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Motoboys farão protesto em SP nesta sexta por melhores condições de trabalho e renda

Categoria exige mais respeito dos aplicativos aos trabalhadores que ganham cerca de R$ 0,85 por km rodado. Valor não cobre o custo de um trabalho que não oferece nenhuma segurança aos entregadores

Publicado: 15 Abril, 2021 - 16h05 | Última modificação: 15 Abril, 2021 - 16h11

Escrito por: Andre Accarini

Roberto Parizotti
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Cansados da exploração imposta por aplicativos como iFood, Loggi e Rappi, entregadores decidiram realizar uma manifestação nesta sexta-feira (16), em São Paulo. A concentração foi marcada para as 13h, em frente ao estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital paulista. De lá, eles seguirão em carreata pelas principais avenidas das cidades.

De acordo com um dos organizadores da manifestação, que preferiu não se identificar, os entregadores vão protestar contra a falta de condições dignas de trabalho, a baixa remuneração, a falta de suporte aos trabalhadores com relação à segurança e por um maior reconhecimento ao trabalho desempenhado por estes profissionais por parte dos executivos das empresas.

“Decidimos de comum acordo fazer essa manifestação porque não dá mais para trabalhar por taxas baixas. Geralmente, a gente ganha menos de R$ 0,85 por km rodado”, diz.

E ele vai além ao descrever o dia a dia dos entregadores. “A realidade hoje é simples. Saímos de casa para trabalhar e para começar o colocamos no mínimo R$ 30,00 de gasolina. Tem entregador que passa o dia na rua e recebe apenas duas ou três chamadas que, juntas, não somam 15 reais. Ou seja, não pagou nem a gasolina e ainda perdeu o dia de trabalho”.

Linha de frente

A categoria também reivindica prioridade no Plano Nacional de Imunização (PNI), que determina a ordem de prioridade da vacinação contra a Covid-19.

Quanto ao suporte reclamado pelos trabalhadores, a reivindicação inclui o fornecimento de equipamentos de segurança como álcool gel e máscaras para proteção contra a Covid-19.

“Nós estamos na linha de frente, somos atividade essencial e estamos expostos ao vírus constantemente para entregar a comida ou a encomenda de quem está em casa se protegendo”, diz o organizador, que reforça: “precisamos de vacina”.

Não somente expostos à pandemia, mas também à insegurança no trânsito, os entregadores reclamam das regras dos aplicativos que punem os trabalhadores por eventuais atrasos nas entregas. Isso é o que explica o que constantemente se observa nas ruas das cidades – motociclistas correndo contra o tempo para poder dar conta do trabalho e não ser punido.

Diógenes Souza, outro entregador por aplicativos explica: “uma coisa que as pessoas não sabem é que a partir do momento em que eu aceito o pedido, tenho um tempo para entregar. Sou obrigado a chegar ao destino em um horário pré-determinado, e se não chegar, perco o pedido, não ganho e ainda fico uma hora parado. O App obriga o motoboy a correr”

Se o motoboy demora a entregar o pedido acaba sendo punido mesmo não tendo responsabilidade sobre o problema que causou a demora. É comum os entregadores serem bloqueados pelas operadoras e os motivos vão desde eventuais demoras dos próprios restaurantes a aprontar o pedido até mesmo quando um trabalhador pede informações à operadora sobre qual melhor caminho a fazer para realizar a entrega.

Rendimentos

Em especial empresários, donos de restaurantes e de estabelecimentos conveniados aos aplicativos e que, portanto, se utilizam da mão de obra desses trabalhadores, costumam argumentar que a renda mensal dos motoboys é razoável já que trabalham o dia todo. Alguns chegam a chutar que a renda vai de R$ 4 mil a R$ 10 mil por mês.

Questionado sobre o rendimento mensal dos trabalhadores, o organizador ouvido pelo portal CUT foi taxativo. “Acha que se o motoboy ganhasse isso estaríamos organizando uma greve? O que a gente vê é que tem muita gente que não consegue tirar nem R$ 3 mil brutos por mês”.

O trabalhador explica ainda que há muitos fatores que impedem uma retirada maior por mês, como o ‘bloqueio branco’, que acontece quando o entregador por algum motivo de força maior acaba recusando algum um pedido. “Você fica on-line, mas não recebe pedido por pelo menos uma hora”. Além disso, todo o custo com alimentação e manutenção com as motos e celulares – instrumentos de trabalho essenciais para eles – fica por conta do trabalhador.

“Além do trabalho ser duro, entre o que a gente ganha e o que gasta, a conta não fecha”, reforça o organizador do protesto.

Falta de condições

Entregadores relatam diversos problemas enfrentados cotidianamente nas relações de trabalho com os aplicativos.

Um deles é de que os aplicativos tiram a autonomia dos entregadores porque os obrigam a trabalhar, todas as sextas, sábados e domingos, no mínimo oito horas por dia, com direito a apenas uma folga por semana, como é o caso do IFood. Caso contrário, perdem pontuação, são bloqueados por horas, dias e até meses, e ainda enviados para outras cidades, fora do domicílio, geralmente em locais de pouco movimento.

De acordo com o estudo do Dieese, a remuneração média da categoria é de R$ 1.325, quase 40% inferior a dos demais trabalhadores (R$ 2.166). No recorte por gênero, a média cai ainda mais. As mulheres que trabalham com entregas têm rendimento médio de R$ 1.280.  Apesar da média nacional, em regiões como Norte e Nordeste, a renda média chegou a ser inferior ao salário mínimo nacional.

Hoje para ganhar entre R$ 2.000 e R$ 2.200 por mês livres das despesas de manutenção e combustível, o entregador Diógenes Souza trabalha de 8 a 12 horas por dia, seis dias da semana, correndo riscos de acidentes pelo pouco tempo que as empresas oferecem para chegar até o local da encomenda e para ganhar muitas vezes R$ 5 para percorrer de três a quatro quilômetros, faça sol ou faça chuva.

A maioria das plataformas como iFood, Loggi, Rappi, entre outras, acabam decidindo os horários e locais de trabalho como se eles fossem contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No entanto, são autônomos e sem nenhum direito como Fundo de Garantia, 13° Salário, férias e horas extras, além de, na grande maioria dos casos, sequer conseguirem contribuir – como autônomos – para a Previdência.

 

*Edição: Marize Muniz