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Greve na Cosan

Usina dá as costas a direitos trabalhistas

Publicado: 14 Outubro, 2008 - 16h18

Escrito por: Luiz Carvalho - CUT/SP



O desacato às leis trabalhistas e a truculência são comuns na maior produtora de álcool e açúcar do Brasil. Apenas para citar uma fato recente, em agosto deste ano, 400 trabalhadores da Gasa, em Andradina, usina que faz parte do grupo Cosan, foram demitidos após reivindicarem melhores salários.

Por um lado, o setor sucroalcooleiro movimentará R$ 40 bilhões em 2008. Por outro, quem corta a cana receberá, em média, R$ 28,90 por dia para dar conta de 9,3 toneladas. A exigência para produzir cada vez mais, associada às péssimas condições de vida nos alojamentos onde vivem faz aumentar o número de dependentes de drogas e a morte por excesso de trabalho.
 
Em Iacanga, cidade a cerca de 390 quilômetros de São Paulo, se escreve mais um capítulo dessa história. Há 17 dias, cerca de 170 trabalhadores rurais cruzaram os braços no alojamento Floresta, que pertence à usina Diamante, uma das 17 que o grupo Cosan comanda.

Entre outros absurdos, os trabalhadores rurais lutam contra o mistério. Desejam simplesmente saber o valor do salário, já que a empresa não estabelece a quantia a ser paga após um dia todo de trabalho. Apesar de registrado em carteira, os R$ 2,10 por hora não correspondem à realidade, pois os empregados recebem por produção.

Pessoas como Aílton de Jesus, 24, saíram do norte de Minas Gerais para enfrentar banheiros em péssimas condições de conservação, banhos em chuveiros queimados, ônibus em situação precária e a tentativa de silenciar quem luta pelos direitos, pois, assim como aconteceu em Andradina e ocorre em outros alojamentos da Cosan, no Floresta, seis pessoas foram mandadas embora porque reclamaram do valor pago pela função estafante.

Jesus é solteiro, pai de uma menina e mora na cidade mineira de Turmalina. Trabalhava na roça com a mãe e, pela segunda vez, foi para Iacanga. “Ano passado ganhava pouco, mas dava para levar. Neste ano a gente a gente recebe pouco e nem sabe quanto vai ser no final do dia. A usina dá o valor que quiser”, comenta.

Intimidação
 Para piorar, há ainda a tática da coerção. “Eles mandaram advertência e nos deram 10 dias de gancho quando resolvemos fazer greve. Dizem que precisamos trabalhar ou não vai ter ninguém para cuidar da nossa família e nos ameaçam de mandar embora por justa causa”, disse Ailton de Jesus, apontando um flagrante desrespeito à Constituição Federal Brasileira que garante o direito de greve.

De acordo com Francisco Monteiro, o Chicão, Coordenador da Subsede da CUT-SP em Bauru, a tática da suspensão é uma forma de prejudicar os manifestantes. “É um mecanismo para deixar de pagar os dias parados”, destacou. O dirigente lembra anda que a região onde ficam essas pessoas é propositalmente longe do centro das cidades para dificultar o diálogo com outros cidadãos e a denúncia das lamentáveis condições de vida.

Eduardo Porfírio, o Polaco, Conselheiro Fiscal da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo) – CUT/SP, explica a forma de recrutamento dos empregados rurais. “O ‘gato’ (agenciador) conhece todo mundo nas pequenas cidades do interior. Muitos moram em sítio, as famílias ficam longe umas das outras e nessa brecha ele entra dizendo que se não trabalharem em determinado local nunca mais conseguirão emprego porque a Cosan está em tudo quanto é lugar”, ressalta.

Nessa segunda-feira, dia 13 de outubro, uma comissão composta por CUT-SP, Feraesp e trabalhadores ouviu da direção da companhia que não haverá definição do preço antes do início da jornada e que não acontecerá o pagamento dos dias parados.

Segundo Flávio Gomes, Secretário de Organização da CUT-SP e um dos integrantes da comissão de negociação, a Central insistirá em abrir um canal de diálogo. “De qualquer forma, encaminharemos as denúncias à DRT (Delegacia Regional do Trabalho) e manteremos nosso apoio ao movimento que é legítimo”.