Infeliz aniversário para os (as)...
Empresa completa um ano sem pagar salários e outros benefícios. Sindicato dos Mecânicos de Joinville atua junto ao Ministério Público na busca por soluções imediatas
Publicado: 21 Abril, 2011 - 13h27
Escrito por: William Pedreira com informações do Sindicato dos Mecânicos de Joinville
Tristeza, revolta e indignação. Estes eram os sentimentos dos (as) trabalhadores (as) ainda vinculados (as) ou não a Busscar e seus familiares presentes ao ato de desagravo realizado pelo Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região na tarde desta terça-feira (19), em frente a sede da empresa, na cidade de Joinville (SC).
Agora em abril, completa-se um ano que os mais de três mil trabalhadores e trabalhadoras estão sem receber seus salários, mais a integralidade do 13º de 2010 e parte do benefício de 2009, além de repasse dos valores do INSS e Fundo de Garantia.
E com este cenário deprimente, os trabalhadores aproveitaram o ato e comemoraram o “infeliz aniversário” com bolo e canto de parabéns.
A crise na Busccar já é antiga e remete ao ano de 2003. A diferença é que nesta época um empréstimo do BNDES ajudou a resgata-lá, com o apoio decisivo do Sindicato dos Mecânicos. “Mesmo com a ajuda do Estado, em nenhum momento, a empresa pensou na contrapartida social, pelo contrário, hoje não paga nem os salários em dia”, exclama João Brugmann, presidente do Sindicato.
Entre 2003 a 2008, a empresa apresentou lucros acima de 2 bilhões e meio de reais. Com a crise financeira, a primeira medida dos bancos foi reduzir as linhas de crédito. Em 3 meses, a Busscar perdeu 75 milhões reais, e, o já receituário do empresariado fez-se evidente em Joinville: os primeiros a sofrerem os efeitos da crise na empresa foram os trabalhadores.
O Sindicato dos Mecânicos procurou durante todo este tempo soluções e saídas junto a empresa. A resposta indicava sempre falta de diálogo, mentiras e desrespeito.
Diante da recusa em negociar, o Sindicato viu-se obrigado a procurar a Justiça, solicitando o imediato pagamento dos salários atrasados e o bloqueio de todos os bens da empresa, impedindo que o patrimônio seja vendido e os trabalhadores não recebam seus direitos.
Em ambas as questões, a Justiça deu ganho de causa ao Sindicato. No caso dos pagamentos dos salários, mesmo com a decisão da Justiça, a Busscar mantém-se reticente e recusa a cumprir a decisão.
A alternativa encontrada por alguns funcionários foi a solicitação de rescisões indiretas, onde o empregado apresenta a justa causa à empresa por ela não cumprir com o que manda o contrato de trabalho. A Justiça determinou a liberação dos trabalhadores, obrigando a Busscar a dar baixa nas carteiras de trabalho, emitir as guias de saque do FGTS que está depositado, e também as guias de encaminhamento do seguro-desemprego.
“Alguns já estão seguindo a vida em outra localidade. O que nos entristece é ver uma empresa do porte da Busccar, que já foi a segunda maior da América Latina, estar numa situação caótica graças a irresponsabilidade, incompetência e má administração da família que detém o controle da empresa”, informa Brugmann.
Hoje a Busscar já acumula mais de mil processos na Justiça, entre ações judiciais e trabalhistas. Brugmann relata que o Sindicato já apresentou diversas proposições por uma solução final. “Seja pela troca da gestão, venda do controle acionário ou que os credores assumam o comando, queremos a imediata retomada da produção e o pagamento imediato dos salários atrasados .”
Após a recusa de cumprir as determinações da Justiça, o Sindicato entrou com uma nova ação, agora no Ministério Público do Trabalho. A empresa teria até esta terça para apresentar soluções. A resposta veio em uma carta, na qual afirma, com a mesma enrolação que vem sendo constância neste um ano, que estão trabalhando para viabilizar um solução que possibilite a recuperação da Companhia.
Para Brugmann, o Ministério Público do Trabalho deverá tomar alguma atitude na próxima reunião, a ser realizada na semana que vem.
Enquanto a empresa não cumpre com o pagamento dos parcelamentos acertados na Justiça do Trabalho, a esperança do Sindicato é que se inicie a execução dos processos para leiloar seus bens com fins de saldar os salários atrasados e, para aqueles que quiserem continuar na Busscar, a produção seja retomada de forma segura e gradual.
"Que esse sofrimento não se repita e que não cheguemos ao segundo aniversário. Se a empresa não tiver condições de vender ou recuperar a empresa, que entregue aos funcionários e ao sindicato, que buscaremos a solução", pediu Bruggmann.