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Fernando Bossi: os movimentos sociais na Alba

Publicado: 01 Agosto, 2008 - 13h05

O Portal do Mundo do Trabalho reproduz abaixo artigo do secretário de Organização do Congresso Bolivariano dos Povos e coordenador do Grupo Emancipação, o argentino Fernando Bossi.

Após uma reunião que o comandante Daniel Ortega manteve com diferentes dirigentes latino-americanos, um grupo de jornalistas se aproximou ao presidente hondurenho, Manuel Zelaya, e, entre perguntas e respostas atinadas, se escutou: "se incorporará a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), Presidente Zelaya? "Estamos fazendo todas as gestões para fazê-lo", respondeu.

Os movimentos sociais na Alba

"Essa decisão é segura?". "Totalmente segura", respondeu. Mais um governo latino-americano estaria a ponto de ingressar na Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América. Paraguai e Equador estudam a proposta e, em um futuro não muito distante, poderiam ser os novos países que se incorporam a Alba.

Enquanto isso, Petrocaribe continua incorporando novos integrantes: Guatemala e Costa Rica são dois novos membros. A política de integração e unidade bolivariana avança sem descanso em toda Nossa América. O vice-presidente da Guatemala, Rafael Espada, afirmou recentemente: "Se América Central e América Latina não se unem, vamos estar muito dispersos em nossas forças. A força da América Latina é essa união do sangue latino, na qual devemos trabalhar juntos".

Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, a Mancomunidad de Dominica, talvez em um breve lapso de tempo Honduras, Equador e Paraguai também ingressem na Alba ou se aproximem. Tampouco podemos esquecer que, se a Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional ganhar as eleições presidenciais em El Salvador, em 2009, El Salvador seria também um país que, provavelmente, se incorporaria; a chapa Mauricio Funes-Sánchez Cerén lidera com grande vantagem todas as pesquisas.

Por tanto, está claro que a Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América começa a apresentar-se para diferentes governos latino-americanos e caribenhos como uma possibilidade real de "espaço de unidade", sobre novos parâmetros.

Além dos governos nacionais que assinaram a Alba ou estão em processo de fazê-lo, este espaço, como nenhum outro, tem gerado uma expectativa maiúscula nos movimentos sociais da região, como também em uma infinidade de governos locais. Não é temerário afirmar, então, que a Alba já é mais do que os países cujos governos já assinaram. Inclusive, existem fortes organizações sociais e governos locais que desejariam incorporar-se mesmo se seus governos nacionais não aderirem.

Quando na 6º Cúpula da Alba, realizada na Venezuela em janeiro deste ano, apresentou-se oficialmente o Conselho de Movimentos Sociais da Alba, deu-se um importante passo para avançar na ampliação do espaço. Um avanço quantitativo, quanto à possibilidade de somar a movimentos sociais fora dos países cujos governos não adiram a Alba;e qualitativo, ao somar os povos na construção da unidade solidária e participativa.

O Conselho de Movimentos Sociais da Alba, por tanto, deve assumir uma destacada tarefa de promotor, articulador e executor das políticas de unidade emanadas dos acordos gran-nacionais já alcançados, como também a de propor novos projetos gran-nacionais elaborados pelos próprios movimentos sociais.

Dezoito projetos estão hoje em marcha, sustentados sobre os princípios da complementação, da colaboração e da solidariedade. Como está registrado em um dos documentos da 4º Cúpula: "os Projetos Gran-nacionales materializam e dão vida concreta aos processos sociais e econômicos da integração e da união e abarcam desde o político, social, cultural, econômico, científico e industrial até qualquer outro âmbito que pode ser incorporado". Assim, devemos prever a possibilidade de que, brevemente, os movimentos sociais terão que incorporar-se às Mesas Técnicas da Alba, contribuindo com sua quota de saberes, experiências, conhecimentos e participação concreta.

Os movimentos sociais têm uma imensa tarefa e responsabilidade: apoiar, sustentar e construir junto aos governos revolucionários da região e comprometer-se protagonicamente na articulação em prol da unidade popular latino-americana e caribenha O Documento Político da 5º Cúpula da Alba assinala: "...é com o nascimento da Alba que as forças revolucionárias podemos passar a uma nova situação que poderíamos definir como de acumulação da força política necessária para a consolidação da mudança que se tem produzido na correlação de forças políticas de nosso continente..." Consolidar essa nova correlação de forças a favor do campo popular impõe a presença e a ação dos movimentos sociais empurrando na mesma direção que seus governos revolucionários.

Mas, para que isso seja assim, é preciso insistir na necessidade de que os movimentos sociais da Alba e os que aspiram a ingressar entendam que entramos em uma nova etapa da luta revolucionária em Nossa América. Da resistência ao modelo neoliberal da década dos 90, passamos, como bem destaca Emir Sader, a outra fase: "a da construção de alternativas e da disputa por uma nova direção política". E acrescenta: "Quem entende essa nova fase, deixou de captar a marcha da luta antineoliberal. Quem persiste na ‘autonomia dos movimentos sociais’, ficou relegado ao corporativismo, opondo autonomia a hegemonia e renunciando à luta pela construção do ‘outro mundo possível’, que passa pela conquista de governos, para afirmar direitos -dado que o neoliberalismo é uma máquina de expropriação de direitos".

A luta dos movimentos sociais, então, deve acompanhar permanentemente a dos governos revolucionários, impulsionando as transformações estruturais da sociedade, combatendo em todas as frentes a contra-revolução e acelerando os processos de unidade da América Latina; em síntese, assumindo a dimensão política de acordo ao momento histórico. Como tem declarado o presidente Chávez: "se impõe de novo o que poderíamos chamar a revanche da política, que a política volte à carga e que tome a vanguarda dos processos de integração".

Essa orientação, que o Congresso Bolivariano dos Povos assumiu desde seu nascimento, ao incluir em um mesmo espaço a forças sociais e políticas, foi um acerto às vezes pouco valorizado.

Emir Sader, o intelectual brasileiro, nos diz: "Os movimentos sociais são um componente muito importante; porém, não o único do campo popular ou do campo da esquerda, como se queira chamar, ao que pertencem também as forças políticas, os governos locais, estaduais (provinciais) ou nacionais. Nunca os movimentos sociais, autonomamente, dirigirão ou dirigiram um processo de transformação na sociedade. Para fazê-lo, tiveram que -como na Bolívia- construir um partido, nesse caso, o MAS (Movimiento al Socialismo); isto significa restabelecer uma nova forma, as relações com a esfera política, para poder construir uma hegemonia alternativa".

Concluindo: a Alba existe graças à iniciativa de governos populares e revolucionários que a lançaram ao andar; esses governos, com seus partidos políticos revolucionários (Partido Comunista de Cuba, Partido Socialista Unido de Venezuela, Movimiento al Socialismo da Bolívia e Frente Sandinista para la Liberación Nacional, de Nicarágua), entenderam que a participação do povo é essencial na hora de construir a Pátria Grande. Os movimentos sociais da Alba terão que trabalhar unidos, em unidade monolítica, junto aos governos e partidos políticos comprometidos em alcançar a Unidade Latino-americana Caribenha.

O momento atual requer de unidade e os movimentos sociais não estão alheios a esta necessidade. Unidade no movimento operário, camponês, indígena, de mulheres, estudantil, de técnicos e profissionais, dos jovens, dos movimentos de bairro..., de cada um dos países que conformam a Alba e daqueles que aspiram ingressar. Os movimentos sociais unidos, junto aos governos e partidos políticos revolucionarios alcançaremos o objetivo estratégico. Como bem dizia Simón Bolívar: "Unidad y seremos invencibles".

Tradução: Adital