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Movimento sindical precisa renovar a agenda de...

Professor da UFABC apontou desafios em encontro para organização do macrossetor rural da CUT

Publicado: 30 Janeiro, 2014 - 15h42

Escrito por: Luiz Carvalho

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Arilson Pavareto (ao centro, de lilás) apontou caminhos para renovar a agenda de lutas do movimento sindical no campo (Foto: Roberto Parizotti)Arilson Pavareto (ao centro, de lilás) apontou caminhos para renovar a agenda de lutas do movimento sindical no campo (Foto: Roberto Parizotti)Dirigentes da CUT e lideranças rurais durante encontro para organização do macrossetor (Foto: Roberto Parizotti|)Dirigentes da CUT e lideranças rurais durante encontro para organização do macrossetor (Foto: Roberto Parizotti|)
Após promover seminários e a organização dos macrossetores da indústria, serviço público e comércio, serviços e logística, a CUT promoveu na manhã desta quinta-feira (30) um encontro de dirigentes do setor rural para discutir os desafios no campo.

Secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, apontou que a divisão das categorias cutistas em macrossetores surgiu diante da necessidade de repensar a atuação do movimento sindical perante as mudanças que o mercado de trabalho sofre.  

“Temos que readequar a nossa organização por conta das transformações pelas quais passamos com o objetivo de construir uma estratégia nacional, mas também dialogando com as diferenças regionais”, afirmou.

O sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC Arilson Pavareto participou da atividade e assinalou que a organização dos trabalhadores no campo vive um momento de crise, encoberta pelos dois últimos governos populares que foram muito favoráveis á agricultura familiar.

“O sindicalismo rural não tem feito o que patronal faz. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) faz mudança constitucional, como o Código Florestal, o projeto para deixar com o Congresso Nacional a demarcação de terras indígenas. Enquanto isso, o movimento sindical luta por mudanças estruturais. As bandeiras de luta não mudaram nas últimas décadas e esse caráter de crise encoberta pode virar uma crise aguada, quando mudar o governo”, alertou.

Para ele, medidas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foram acertadas, multiplicaram os recursos para os produtores familiares, mas demonstram esgotamento e não institucionalizaram as mudanças, que estão suscetíveis a retrocessos. 

“O que foi feito é aquilo que a gente reivindicava. Agora, esse grande ciclo de quase 20 anos, de fazer com que o Estado reconheça que há agricultura familiar, que é prioridade, começa a bater no teto. O caminho é disputar o Mercado, o que é complexo, porque o sindicalismo rural sempre foi voltado ao Estado e há um conceito entre nós de que Mercado é onde se realiza o lucro, que é capitalista. Há Mercados que se organizam sobre outras bases, como solidariedade, cooperação, na valorização da biodiversidade, de práticas mais sustentáveis de agricultura. Essa deveria ser o desafio a ser tratado pela agricultura familiar, disputar o Mercado sem esquecer da necessidade de políticas públicas”, disse.

Atuação regional – O professor explicou que a agricultura brasileira ganhou muita importância para a consolidação da renda do país, porém, produzindo cada vez mais com menos gente.

Pavareto apontou ainda que há diferenças regionais em relação à forma de produção, das áreas de cerrado, como Mato Grosso do sul, Mato Grosso e Maranhão, onde não há uma rede de cidades e o crescimento não representa oportunidades para população rural, até o Sul do país, onde o perfil é de uma agricultura familiar mais consolidada e voltada ao Mercado, com uma rende de cidades densa, que não exige a migração para regiões distantes em busca de trabalho.

Ele defende que essa pluralidade demanda uma diversificação da agenda sindical, condizente com a variedade regional do país. “Será que agenda sindicalismo rural pode se resumir à agricultura familiar? Parece que não.”

Desafios para o movimento sindical –Entre os caminhos para a atuação da organização da classe trabalhadora no campo, o professor defendeu que o primeiro passo é separar o joio do trigo no enfrentamento aos patrões.

“O sindicalismo rural entrou no engodo do agronegócio, que é comparar o dono da terra com aquele empresário mais nocivo, que não está preocupado com a produção, porque se a safra não render nada, bate no banco e ganha perdão da dívida. Aquele que usa a terra para ter mão de obra barata, ser prefeito ou deputado. Usa a terra como patrimônio e elemento de dominação e não para produção. Quando a gente diz agronegócio e coloca todo mundo junto, a sociedade pensa em uma grande fazenda produtiva e moderna. Temos que fazer a distinção, mas enfrentamos resistência patronal, porque a força econômica de um entra com força política de outro, no Congresso, por exemplo”, explica.

O professor destaca que é preciso diminuir as bases espúrias da agricultura patrimonialista, que tem ainda sérios problemas ambientais. Segundo ele, é preciso fazer alianças com movimentos ambientalistas para enfraquecer esse setor.

Outro papel das lideranças no campo, cita, é “ganhar” o pequeno produtor para a agricultura familiar, em enfrentamento ao processo de aliciamento que faz a CNA. “Há setores dos produtores familiares que acabam se reconhecendo como agronegócio porque querem participar da produção em larga escala, da comercialização em grandes proporções.”

Desenvolvimento também no campo – Além disso, avaliou, o movimentos sindical no campo deve ir além do discurso produtivista, lutar para que políticas de educação, saúde e transporte cheguem ao campo, como forma de evitar o esvaziamento das regiões rurais.

Parte desse processo, defendeu, depende da reforma no Ministério do Desenvolvimento Agrária (MDA) e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para que tenham mais orçamento, pessoal e possam ter pautas e projetos regionalizados.

“A demanda mundial por produtos com tecnologia agregada não será maior do que por alimentos. Por isso as transnacionais compram terra e vão investir na agropecuária. O fortalecimento da importância do setor empresarial na agricultura veio para ficar e o enfrentamento só vai piorar nos próximos anos. Temas como internacionalização da agricultura brasileira, do controle de sementes, do mercado da agricultura familiar deveriam ser tão importantes quantos as políticas públicas.”