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Grandes bancos dos EUA lavaram dinheiro do...

Publicado: 06 Julho, 2010 - 10h04

Escrito por: Agência Carta Maior


 

Wells Fargo, Bank of América, Citigroup,American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem dedinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhumexecutivo fosse encarcerado quando as autoridades conseguiram detectar onegócio ilícito. Estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido asleis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, aoparticiparem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitosprovenientes do narcotráfico mexicano. O artigo é de David Brooks, do laJornada.

 

David Brooks - La Jornada

 

Nova York – Alguns dos principais bancos efinanceiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup,American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem dedinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhumexecutivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócioilícito.

 

Em múltiplos casos fiscalizados durante osúltimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leise regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participaremdas transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes donarcotráfico mexicano.

 

Esse é o caso do Wachovia Corp, antes osexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com maissucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que oWachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem dedinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menosquatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas decocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais secomprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México comtoneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.

 

Tudo isso foi revelado num acordo judicialdo banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciaisdo caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente paradetectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhõesde dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004e maio de 2007.

 

Desse total, Wachovia processou ao menos373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados dedinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais.Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo asinvestigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos àfiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundosestavam diretamente ligados ao narcotráfico.

 

Wachovia,violação recorde

 

Pelo volume total de fundos que nãoestiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachoviase tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa leiobriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos emespécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobreatividade suspeita de lavagem de dinheiro.

 

O procurador federal no caso, JeffreySloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatençãoflagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual cartabranca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, aolavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.

 

Não é que ninguém tenha notado. O própriobanco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu orisco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentoslidos por La Jornada.

 

Esse negócio era a administração e trasladode fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas noWachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A,cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo oDepartamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meiode bancos estadunidenses.

 

De fato, foi o caso da Casa de CâmbioPuebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, emsuas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, eestes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico,informam os documentos judiciais do caso.

 

Por outro lado, durante esse período odiretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, MartinWoods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias.Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e porisso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agênciaque “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia atragédia...Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos eas 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.

 

Depois de ser acusado de violar a lei,Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal deMiami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares emmulta e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estasdeixarão os encargos contra o banco em março de 2011.

 

Esta prática é comum nestes casos e sechama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa,coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.

 

Nenhumempregado recusou a propina

 

Em sua reportagem a Bloomberg enumeravários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, masnão enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o casoda American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadaspara comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursaisde Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sobinvestigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como oCitigroup, HSBC e Santander.

 

Outro caso é o do Western Union, que nocomeço deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigaçãocriminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operaçãoagentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes,conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladardinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union,nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantiasatribuídas a laranjas.

 

Calcula-se que quase 30 bilhões de dólaresem dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com osEstados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos ospaíses e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem sertrasladados por todo o sistema financeiro internacional.

 

Tradução: Katarina Peixoto