Heranças da ditadura e a classe trabalhadora
Ato no RJ unifica centrais pelo esclarecimento das perseguições políticas contra trabalhadores
Publicado: 29 Agosto, 2014 - 14h51 | Última modificação: 29 Agosto, 2014 - 15h18
Escrito por: CUT-RJ
A unidade, a crítica à mídia e as relações entre o regime de 1964-1985 e o período atual foram a tônica do ato unitário sindical realizado no auditório da CUT-RJ nesta quinta (28) pelas comissões nacional (CNV) e estadual (CEV-Rio) da verdade, em conjunto com as 10 centrais sindicais existentes no país. Cinco delas estiveram representadas na mesa de abertura, ao lado dos coordenadores da CEV-Rio, Geraldo Cândido, e da CNV, Rosa Cardoso. O ato também contou com depoimentos de trabalhadores de seis categorias diferentes, além de protestos de ex-militares e servidores civis do Arsenal de Marinha, todos perseguidos pelo regime militar de 1964-1985. A presença massiva da imprensa, com diversos veículos da mídia comercial, pública e alternativa, foi outro destaque do ato.
Com a participação de cinco das 10 centrais sindicais que compõem o GT dos trabalhadores da Comissão Nacional da Verdade, CUT, CTB, CSB, Intersindical e CSP-Conlutas, o ato foi marcado pela unidade. “É o único lugar onde as 10 centrais sindicais estão juntas. Se o CGT era a unidade possível em 1964, esse GT é a unidade possível hoje”, observou o secretário-executivo do GT, Sebastião Neto. O dirigente da CUT-RJ, Jadir Baptista, perseguido quando metalúrgico da CSN, em Volta Redonda, ressaltou a importância do trabalho da CNV. “Temos que de fato resgatar a história porque ela não foi contada por completo. No nosso sindicato, por exemplo, teve intervenção e a Comissão da Verdade tem o importante papel de esclarecer a história”.
A coordenadora da CNV, Rosa Cardoso, citou alguns dos crimes contra a humanidade sofridos pelos trabalhadores, principalmente sindicalistas, e destacou a contribuição do PCB para a formação da classe trabalhadora. “O velho Partidão teve efeito civilizatório e educativo muito forte nos trabalhadores, formando gente que muitas vezes vinha do campo sem nenhuma educação”. Já o fundador e ex-presidente da CUT-RJ, Geraldo Cândido, hoje coordenador da CEV-Rio, criticou a Lei de Anistia e explicou porque o movimento sindical foi um dos primeiros e mais fortemente atingidos pelo Golpe de 1964. “A Lei de Anistia não nos satisfez plenamente por conta do acordo que beneficia os militares, que alegam terem sido anistiados. Os militarem tinham problema com o movimento sindical porque os sindicalistas eram base de apoio do governo Jango”.
Mídia e relação com o presente
O dirigente da CTB Luiz Bruno foi um dos que citou a responsabilidade da mídia no grande atraso brasileiro para o esclarecimento sobre o que aconteceu no regime militar. “A grande maioria do povo brasileiro sabe apenas o que sai nos jornais e a imprensa sempre cumpriu o papel de apoiar o golpe”. O representante da CSB, Evaldo Valladão, foi na mesma linha. “A história pode ser contada de várias maneiras, nós queremos contar à maneira dos trabalhadores sofridos. Só se fala de questões midiáticas e nós somos sempre esquecidos”.
Maria do Socorro, da Intersindical, e Clayton Coffy, da CSP-Conlutas, estabeleceram relações entre o que aconteceu entre 1964 e 1985 e o que está acontecendo agora. “Fazemos o resgate histórico, mas também temos que os trabalhadores continuam sendo fortemente criminalizados”, ressaltou Maria. “Estamos vivendo a ditadura de uma classe, a dos empresários, e os trabalhadores estão sendo constantemente monitorados”, completou Coffy.
Depoimentos e protestos
Prestaram depoimentos para o relatório da Comissão da Verdade o portuário João Baptista “Tuca”, o petroleiro Francisco Soriano, o bancários Ronald Barata, o gráfico Nilton Pedrosa, o metalúrgico Nilson Venâncio e o trabalhador dos Correios Mário “Macaco”. Todos os trabalhadores, sindicalistas ou não, ainda podem prestar depoimento sobre perseguições sofridas durante a Ditadura de 1964-1985 para integrar o relatório da Comissão da Verdade. Basta procurar a CEV-Rio pelos telefones (21) 2277-2389 e 2277-2327 ou e-mail comissaodaverdadedorio@gmail.com. Mais informações também pelo site www.cev-rio.org.br.
Dois protestos encerram o ato. Um representante de militares perseguidos pela ditadura leu uma carta em repúdio ao Ministério da Defesa e aos comandos das Forças Armadas pela resposta que deram sobre denúncias levadas pelo grupo aos referidos órgãos. Segundo a carta, as autoridades negam, de forma irônica, desrespeitosa e mentirosa, ter havido perseguição contra militares durante o regime de 1964-1985. Já os servidores civis do Arsenal de Marinha protestaram pela lentidão na análise dos processos de anistia destes trabalhadores, também perseguidos pela ditadura.