Juíza que proibiu atos pró-Lula atacou petistas
Fã de Moro, Diele Denardin Zydek compartilhou convocação de ato pelo impeachment,
Publicado: 08 Maio, 2017 - 12h50 | Última modificação: 08 Maio, 2017 - 13h16
Escrito por: Redação Carta Capital com informações da Rede Brasil Atual

A juíza Diele Denardin Zydek, que na sexta-feira 5 restringiu as manifestações favoráveis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas cercanias da sede da Justiça Federal em Curitiba, usou suas redes sociais para manifestar oposição a Lula, à ex-presidenta Dilma Rousseff, ao PT e à esquerda.
Zydek é magistrada da 5ª Vara da Fazenda Pública do Paraná. Sua decisão foi tomada atendendo pedido do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), que havia pedido um “Interdito Proibitório” após o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) solicitar um espaço nas proximidades do prédio da Justiça Federal, onde Lula vai depor nesta quarta-feira 10, para montar um acampamento.
O MST promete levar 20 mil pessoas para Curitiba e a prefeitura da capital paranaense vê risco de confusão com apoiadores da Operação Lava Jato, que também prometem se reunir no local. Pela decisão de Zydek, entre as 23 horas desta segunda-feira 8 e às 23 horas de quarta-feira 10, estão proibidas, entre outras medidas, “a montagem de estruturas e acampamentos nas ruas e praças da cidade, sob pena de multa diária de 50 mil reais”. Segundo ela, a prefeitura e o MST devem negociar formas para garantir o protesto e o direito de ir e vir dos moradores do bairro onde fica a Justiça Federal.
Zydek tem um perfil aberto no Facebook, no qual compartilha conteúdos pessoais e políticos. Em 4 de março do ano passado, a magistrada celebrou a condução coercitiva de Lula, ordenada pelo juiz Sergio Moro, que interrogará Lula. "E hoje a casa caiu para o Lula...", escreveu ela, ao lado de ícones de aplausos. Minutos depois, a magistrada compartilhou nota de um site que elogiava Moro pela decisão e chamou o colega de "inspiração" e "ídolo".
Em seguida, compartilhou cartaz de apoio à Lava Jato assinado pelo movimento Quero me Defender, que advoga pela redução da maioridade penal e pelo armamento da população civil.
Em 9 de março, Zydek divulgou em sua rede a convocação do Vem Pra Rua para os atos de 13 de março contra Dilma Rousseff, que pediam o impeachment da petista, concretizado semanas depois.
Em 16 de março, a magistrada lamentou o fato de Lula ter aceitado o posto de ministro-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff e chamou o caso de "manobra criminosa".
A nomeação de Lula foi um dos últimos movimentos de Dilma para tentar se manter no poder. A estratégia naufragou, no entanto, graças ao vazamento de uma conversa entre ela e Lula, feita ilegalmente pela Polícia Federal e também divulgada ilegalmente por Moro. Ainda assim, o áudio subsidiou decisão de Gilmar Mendes para barrar a nomeação. Posteriormente, o ministro Teori Zavascki confirmou a ilegalidade do áudio.
No mesmo dia, Zydek comentou o áudio e festejou o que seria o medo de Lula diante da "República de Curitiba".
Em outras postagens que indicam seu posicionamento político, Zydek disse em 10 de maio de 2016 se "sentir envergonhada" diante da atuação da senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, e em 12 de maio compartilhou um meme com o que dizia ser "o eterno erro da esquerda".
O meme trazia uma frase a respeito de não se dever "fortalecer o forte enfraquecendo o fraco" e atribuía o dito a Abraham Lincoln, presidente dos EUA no século XIX. A frase nunca foi dita por Lincoln, mas pelo reverendo presbiteriano conservador William John Henry Boetcker, que nasceu quando Lincoln já estava morto.
Segundo a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, essas manifestações públicas feitas pela juíza são condenáveis. O exercício de atividade político-partidária, como a participação em atos, pode ser punido com perda de cargo.
Magistrados também são proibidos por lei de "manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério".
A Frente Brasil Popular, que agrega movimentos sociais e partidos, reafirma intenção de ocupar Curitiba "com muita alegria e resistência para defender a democracia e em apoio ao ex-presidente Lula". A organização enfatiza a "importância política da Jornada de Lutas de Curitiba", e que manterá todas as mobilizações, caravanas e as atividades previstas na programação.
Para a frente, a ação movida pelo prefeito Rafael Greca (PMN) e a decisão da juíza Diele Denardin Zydek de proibir a instalação de acampamentos, são uma forma de "criminalização dos movimentos sociais", ao tentar impedir a presença de milhares de pessoas "também pretendem debater os rumos da democracia, os ataques contra os direitos sociais e o papel hoje político cumprido pelo Judiciário".
Confira a íntegra da nota da Frente Brasil Popular:
NOTA DA FRENTE BRASIL POPULAR – PARANÁ
A Frente Brasil Popular Paraná – organização que agrega diferentes movimentos sociais e setores da sociedade – repudia a decisão do prefeito Rafael Greca e da juíza Diele Denardin Zydek, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, em impedir a instalação em Curitiba do acampamento que receberá as centenas de caravanas que virão para o depoimento do ex-presidente Lula, no dia 10 de maio.
A medida é uma forma de criminalização dos movimentos sociais, porque busca impedir a vinda pacífica e democrática de milhares de pessoas que buscam debater os rumos da democracia, entre os dias 9 e 10 de maio, os atuais ataques contra os direitos sociais pelo governo Temer, assim como o papel hoje político cumprido pelo Judiciário.
Não conseguirão. As caravanas e as atividades serão feitas, lutadoras e lutadores sociais serão bem acolhidos pelas entidades sociais e o momento será de muito debate e reflexão com juristas e advogados renomados, artistas, vigílias inter-religiosas e debates políticos.
Curitiba recebeu as Diretas Já!, tem também cultura crítica e milhares de pessoas preocupadas com a preservação dos direitos e contrárias à sua violação. Esperamos que a vinda das caravanas, o direito de ir e vir e a liberdade de manifestação sejam respeitados nos próximos três dias. Em nossas mãos, temos a organização popular, que sempre abre caminhos.