Jornalistas ocupam prédio da JBS em Belo Horizonte
Parte dos profissionais foi demitida há um ano e não recebeu acerto
Publicado: 01 Junho, 2017 - 18h29
Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Brasil de Fato

Cerca de 150 trabalhadores da comunicação, entre jornalistas e gráficos, ocuparam o antigo prédio do jornal Hoje em Dia, de propriedade da empresa JBS, nesta manhã de quinta (1). Parte desses profissionais foi demitida há mais de um ano do jornal e até hoje não recebeu o acerto. A ocupação conta com o apoio da CUT/MG, de diversos movimentos populares e sindicatos de Minas Gerais, entre eles o Sindieletro-MG e o Sindágua-MG.
“Decidimos ocupar o prédio que foi sede do jornal durante décadas para denunciar a toda sociedade o calote. Fomos vítimas de uma negociata política, que envolve figurões da República, e pagamos a conta por projetos de poder, falta de ética e escrúpulos”, denunciam os jornalistas em manifesto divulgado.
A ocupação é por tempo indeterminado e serão realizadas atividades no local. Nesta quinta-feira (1° de junho), às 19h30, acontece o debate “Impactos do Controle de Aécio e Andrea Neves no Jornalismo Mineiro”, com Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, João Paulo Cunha, ex-editor de Cultura do jornal Estado de Minas e colunista do Brasil de Fato. A mediação será de Kerison Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG). O prédio fica na rua Padre Rolim, 652, bairro Santa Efigênia, Belo Horizonte-MG.
O “predinho”
De acordo com o manifesto, o senador afastado Aécio Neves (PSDB) pediu para que o empresário Joesley Batista, da JBS, comprasse o prédio sede do Hoje em Dia. Segundo delação gravada de Joesley, o prédio foi comprado por um valor muito superior ao de mercado. O empresário teria pagado R$ 17 milhões que seriam destinados à Aécio como pagamento de propina. Na ocasião, o senador afastado chamou o imóvel de "predinho", como passou a ser conhecido.
A história
No início de 2016, 38 jornalistas foram demitidos de uma vez do jornal Hoje em Dia, após este ter sido comprado por Ruy Muniz, empresário e ex-prefeito de Montes Claros que já chegou a ser preso por corrupção.
Posição do Hoje em dia
Em nota, o jornal Hoje em Dia afirma que vai colaborar com a Justiça nas investigações e reitera o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional. Confira na íntegra:
A atual gestão da Ediminas S/A assumiu o jornal Hoje em Dia quando a venda do prédio já havia sido concluída e vai colaborar com a Justiça prestando todos os esclarecimentos que forem por ela solicitados. O jornal não funciona mais no prédio da rua Padre Rolim. A Ediminas vem cumprindo rigorosamente a legislação trabalhista. Sobre as rescisões de contrato, trata caso a caso as demandas, nas esfera competentes: Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e sindicatos das categorias profissionais relacionadas ao jornal. O Hoje em Dia reitera o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional e informa que mantém seu funcionamento regular, o que permite a preservação de dezenas de empregos.
Manifesto dos jornalistas
Ocupa Predinho. Por que estamos aqui?
Somos um grupo de 150 trabalhadores (jornalistas, gráficos e funcionários da administração) demitidos do jornal Hoje em Dia há mais de um ano. Não recebemos nenhum direito trabalhista.Nem mesmo o salário do último mês que trabalhamos. Decidimos ocupar o prédio que foi sede do jornal durante décadas para denunciar a toda sociedade o calote. Fomos vítimas de uma negociata política, que envolve figurões da República, e pagamos a conta por projetos de poder, falta de ética e escrúpulos. A ocupação tem o apoio de diversos movimentos sociais, que trazem solidariedade a nossa causa e lutam por um país mais justo.
Na delação do empresário Joesley Batista, da JBS, ele revela que pagou R$ 17 milhões, um valor que ele mesmo considerou superfaturado, por um prédio e um terreno na Rua Padre Rolim, no bairro Santo Efigênia, em Belo Horizonte. Os imóveis citados pelo empresário eram a sede do jornal Hoje em Dia e foram comprados pela JBS a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDBMG). Mas existem vários detalhes que vão além da delação a que merecem atenção:
1 - Em 2013, quando a candidatura de Aécio Neves se afirmava no ninho tucano e os apoios para o projeto político do neto de Tancredo Neves eram estabelecidos, o governo de Minas Gerais, então comandado pelo tucano Antonio Anastasia, desapropriou um imóvel da Rádio Del Rey, que pertence à família proprietária do Grupo Bel. 2 - A desapropriação custou R$ 1,09 milhão aos cofres públicos e o pagamento foi realizado em junho de 2013.
3 - Cinco meses depois o Grupo Bel (também proprietário das rádios 98 FM, CDL e outras empresas) comprou o jornal Hoje em Dia das mãos da TV Record.
4 – Durante a campanha presidencial de 2013 o jornal Hoje em Dia se posicionou acintosamente favorável à candidatura de Aécio Neves.
5 – Um exemplo: O jornal chegou a publicar uma pesquisa nonsense, que ia à contramão de todas as outras pesquisas de opinião e dava favoritismo a Aécio. A notícia manchetou o portal do jornal no dia 14 de outubro e, velozmente, a imagem da tela do portal do Hoje em Dia estampava a propaganda de televisão de Aécio Neves no dia seguinte.