Governo e privatizações de FH fizeram fortuna de Daniel Dantas
Publicado: 15 Julho, 2008 - 13h05
Apesar de algumas aventuras anteriores (especialmente na época do Plano Collor, onde várias notícias dão conta de que ele se valeu de informações privilegiadas às vésperas do confisco), foi somente no governo Fernando Henrique que Daniel Dantas conseguiu turbinar a sua fortuna.
1) Em 1993 ele fundou o Opportunity. Mas, até Fernando Henrique assumir o governo, esta pequena arapuca financeira não tinha nenhuma importância. Em 1996, passou a fazer parte do esquema do Banestado – o envio ilegal de divisas para fora do país – junto com o Araucária, na época o banco da família Bornhausen e outros. O Opportunity especializou-se em colocar para dentro do Brasil dinheiro antes evadido como se fosse capital estrangeiro, para burlar o fisco.
2) Mas nada se comparou às privatizações. Em 1997, antes que começassem as privatizações da telefonia, US$ 2,5 bilhões foram depositados em um fundo do Opportunity, o CVC/Opportunity Equity Partners FIA. Os depositantes haviam sido os fundos de pensões das estatais, controlados por Ricardo Sérgio – então diretor do Banco do Brasil – e por Eduardo Jorge, secretário de Fernando Henrique. Havia centenas de melhores investimentos que os fundos de pensão poderiam fazer. O único efeito – a rigor, o único objetivo – desse depósito, era bancar Dantas, preparando o Opportunity para ser o principal representante tucano nos "consórcios" com empresas estrangeiras.
3) Aproveitando-se do dinheiro dos fundos de pensão estatais, Daniel Dantas, em conluio com uma certa Mary Lynn Turner, diretora do Citibank, fez com que esse banco americano formasse o CVC/Opportunity Equity Partners Ltd. e o nomeasse administrador. Assim, Dantas controlava os dois fundos, o primeiro, conhecido como "CVC/nacional", e o outro, conhecido como "CVC/internacional", sem colocar dinheiro de seu - exceto 0,06%.
4) No ano seguinte, com esses dois fundos, Dantas apropriou-se da Telemig Celular e da Amazônia Celular (junção das divisões de telefonia celular das teles do AM, PA, AM, RR e MA). Além do dinheiro dos fundos de pensão depositado no "CVC/nacional", o governo ainda obrigou esses fundos a montarem um consórcio com o Opportunity – assim, a parte de Dantas no consórcio com os fundos das estatais era bancada por esses próprios fundos – e com a multinacional canadense TIW.
5) Em junho de 1998, Dantas açambarcou a Brasil Telecom (junção das teles do DF, RS, SC, PR, GO, MS, MT, TO, RO e AC). O consórcio foi outra vez entre o Opportunity e os fundos de pensão, mais a Italia Telecom. Dantas havia progredido: dessa vez entrou com 0,56% de recursos próprios.
6) Em ambas as privatizações mencionadas, o governo Fernando Henrique, montou um "acordo acionário". Na primeira, os fundos de pensão eram obrigados a votar com Dantas nas assembléias do consórcio, a Telparte Participações S.A. Assim, os fundos das estatais depositavam dinheiro seu no Opportunity, eram obrigadas a se submeter a ele na privatização e, depois, obrigados a sustentá-lo na direção das empresas privatizadas. Estabeleceu-se que Dantas só poderia ser destituído da direção do CVC se a oposição a ele tivesse mais de 90% dos cotistas. Por fim, estava previsto que se um fundo de pensão votasse contra Dantas teria seu direito de voto suspenso por 12 anos.
7) Na segunda privatização acima mencionada, estourou o escândalo das gravações do BNDES, com conversas telefônicas onde Mendonça de Barros, Persio Arida, André Lara Resende, Ricardo Sérgio e o próprio Fernando combinavam a entrega da Telemar – a junção de teles de 16 Estados – ao Opportunity e à Telecom Italia. Mendonça de Barros pede que Ricardo Sérgio (diretor do BB, controlador, através de alguns prepostos, da Previ, o fundo de pensão do banco, e arrecadador de Serra e Fernando Henrique) banque o Opportunity. Este fala que "estamos no limite da irresponsabilidade". Mendonça responde, algo eufórico: "E isso aí, estamos juntos. E Ricardo Sérgio: "Na hora que der merda, estamos juntos desde o início" (v. artigo de Gilson Caroni na página 8). Na verdade, Ricardo Sérgio fazia jogo duplo. Ao final, bancou em parte o Opportunity, mas fez os fundos jogarem principalmente no seu competidor, o grupo Jereissati. Mesmo assim, após o leilão, o governo impõe o Opportunity como sócio minoritário na Telemar.
8) Dantas também entrou na privatização do porto de Santos, através da "Santos Brasil", na das empresas elétricas (Escelsa - Espírito Santo Centrais Elétricas – e Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais), na do Metrô do Rio, sempre com os fundos das estatais à sua disposição, e na maior das privatizações, em que os fundos de pensão se consorciaram com a CSN, a da Vale do Rio Doce, no último momento o Opportunity entrou no açambarcamento da maior mineradora do mundo. Sabe-se o nome de quem aplainou o caminho para o Opportunity na Vale: Ricardo Sérgio de Oliveira.