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Haiti salva 33 crianças que americanos...

Publicado: 04 Fevereiro, 2010 - 15h44

Escrito por: Hora do Povo



Seguindo o exemplodo seu governo, que desembarcou no Haiti milhares de marines, 10 estadunidensesacharam que podiam tomar dezenas de crianças haitianas para vendê-las 

Assim como ogoverno dos EUA considerou que não precisava pedir licença ao governo do Haiti,à ONU, ou a quem quer que fosse para entrar com 20 mil marines e paraquedistas,apoiados pelo porta-aviões nuclear Carl Vinson, no país caribenho atingido porum terremoto, dez débeis mentais de uma obscura “igreja evangélica” de Idahoacharam que, pelo mesmo critério “humanitário”, podiam chegar lá, catar trêsdezenas de crianças e conduzi-las aos EUA, onde seriam negociadas a U$ 10 mil acabeça.

Mas mesmo com opaís em destroços, o Haiti continua sendo uma nação soberana, e para surpresadeles, foram detidos pela polícia haitiana no principal ponto de passagem paraa vizinha República Dominicana, Malpasse, na noite de sexta-feira, dia 29 dejaneiro. Receberam voz de prisão por seqüestro e tráfico de menores, e as 33crianças foram salvas.

Naturalmente, osdez consideraram uma tremenda arbitrariedade não poderem entrar na terra dosoutros e sair levando o que quisessem, movidos por fins tão piedosos. Mas nãose dizia que o Haiti estava arrasado, uma terra de ninguém, casa da mãe Joana?É, arrasado, mas não terra de ninguém. Terra dos haitianos. Aliás, a“argumentação” do advogado dos americanos, Jorge Puello, em entrevista portelefone da República Domini- cana, foi que “não há governo no Haiti”.

No afã de praticaro bem e a compaixão, os dez não haviam se dado ao trabalho de iniciar qualquerprocesso regular de adoção das crianças, que têm entre sete meses e 12 anos. Aoserem presos, identificaram-se como integrantes de uma tal “New Life Children’sRefuge”, ligada a um culto de Idaho. Disseram, ainda, as crianças tinham vindode “orfanatos que desabaram” ou entregues por “parentes distantes”.

Após serem libertadas,as crianças foram encaminhadas à entidade austríaca “SOS Aldeia das Crianças,cujo diretor, Georg Willeit, como registrou a NBC News, denunciou que “elasseriam vendidas - eu quero deixar isso claro - cada uma por US$ 10.000”. “Foi oque a polícia nos disse. Todas as crianças estavam desesperadas de fome e sede.Todas em más condições”. “Uma das crianças mais velhas nos disse, “Eu não souórfã. Ainda tenho pais”, acrescentou Willeit. “Ela pensava que estava indo emférias de verão dadas por gente amiga da América e da República Dominicana”.

Ao ser informadodo detalhe humanitário dos “US$ 10 mil por criança”, o ministro haitiano paraAssuntos Sociais, Yves Cristalin, indignou-se: “Isso não é adoção, é roubo decrianças”. Ele acrescentou que o fato “está absolutamente fora da lei e serãojulgados aqui”. “Nenhuma criança haitiana pode deixar o Haiti sem umaautorização regular e estas pessoas não tinham autorizações”, assinalou.

Já a embaixadanorte-americana em Porto Príncipe declarou que está prestando assessoria aosdelinqüentes de Idaho “de todas as maneiras possíveis”. As pressões jácomeçaram, para que os dez sejam julgados nos EUA e não no Haiti, sob opretexto de que quase todos os prédios do sistema judiciário haitiano foramdestruídos pelo terremoto.

Depois do sismo de12 de janeiro, o governo haitiano bloqueou grande parte das adoções para evitarque crianças fossem levadas para fora do país de modo irregular, sob risco deserem vendidas a redes de prostituição infantil, de tráfico de órgãos ou paratrabalho em serviços insalubres. Medida apoiada pela organização da ONU para ainfância, a Unicef.

A ministra deComunicação e Cultura, Marie Laurence Lassec, ressaltou que o Haiti tem seuSistema Judiciário e seus procedimentos e pediu respeito às normas do país. Elaconfirmou que estão sendo realizadas investigações, pela Direção de AssuntosSociais, para determinar quais crianças têm pais ou familiares vivos. Asautoridades indicaram que algumas crianças “disseram que seus pais estão vivos ealguns deram endereço e números de telefone”.

Pais e parenteslocalizados pela agência France Presse na localidade de Callebas, perto dacapital, relataram que os “missionários” disseram que as crianças iriam para umabrigo no país vizinho e poderiam ser visitadas. “Ninguém seria levado paraadoção”. Os americanos até pegaram “informações de contato de todas asfamílias”.