Episódio do Podcast "Estúdio CUT" analisa o impacto do "Tarifaço" de Trump no Brasil
Entenda tudo sobre o tarifaço de Donald Trump com Patrícia Pelatieri, do Dieese. Ela analisa os impactos econômicos e a complexa queda de braço geopolítica da taxação de 50% sobre produtos brasileiros
Publicado: 28 Julho, 2025 - 16h29 | Última modificação: 29 Julho, 2025 - 08h00
Escrito por: Redação CUT
O podcast Estúdio CUT desta semana recebeu Patrícia Pelatieri, diretora adjunta do Dieese. para entender um dos assuntos mais debatidos no cenário internacional: o "tarifaço" de 50% anunciado pelo ex-presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros.
O episódio já está disponível no canal do Youtube da CUT Brasil
As tarifas de Trump: o que são e como funcionam?
Patrícia Pelatieri esclarece que as tarifas de importação são impostos cobrados sobre produtos estrangeiros que entram no país. O aumento para 50% significa que produtos brasileiros vendidos nos EUA ficarão 50% mais caros para os consumidores americanos, diminuindo drasticamente sua competitividade. Empresas americanas que compram esses produtos seriam forçadas a repassar o custo para o preço final ou buscar alternativas em outros mercados.
Queda de braço com consequências
Embora o Brasil seja um grande exportador de produtos como café, a existência de outros fornecedores permite aos EUA buscarem alternativas, ainda que não atendam plenamente às suas demandas. Isso implica que o "tarifaço" de Trump impactaria severamente tanto os exportadores brasileiros quanto os empresários americanos.
No curto prazo, setores e estados brasileiros que dependem da exportação para os EUA, como o Vale do São Francisco (com produtos perecíveis como a manga) e a indústria calçadista do Rio Grande do Sul (que emprega boa parte da população e exporta quase metade de sua produção para os EUA), sentirão um impacto considerável, podendo levar a desemprego e perda de produção.
Contudo, o impacto não é unilateral. Empresários americanos já se mobilizam contra o "tarifaço", pois qualquer mudança nas relações comerciais custa tempo e dinheiro, prejudicando também a economia dos EUA. Estudos indicam que tanto o PIB brasileiro quanto o norte-americano seriam afetados se as tarifas entrarem em vigor sem medidas de contenção.
Geopolíticas: para além da balança comercial
A justificativa de Trump para corrigir um suposto desequilíbrio na balança comercial entre os dois países é desmentida pelos fatos. Há mais de 15 anos, o Brasil apresenta déficit comercial com os Estados Unidos, ou seja, importa muito mais em valor do que exporta para eles. A tarifa média brasileira sobre produtos americanos é de apenas 2,7%, com oito de cada dez produtos tendo tarifa zero.
As verdadeiras motivações para a agressividade de Trump parecem transcender a economia, adentrando o campo da geopolítica. Baseados em uma lei unilateral de 1974, os EUA contradizem os princípios do sistema multilateral de comércio que o próprio país defendeu desde a Segunda Guerra Mundial.
A recente investigação dos Estados Unidos sobre o Brasil, culminando em relatório divulgado, demonstra a complexidade da situação. Este documento, que anuncia a investigação, aborda uma variedade de temas, incluindo sistemas de pagamento e tarifas, misturando motivações políticas (inclusive de interferência na soberania brasileira) com equívocos sobre a balança comercial.
Além disso, acusações de ataques a empresas de mídias sociais (as big techs) e falhas na proteção de propriedade intelectual não possuem evidências objetivas. O documento também critica decisões do Supremo Tribunal Federal, como a anulação de condenações da Lava Jato, e a regulação do Pix, caracterizando-se como uma "ingerência inadmissível" nos assuntos regulatórios do Brasil.
Por trás das tarifas e dessa investigação, há também um interesse americano nos minérios de terras raras do Brasil, que possui a segunda maior reserva do mundo (perdendo apenas para a China). Esses materiais são cruciais para tecnologias avançadas como inteligência artificial e armamentos bélicos. A postura agressiva de Trump pode ser vista como uma tentativa de defender a hegemonia global dos EUA, especialmente diante da ascensão dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que ameaçam o controle do dólar como moeda de reserva internacional.
Adaptação e respostas possíveis
Apesar do impacto inicial, o Brasil tem capacidade de absorver e se adaptar no médio e longo prazo, buscando alternativas para os mercados. O governo Lula estuda a possibilidade de socorrer os setores mais impactados, mas com a contrapartida da garantia de empregos, visto que esses recursos são dinheiro público.
Historicamente, o Brasil já superou disputas comerciais com os EUA, como o embargo da carne (2005-2017), as tarifas sobre aço e alumínio (2018), e venceu uma disputa na OMC sobre subsídios agrícolas americanos (2009). Isso demonstra que o Brasil possui instrumentos para negociar e se posicionar.
O futuro das relações globais
No episódio, Patrícia Pelatieri afirma que é difícil prever se a medida de Trump entrará realmente em vigor, considerando seu histórico de blefes. No entanto, a postura dos Estados Unidos tem levado outros países (como Canadá, México, França e Reino Unido) a buscarem maior união e fortalecimento interno, além de novas alianças e blocos econômicos para depender menos dos EUA.
Para o Brasil, embora haja um impacto negativo inicial na indústria de transformação, essa situação também pode ser uma oportunidade para o redesenho de um projeto de desenvolvimento industrial mais sustentável, soberano e justo, alinhado com a perspectiva da "nova indústria Brasil".
Confira mais detalhes sobre o tarifaço de Trump e seus impactos no Podcast Estúdio CUT