Filho de Arthur Lira atua em contratos de publicidade que envolvem governo Bolsonaro
Apesar da pouca experiência na área, o jovem Arthur Lira Filho e sua sócia recebem comissão de cerca de 7% a 15% do valor dos contratos entre a agência e os veículos que representam
Publicado: 14 Julho, 2021 - 10h44 | Última modificação: 14 Julho, 2021 - 10h53
Escrito por: Redação CUT
Um filho do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), é dono de uma empresa de representação de veículos publicitários que presta serviços para órgãos públicos e recebe milhões por meio de contratos com estatais como a Caixa Econômica Federal, segundo reportagem de Amanda Audi e Guilherme Mendes, do Congresso em Foco.
O jovem de sucesso é Arthur Lira Filho, sócio de Malu Cavalcante, filha de Luciano Cavalcante, braço direito, secretário parlamentar e coordenador de campanha de seu pai.
Segundo a reportagem, o jovem que está na faixa dos 20 anos e estagiava em um restaurante em Brasília quando abriu a empresa Mídia Nova Representações, não tem nenhuma experiência na área. Mesmo assim, ele e a sócia, que era recém-formada em Direito quando virou empresária, recebem comissão de cerca de 7% a 15% do valor do contrato entre a agência e o veículo que representam.
A reportagem do Congresso em Foco obteve um e-mail, cujo título se refere ao Ministério da Cidadania (“MCIDADANIA - PROGRAMAS E AÇÕES"), em que Arthur Filho e Malu estão copiados. O site decidiu não publicar o e-mail para garantir o sigilo da fonte.
De acordo com os repórteres, a mensagem foi enviada por Rodolfo Darakdjian, CEO da OPL Digital, empresa que afirma, em seu site, ter contratos com órgãos públicos como a Caixa Econômica Federal e os ministérios da Saúde e do Turismo. O empresário foi recebido duas vezes em três meses por Rodrigo Fayad de Albuquerque Rosa, que comandava a distribuição das verbas publicitárias do governo e foi exonerado na semana passada.
Outras empresas agenciadas por Malu e Arthur Filho, prossegue a reportagem, foram contratadas como fornecedoras em publicidade pela Caixa: a Akee Mídia em janeiro deste ano e a Agência Musik'a entre dezembro e fevereiro.
A empresa dos dois jovens, a Mídia Nova Representações, não tem sede, site ou mesmo e-mail oficiais, diz a reportagem, que prossegue afirmando: O endereço que consta no registro de CNPJ é de um apartamento residencial da Asa Norte, em Brasília - onde Malu mora com os pais.
Segundo o Congresso em Foco, pessoas que atuam no mercado de publicidade em Brasília e não quiseram ser identificadas por temer represálias, Arthur é visto frequentemente em agências que possuem contratos milionários com o governo, como a Calia e a Propeg.
“Desde que Arthur Lira virou presidente, a empresa [do filho] passou a vender mais”, disse um dos interlocutores, que participou de uma negociação com a agência de Arthur Filho. Os envolvidos negam irregularidades e dizem que a atuação é condizente com a praticada no mercado.
Os repórteres ouviram especialistas que apontaram que a prática de intermediação pode configurar quebra do princípio de imparcialidade em contratações pelo poder público. “Quando há a intermediação de contratos de publicidade feita por parentes de representantes de órgãos públicos, indiretamente há uma quebra do princípio de imparcialidade na contratação, mesmo que todos os requisitos técnicos e legais previstos na Lei 12.232/90 sejam atendidos”, afirmou Denise Fabretti, professora de Ética, Legislação e Dados da ESPM.
Em conversa com a reportagem (identificada como tal) por WhatsApp, Malu confirmou que atua como representante de veículos publicitários “de mídia exterior, digitais e na área comercial”. Ela explicou que a empresa, aberta nos últimos dias de 2019, “recebe uma comissão de representação alinhada e celebrada em contrato entre privados". "Os percentuais seguem o padrão de mercado", afirma.
Oficialmente, a carteira de clientes da Mídia Nova Representações tem nove empresas agenciadas – em sua maioria, pequenos negócios que buscam interlocução para obter contratos com agências que ganharam licitações do governo.
A reportagem diz ainda que não há registro da Mídia Nova Representações nos portais de transparência do governo, uma vez que só são publicados os dados das agências de publicidade detentoras do contrato principal. Os serviços de representação são subcontratados e, portanto, não entram nas prestações de contas dos órgãos públicos.
A reportagem tentou obter detalhes dos contratos diretamente com as empresas, mas recebeu a resposta de que eles têm cláusulas de confidencialidade.
Confira aqui a íntegra da reportagem.