Lista oficial do Pentágono omite 15 mil feridos na guerra de Bush
Publicado: 30 Novembro, 2007 - 14h29
O jornal "Usa Today" revelou que há 20 mil veteranos da guerra do Iraque com lesão cerebral, de acordo com registros obtidos diretamente de hospitais militares e bases consultadas. Mas na lista oficial do Pentágono só constam 4.471
O jornal "Usa Today" afirmou que "pelo menos 20 mil soldados que não foram classificados como feridos em combate no Iraque e Afeganistão apresentam sintomas de lesão cerebral", de acordo com dados que obteve em bases e hospitais militares. Assim, "cinco vezes mais tropas apresentam lesão cerebral que os 4.471 oficialmente listados pelo Pentágono até a data de 30 de setembro", assinalou o "UT". O jornal esclareceu que esses casos "também não estão no cômputo oficial do Pentágono, que é de 30.327". Subtraindo esses 4.471 casos oficialmente reconhecidos dos 20 mil, conclui-se que o Pentágono omitiu 15.529 feridos por lesão cerebral e que o total de feridos nas guerras de Bush é 50% maior do que o admitido, e chega a 45 mil.
NEUROLOGISTA
O neurologista e consultor do Pentágono sobre lesões cerebrais, coronel Robert Labutta, explicou ao "UT" como 15 mil feridos tiveram sumiço na lista de baixas das guerras de Bush. E que, como afirmou, "os soldados e marines cujos ferimentos foram descobertos após eles deixarem o Iraque não são somados à lista oficial de feridos".
Há quem ache que esse número é muito maior. O próprio "UT" chegou a avaliar que "de 10% a 20%" do total de soldados que voltaram do Iraque e Afeganistão podem sofrer de lesões cerebrais. Problema que já levou à formação de uma "Força Tarefa" no congresso dos EUA para enfrentar a questão. Segundo seu fundador, o deputado democrata Bill Pascrell, "de 125 mil a 150 mil podem sofrer de lesões cerebrais", entre casos leves, moderados e graves. Note-se que, como, de acordo com o "UT", 1,5 milhão de soldados e marines norte-americanos já serviram na invasão, 20% disso daria 300 mil casos. Quando este ano os hospitais de veteranos começaram a fazer exames para detectar lesões cerebrais nos soldados que voltaram, a porcentagem de "positivo" chegou a 20%.
IMPROVISO
A lesão cerebral, apontou o jornal, já é a "marca registrada" da guerra do Iraque. O que não chega a ser surpreendente, já que o Pentágono afirma que "80% dos ataques da insurgência" são feitos por meio de "dispositivos explosivos improvisados (IEDs, na sigla em inglês)." – ou seja, bombas. No essencial, peças de artilharia do arsenal do exército iraquiano, às quais foram adaptados explosivos e dispositivos para detonação. Ou seja, tiros de canhão, sem canhão – fruto da engenhosidade dos engenheiros militares iraquianos, e pesquisadas com bastante antecedência à invasão. Pelo menos desde 1998, de acordo com relato do então chefe dos espiões norte-americanos entre a equipe de inspetores da ONU no Iraque.
A diretora do Departamento de Assuntos dos Veteranos (VA), doutora Bárbara Sigford, afirmou ao "UT" que os veteranos ali tratados disseram "ter sido expostos de 6 a 25 explosões durante sua experiência de combate". Afirmação que também serve como um registro da eficácia da ação da Resistência contra os invasores. O "Usa Today" afirmou que desde abril deste ano foram examinados nos hospitais mantidos pelo "VA" 61.285 veteranos, e que 20% - "ou 11.804 veteranos – apresentam sintomas de lesão corporal", de acordo com a porta-voz Alison Aikele. A porta-voz disse que são necessários mais exames para plena confirmação de todos esses casos. A repetição da exposição a tais explosões parece ter um papel decisivo na gravidade dos casos, algo assim como as seqüelas de pacientes que sofreram múltiplos derrames. O Congresso dos EUA aprovou em maio dotação de US$ 150 milhões para o estudo e tratamento das lesões cerebrais.
TABULACO
Os números de feridos com lesões cerebrais do "Usa Today" foram tabulados de registros do Departamento de Veteranos (VA)e quatro bases militares que sediam unidades que combateram no Iraque e Afeganistão. Além dos já citados 11 mil feridos do Departamento de Veteranos (VA), o "UT" contabilizou os dados de mais um hospital militar na Alemanha, duas bases do exército e uma de marines. "Desde maio de 2006, mais de 2.300 soldados deram positivo para lesão cerebral", afirmou a porta-voz Marie Shaw, do Hospital médico do exército dos EUA em Landstuhl, Alemanha, para onde são evacuados os feridos do Iraque e Afeganistão, antes de voltarem aos EUA. "Pelo menos 2.700 soldados sofreram lesão cerebral em combate", disse ao "UT" o tenente-coronel Steve Stover, de Forte Hood, no Texas, sede da 4ª Divisão de Infantaria. Em Camp Pendleton, base dos marines, foram descobertos 1.737 casos de lesão cerebral, segundo o neurocirurgião do Centro Médico Naval de San Diego, comandante Martin Holland. E, finalmente, em Fort Carson, Colorado, os exames descobriram mais 2.100 soldados com lesão cerebral, conforme explanação do coronel do exército Heidi Terrio, perante um seminário médico sobre lesão cerebral.