Isenção do IR deve ser votada na semana que vem, mas oposição quer atrapalhar
Tanto na Câmara como no Senado representantes da oposição ao governo Lula colocam empecilhos para que seja votada a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil
Publicado: 23 Setembro, 2025 - 16h38 | Última modificação: 24 Setembro, 2025 - 12h32
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha

A proposta do presidente Lula (PT) de isentar do Imposto de Renda (IR) quem recebe renda de até R$ 5 mil ao mês, o que deverá beneficiar 20 milhões de brasileiros e brasileiras continua patinando no Congresso Nacional. Tanto na Câmara como no Senado a oposição ao governo federal, principalmente o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, segue colocando empecilhos para a aprovação de projetos neste sentido. No Senado tramita o projeto do senador Eduardo Braga (MBD-AM), e na Câmara o do governo federal. Ambos preveem a isenção até R$ 5 mil.
O presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos-PB) disse na segunda-feira (22) num evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo, que chamou o deputado Arthur Lira (PL-AL), relator do projeto, para ir ao colégio de líderes esta semana explicar o seu relatório, e para que, ouvindo o colégio, se possa ter ainda esta semana uma posição sobre a pauta e, se possível, ser levada na semana que vem para votação.
Motta disse que os parlamentares vão poder propor emendas a esse projeto, mas ressaltou que é preciso ter responsabilidade com as contas públicas.
“É claro que cada partido tem o direito de propor emenda, de fazer destaque. O plenário será soberano ao final dessa decisão, se muda a compensação, se retira a compensação, se aumenta essa faixa de isenção. Tudo isso é possível. Eu só penso que cada atitude que for ser tomada por cada partido também tem a responsabilidade sobre a consequência dessa atitude, porque nós estamos tratando das contas públicas do país”, falou.
É exatamente essa possibilidade de propor emendas que o PL quer aproveitar para tumultuar a aprovação da isenção. Segundo reportagens, a oposição quer transformar a pauta numa bomba fiscal para o governo Lula.
A ideia desses parlamentares é a de passar uma proposta de isenção até R$ 10 mil mensais, o dobro do valor estipulado pelo governo federal. Além disso, o PL defende que não haja qualquer tipo de compensação para a perda de arrecadação aumentando o déficit público. A proposta do governo federal prevê o aumento de imposto para quem tem renda de R$ 50 mil mensais para compensar a perda de arrecadação com a isenção.
E no Senado...
Enquanto o texto do governo federal, enviado em 18 de março deste ano, ainda não é posto em votação na Câmara Federal, o Senado decidiu analisar o projeto do senador Eduardo Braga (MBD-AM), que é uma alternativa à proposta do Executivo para a isenção da faixa de R$ 5 mil (PL 1.087/2025).
O texto da proposta do senador seria analisado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta quarta-feira (24) pela manhã, após o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), ter apresentado o seu relatório, porém o senador Izalci Lucas (PL-DF) apresentou pedido de vistas, dizendo que o assunto merecia uma análise mais aprofundada. A expectativa é que o texto volte a ser analisado nesta quarta-feira (24).
A proposta que tramita no Senado tem caráter terminativo. Isso significa que se for aprovada pela CAE ela será encaminhada diretamente à Câmara sem a necessidade de ser apreciado pelo plenário da Casa. Se forem apresentados recursos o texto será direcionado para análise de todos os senadores.
Novas regras (da Agência Senado)
O relatório de Renan Calheiros é um substitutivo ao projeto original. Segundo ele, a ideia foi "conjugar justiça social, progressividade, segurança jurídica e responsabilidade fiscal" e alinhar o sistema tributário brasileiro "às melhores práticas internacionais".
No campo do Imposto de Renda da Pessoa Física, o relator manteve os redutores para rendimentos mais baixos, de forma que as rendas mensais de até R$ 5 mil tenham isenção integral e as rendas entre R$ 5.001 e R$ 7.350 contem com redução decrescente do Imposto de Renda, corrigindo a defasagem da tabela. O substitutivo também cria o Imposto de Renda da Pessoa Física Mínimo, aplicável às rendas acima de R$ 600 mil. A alíquota varia de forma progressiva de 0% até 10%, alcançando o teto para rendas superiores a R$ 1,2 milhão anuais.
— A medida busca corrigir a regressividade do sistema atual, garantindo que os contribuintes de maior capacidade econômica contribuam de forma proporcional. Para preservar a neutralidade e a segurança jurídica, a emenda prevê um redutor que limita a carga global sobre lucros distribuídos de acordo com o setor, evitando a sobreposição de tributos — expôs Renan.
Quanto aos lucros e dividendos, o relatório mantém a isenção para valores até R$ 50 mil mensais recebidos por pessoas físicas residentes no Brasil, com retenção de 10% na fonte sobre os montantes que excederem esse limite. Dividendos remetidos ao exterior passarão a ser tributados à alíquota de 10%.
Dívidas
A emenda do relator também institui no texto o Programa de Regularização Tributária para Pessoas Físicas de Baixa Renda (Pert-Baixa Renda), permitindo a adesão dos contribuintes com rendimentos mensais de até R$ 5 mil que estão devendo à Receita Federal.
— Com isso, nós vamos permitir o parcelamento, com valor mínimo de R$ 200 por parcela, de débitos tributários e não tributários, inclusive aqueles em discussão administrativa ou judicial. Além de facilitar a reintegração de contribuintes vulneráveis ao sistema formal, a medida contribui para reduzir a litigiosidade e aumentar a eficiência arrecadatória. Além disso, nós estamos buscando uma compensação para as perdas, se houver, de estados e municípios — explicou Renan.
Haddad espera projeto sancionado em outubro
O ministro da Fazenda Fernando Haddad disse esperar que a nova faixa de isenção do Imposto de Renda seja sancionada até outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista ao portal ICL Notícias, nesta terça-feira (23), o ministro disse que o combate à desigualdade social é fator primordial para o desenvolvimento do Brasil, o que reforça o posicionamento do governo federal em favor da ampliação da faixa de isenção.
Se tudo der certo, disse o ministro, “20 milhões vão deixar de pagar IR durante este mandato. Já atualizamos a faixa de isenção por três vezes neste governo. Em um mandato, passamos de uma faixa de R$ 1,9 mil [de isenção] para R$ 5 mil. Nunca houve isso”.
Haddad destacou que, atualmente, o país ainda tem mais de R$ 600 bilhões em renúncias fiscais. “Na minha opinião, esse é o maior escândalo. Nós conseguimos reverter R$ 100 bilhões e foi essa crítica toda ao governo, uma renúncia que já estava batendo em R$ 700 ou R$ 800 bilhões". Ele disse que o objetivo do governo é diminuir o imposto sobre o consumo ao cobrar mais imposto de renda dos ricos.
“O Congresso Nacional tem, agora, uma oportunidade muito importante, de colocar o Brasil na rota da justiça social e do combate à desigualdade. Não podemos continuar sendo um dos dez piores países em termos de distribuição de renda. É muito difícil pensar em desenvolvimento com esse nível de desigualdade”, completou.
Com informações da Agência Brasil