Nau tucana faz água

A nau tucana mal começou sua jornada e já faz água. A governadora Yeda Crusius enfrentou, na tarde de ontem (28), a primeira grande manifestação de insatisfação dos trabalhadores do serviço público gaúcho. Nem uma grande pantalha quebraria a luz da poderosa manifestação. Convocada pela CUT e CPERS/Sindicato, o protesto reuniu várias categorias de trabalhadores que percorreram as ruas do centro de Porto Alegre para denunciar o sucateamento da estrutura do Estado e as péssimas condições de trabalho dos servidores públicos do Rio Grande do Sul.

Os cerca de sete mil manifestantes se concentraram em frente ao Palácio Piratini para exigir a imediata contratação de concursados, pagamento integral e em dia, reajuste salarial, melhores condições de trabalho e a valorização dos serviços essenciais à população gaúcha.

As ações da governadora, no breve período à frente do executivo gaúcho, receberam o nome de "O novo jeito de sucatear", estampada na faixa estandarte da caminhada no dia de paralisações realizada na capital do Estado. Ao inverter prioridades, no encaminhamento dos recursos públicos, a professora Yeda despertou a tradição de mobilização da maior e mais combativa categoria de trabalhadores do Estado.

Os trabalhadores em educação, ao identificar as intenções do "golpe de gestão" anunciaram uma possível paralisação como recurso capaz de buscar, na comandante do executivo, a responsabilidade de quem está no cargo para governar para a maioria. Para Simone Goldschmidt, presidente do CPERS, apesar do discurso, o diálogo com o governo beira a ficção. "Nós já vimos esta postura e daremos a resposta com a nossa mobilização".

As falas das lideranças representativas dos trabalhadores se sucederam unânimes nas denúncias pelo descaso com as demandas dos serviços públicos e seus operadores, Todos salientaram o significado do Estado Mínimo no processo de gestão do governo tucano. Além daquilo que os sindicalistas nomearam como estelionato eleitoral, pelas contradições entre o discurso de campanha e as decisões extemporâneas, nada aponta para o desenvolvimento do Estado.

PRECARIZACO - Ao contrário, os já precários serviços essenciais básicos como saúde, educação e segurança, devem aprofundar ainda mais suas deficiências. "Celso Woyciechowski, presidente da CUT-RS, lamentou a opção do governo de favorecimento do Estado para os grandes empresários "quando sabemos que o Estado deve induzir o desenvolvimento investindo nas capacidades das vocações locais e cooperativadas dos trabalhadores".

Se a governadora, ao iludir a sociedade nas eleições, se achava segura com a proteção da elite para qual seu modelo de gestão opera, se esperava a resignação e o silêncio dos gaúchos e gaúchas, calculou mal o tamanho do "buchincho". Pois nestas plagas, homens e mulheres cresceram na boa tradição da luta, valorizando cada conquista. Por aqui a palavra empenhada é coisa comemorada, churrasco é comida típica e mãe é coisa sagrada*.

*Quem viu a entrevista da governadora no Jô, sabe do que se trata.