internacional nos preços dos alimentos e registra que no México afetou o consumo de bens básicos da população em produtos como milho, grãos e carnes que antes se produziam no país e agora dependem das importações dos EUA.

Desde a assinatura do NAFTA, o México tem se convertido em apêndice do vizinho do norte, que o utiliza para obter mão-de-obra barata, extrair seu petróleo a preços preferenciais, exportar os excessos de produções norte-americanas e, ao mesmo tempo, contar com um governo afim a seus interesses.

Calcula-se que cerca de 80 % das importações mexicanas provêm do Norte, enquanto que 60% de suas exportações vão para esse mercado, que as têm limitado pela grave crise que padece.

Os acordos de livre comércio tripartites abriram as portas às companhias transnacionais e ao capital privado, que têm comprado a baixos preços empresas produtivas, de serviços, minas e terras agrícolas em troca de um suposto investimento e criação de empregos.

De forma imediata, o desenvolvimento desigual entre as três nações ficou manifesto e a dependência econômica do México em relação aos Estados Unidos se ampliou progressivamente em todos os ramos da indústria, a agricultura e os serviços.

Sem criticar o NAFTA, os prognósticos negativos do FMI para o México se baseiam em que a debilidade da recuperação econômica nos Estados Unidos limitará a criação de empregos nesse país e a demanda de produtos de importação será exígua, o que limitará ainda mais as exportações astecas, além de uma forte contração nas remessas dos mexicanos que trabalham na União Americana.

O FMI acrescenta uma frase sóbria: "Isto joga pela borda os prognósticos de recuperação, que implica em um desproporcionado aumento da pobreza".

FALÊNCIA DE AGRICULTORES

O NAFTA provocou a falência dos agricultores nacionais que não podem concorrer com a entrada ao mercado mexicano de mercadorias norte-americanas muito mais baratas, devido aos grandes subsídios que essa nação outorga a seus produtores.

Os camponeses abandonam suas terras e junto com a família vão para as cidades em busca de um idílico trabalho muito difícil de encontrar, pois dados de organizações não-governamentais indicam que, nos centros urbanos, 70% da População Economicamente Ativa (PEA) está desempregada ou em empregos informais como vendedores ambulantes.

Antes do Tratado, os agricultores astecas abasteciam a nação de arroz, feijão, leite e milho, entre outros produtos, mas na atualidade essas mercadorias, que entram procedentes dos Estados Unidos livres de impostos, dominaram em mais de 80% o mercado nacional.

Recentemente, o ex-candidato presidencial pelo Partido da Revolução Democrática (PRD) Andrés López Obrador, denunciou que "têm se privatizado mais de mil empresas públicas importantes, entre elas Telefones do México, ferrovias nacionais, os portos, os aeroportos, as minas, os bancos, estão entregando a indústria elétrica nacional e agora o que mais ambicionam é ficar com a renda petroleira".

Apesar de a Constituição mexicana estabelecer que "em se tratando do petróleo... ou de minérios radiativos, não se outorgarão concessões nem contratos, e a Nação levará a cabo a exploração e distribuição desses produtos", a pesquisadora Nancy Flores, em trabalho intitulado "Contratos à margem da lei de PEMEX", assinala que mais de 3 000 contratos beneficiam a 23 transnacionais principalmente norte-americanas.

Os lucros pelas atividades petroleiras, o recurso mais rico e importante da economia mexicana, também viajam para os EUA.

O FMI, organismo que impulsionou, junto ao Banco Mundial, as medidas neoliberais e de privatizações nas nações em desenvolvimento, não teve mais remédio que reconhecer em seu informe que devido à dependência da nação asteca com os Estados Unidos, "o desabamento da economia mexicana será o mais grave a ser registrado pelos países latino-americanos".