Movimento Nacional dos Direitos Humanos...
Em audiência pública no Senado, ele defendeu e sugeriu que o PNE assegurasse a criação de um bônus para as "caboclinhas? de PE e do CE que conseguirem se casar com engenheiros estrangeiros
Publicado: 31 Outubro, 2013 - 11h13
Escrito por: Movimento Nacional dos Direitos Humanos
CARTA ABERTA AO SENADO FEDERAL EM REPÚDIO À DECLARAÇÃO DO SR. CLAUDIO DE MOURA CASTRO
Brasil, 26 de outubro de 2013.
Nós, ativistas do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, de diversas entidades e profissionais do setor viemos repudiar veementemente o pronunciamento machista e preconceituoso do Sr. Claudio de Moura Castro, economista, colunista de uma revista, professor especialista em educação e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, em audiência pública, realizada no dia 22 de outubro de 2013, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, em Brasília/DF.
A audiência pública supracitada tinha como pauta principal o novo projeto do Plano Nacional Educação (PNE). Nesta ocasião, o Sr. Claudio defendeu e sugeriu que o PNE assegurasse “a criação de um bônus para as "caboclinhasââ¬Å¸ de Pernambuco e do Ceará que conseguirem se casar com engenheiros estrangeiros, porque aí eles ficam e aumenta o capital humano no Brasil; aumenta a nossa oferta de engenheiros”.
Ao ouvirmos e lermos esta declaração, cujas palavras parecem ser articuladas sob o fio do preconceito e do desrespeito aos direitos humanos, ficamos estarrecidos e indignados com tamanho preconceito e desvalorização do Estado público e democrático de direito, tão tardiamente assegurado por marcos políticos e legais no Brasil.
A Constituição Federal de 1988 afirma, no Art. 5º, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Mais especificamente, os incisos I e IV afirmam:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
As marcas da desigualdade no Brasil são oriundas de um processo de colonização que dizimou indígenas, escravizou e comercializou negros, dividiu o País em regiões ricas e pobres, atrasadas e modernas e, sobretudo, construiu uma prática histórica – que viceja até hoje – de clientelismos, colonialismos e extermínios dos indígenas, negros, nordestinos e pobres. Assim, as conquistas de referenciais democráticos convivem, anacronicamente, com discursos e projetos conservadores, preconceituosos e, por isso, autoritários.
Somos homens e mulheres negros, indígenas e caboclos. Compartilhamos do sangue e do suor dos povos que resistiram e resistem bravamente à escravidão, à miséria e ao preconceito. Além disso, somos seres sociais, sujeitos históricos, homens e mulheres com desejos, sonhos e capacidade de construir a história, quer vivamos nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do País. SOMOS SUJEITOS DE DIREITOS!
A construção sócio-histórica de cidadania, consolidada neste País, é traduzida por vários documentos. Dentre eles, estão as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, a qual afirma a educação em direitos humanos como “um dos eixos fundamentais do direito à educação, que se refere ao uso de concepções e práticas educativas fundadas nos direitos humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas” (art. 2º da resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, do MEC).
Enquanto defensores dos direitos humanos, a nossa luta é, portanto, pelo amplo reconhecimento da condição de sujeito e de igualdade a todos, recusando qualquer forma de preconceito e discriminação, inclusive as diversas falas públicas que se utilizam de argumentos preconceituosos, coisificam e violam a integridade humana de homens e mulheres – sendo estas últimas historicamente vítimas de violências e preconceitos no mundo e no Brasil.
Por isso, solicitamos ao Senado Federal, instituição de extrema relevância para o cumprimento dos direitos e deveres assegurados pelo estado democrático de direito, que leia, no plenário, esta carta de repúdio.
A educação, enquanto ato histórico e humano, tem de ser construída sob valores e princípios democráticos, de justiça e criticidade. Qualquer posicionamento que viole a dignidade humana, a igualdade de direitos, o reconhecimento e a valorização das diferenças e das diversidades não pode ser incorporado às práticas educativas e cidadãs. Na luta por um mundo mais justo e igualitário,
atenciosamente,
Movimento Nacional de Direitos Humanos – Brasil
Movimento Nacional de Direitos Humanos (regionais SP, MG, ES, RN, SE, PI, PB, PE, CE, PA,
RR, RJ,AC, RS, GO, MT)
Instituto Paulo Freire
Cedeca Paulo Freire
Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP)
Centro de Direitos Humanos da Baixada Santista Irmã Dolores (CDHBS)
Centro de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno
Pastoral do Menor – Contagem-MG
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Centro de Direitos Humanos de Sapopemba,
CEDECA Sapopemba
ACAT Brasil.
Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES)
ABONG
Associação MiDHia – Comunicação e Direitos Humanos
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS)
Sâmya Rodrigues Ramos – Conselho Federal de Serviço Social
COLETIVO AMPLIAÇÕESS
Federação Única dos Petroleiros - (FUP)
Vera Peroni
Maria Aparecida da Silva – CEFET-MG
Maria Aparecida Bremer – SEE-PR
Manoel José Porto Junior – Ifsul-Rio-Grandense
Lucas Barbosa Pelissarj – Unioeste
Júlio César França Lima – EPSJV-Fiocruz
Maria Rita N. S. Oliveira – UFMG e CEFET-MG
Mariléia Maria da Silva – UESC
Marise N. Ramos – LATEPS/EPSJV-Fiocruz
Sonia Maria Rummet – UFF
Monica Ribeiro da Silva – UFPR
Nilson Marcos Dias Garcia – UTFPR
Sandra Regina de Oliveira Garcia – UEL
Gaudêncio Frigotto – UERJ
Eneida Shiroma – UFSC
Domingos Leite Lima – UTFPR
Lucídio Bianchetti – UFSC
Marcos Francisco Martins - Coordenador do Programa de Mestrado em Ed. da UFSCar - Campus Sorocaba
Ana Lúcia Guedes-Pinto - FE-UNICAMP
Roberta Gurgel Azzi
Márcio José Andrade da Silva - FECGS
Ricardo Barbosa Lima- Universidade de Goiás
Marisa Brandão – CEFET-RJ
Elsety Veiga Maia (professora da rede estadual do Pará e Militante do Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade do Estado do Pará)
Gisela Lange do Amaral – Coordenadoria de Edificações Núcleo de Conservação e Restauro (NUCOR) Campus Pelotas-IF Sul Rio-Grandense
Gabriel Grabowski – FEVALE/RS
Ronaldo M. de Lima Araújo (Instituto de Educação da UFPA)
Patrícia Tropia – Universidade Federal de Uberlândia
José dos Santos Souza – UFRRJ
Jorge Alberto Rosa Ribeiro – UFRGS
Marília Gouveia de Miranda – UFG
Osmar Favero – UFF
Maria Inês Bomfim – UFF
Zuleide S. Silveira – Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense
Alexandre Maia Bonfim – IFRJ
Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos – Fiocruz e FEUC
Carmem S. V. Moraes– FEUSP
Celso João Ferretti – UNISO
Eloisa Gabriel – Assistente Social e Professora de Serviço Social
Francisca E. S. Severino – Uninove
Aparecida Neri de Souza – DECISE/FE/UNICAMP
Adriana Varani- UNICAMP
Georgia Sobreira dos Santos Cêa – UFAL
Enéas Arrais Neto – UFC
Pio Santos – Médico Sanitarista -Florianópolis/SC
Luis Enrique Aguilar- UNICAMP
Corinta Maria Grisolia Geraldi- FE/UNICAMP
João Wanderley Geraldi - IEL
Iracy Silva Picanço – UFBA
Justino de Sousa Junior, Universidade Federal do Ceará.
Olga Von Simon -UNICAMP
Maria Clara Bueno Fischer – UFRGS
Theresa Adrião - Faculdade de Educação da UNICAMP
Ana Lúcia Guedes-Pinto - FE-UNICAMP
Célia Regina Vendramini – UFSC
Edson Caetano
Célio Vanderlei Moraes – Mestre em Ciência Política - Florianópolis/SC
Michele Rodrigues (professora da Rede Oficial do Estado de São Paulo)
Padre Pedro Baldisseia – Deputado do PT/SC
Marco Antonio O.Gomes – Universidade Federal de Rondônia
Valdemar Sguissardi – UFSCar
Veronica Lima Carneiro Moreira – UFMA
Carlos José de Melo Moreira –UFOPA/PA
Mª Regina F. Antoriazzi – Profª Aposentada – Faculdade de Educação/UFBA
Katia Maria Ribeiro Mota – Docente do Colégio Pedro II/RJ
Francisco J.S. Lobo Neto - LATEPS/EPSJV-Fiocruz
Espaço Cultural Jardim Damasceno – Brasilândia São Paulo
Rede Estadual de Direitos Humanos (RN)
Centro de Defesa de Direitos Humanos de Sergipe
Grupo Tortura Nunca Mais (SP)
contatos:articulacao_mndh_sp@googlegroups.com;pnepravaler@googlegroups.com