Em visita à CUT, federação chinesa debate representação e nova formas de trabalho
Delegação chinesa destacou o papel dos sindicatos distritais na cidade mais industrializada do país e conheceu e conheceu as formas de organização em setores produtivos do Brasil como ramo químico
Publicado: 27 Outubro, 2025 - 15h00 | Última modificação: 27 Outubro, 2025 - 15h17
Escrito por: Walber Pinto e André Accarini
Representantes da Federação de Sindicatos de Xangai (SMTUC), ligada à Federação Nacional dos Sindicatos da China (ACFTU), visitaram a sede da CUT na manhã desta segunda-feira (27), marcando mais um passo na ampliação do intercâmbio entre as organizações sindicais do Brasil e da China. Há dois anos, em 2023, uma delegação da CUT visitou os chineses com o intuito de conhecer diferentes formas de luta organização sindical.
No encontro, a delegação chinesa ressaltou a rápida transformação econômica e industrial de Xangai, o papel ativo dos sindicatos distritais e o interesse em estreitar a cooperação com a CUT em áreas como meio ambiente, qualificação profissional e novas formas de trabalho.
Para o presidente da CUT, Sérgio Nobre, a visita teve peso fundamental nas relações entre as entidades brasileiras e chinesas, em especial por conta das relações comerciais entre os países, que impactam diretamente no mundo do trabalho.
“Foi muito importante porque hoje a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Quase 30% das exportações brasileiras são para a China, e cerca de 12% para os Estados Unidos. No passado era o inverso. E por conta das tarifas impostas pelo governo Trump, ainda bem que abrimos novos mercados - e a China é um mercado fundamental para nós. É importante não só na economia, que continuará sendo, mas também na organização sindical”, afirmou.
Sérgio destacou que o principal desafio no Brasil, hoje, é o de levar a proteção sindical e trabalhista para metade da classe trabalhadora que hoje é autônoma, informal. “E é o mesmo desafio que os chineses têm”, afirmou o presidente nacional da CUT.
Ele exemplificou com a vinda de uma plataforma chinesa ao Brasil que vai competir com o iFood. “Na conversa com os chineses, nós destacamos a importância de termos um diálogo sobre a proteção trabalhista desses trabalhadores aqui no Brasil”, disse.
Temos uma agenda extraordinária, seja na economia, seja na organização sindical, que a gente precisa estreitar e desse encontro sai um compromisso de cooperação.
Intercâmbio
Ao ‘fazer as honras da casa’ , a vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, destacou a história da Central. “Nasceu em 1983 em um movimento de luta pela democracia, luta para unificar a classe, as lutas da classe trabalhadora”, lembrou a dirigente, complementando que a Central representa hoje 19 ramos, quatro mil sindicatos e cerca de 25 milhões de trabalhadores.
“A CUT é responsável por organizar e articular a classe trabalhadora. As grandes lutas e conquistas do movimento sindical têm a nossa participação”, destacou um representante da central. Ele lembrou que, além da criação da CUT, o movimento sindical contribuiu para a fundação do Partido dos Trabalhadores, do qual Lula é membro e que o levou à Presidência da República pela terceira vez, com possibilidade de reeleição no próximo ano.
Juvandia também falou aos convidados sobre o cenário político atual, as eleições 2026, a luta em defesa pela democracia, reforçou as lutas atuais do movimento sindical brasileiro, em especial a CUT, como a redução da jornada sem redução salarial – o fim da escala 6x1, tema que foi amplamente discutido na 17ª Plenária Nacional da CUT e também lembrou a visita feita pela CUT à China.
Agradecemos muito o que vocês nos proporcionaram conhecer. A China é muito bonita. Nós não temos tanta gente, tantos habitantes assim, então os nossos números parecem pequenos diante de vocês”.
Na tarde desta segunda-feira, delegação chinesa visitou a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT). De lá, segue para o Rio de Janeiro, para uma visita à CUT-RJ, onde, nesta terça-feira (28), terá contato com mais experiência sindicais e conhecerá outros ramos de atuação da Central.
Xangai
A vice-presidente do Conselho Sindical do Distrito de Changning, Pan Min, explicou que a região que representa é uma das mais desenvolvidas e internacionalizadas de Xangai, com forte presença de empresas estrangeiras e centros financeiros.
“É uma área rica, com alto número de companhias multinacionais, e nossa atuação sindical também reflete essa diversidade. Temos muitos trabalhadores estrangeiros e setores abertos ao capital internacional”, afirmou, durante a visita. Min mencionou ainda a existência de grandes plataformas digitais e convidou a CUT a conhecer empresas da região.
Ao reforçar a afirmação de Pan Lin, o vice-presidente executivo do Conselho Sindical do Distrito de Putuo, Yin Luqun, destacou que o distrito é fortemente industrializado e vem passando por um processo acelerado de transformação tecnológica.
“Nosso distrito tem uma história ligada ao início da industrialização chinesa, há cem anos, e hoje cresce muito rápido, com mudança de ramos produtivos e aumento do PIB”, explicou. De acordo com ele, o número de filiados aos sindicatos locais também cresce continuamente, acompanhando a expansão do setor produtivo.
Yin ressaltou ainda a importância das ‘trocas’ presenciais para conhecer a realidade das empresas e dos trabalhadores. “Cada vez mais trabalhadores se filiam ao sindicato, e isso mostra que nosso movimento sindical precisa se adaptar às novas formas de trabalho e às mudanças tecnológicas”, completou.
Já o diretor do Comitê de Auditoria da Federação Sindical de Xangai, Qian Chuandong, manifestou satisfação por participar da missão e enfatizou o interesse chinês em aprender com as experiências sindicais brasileiras.
“Estamos muito felizes em acompanhar esta delegação no intercâmbio com a CUT. Sabemos que o Brasil tem sindicatos fortes nos setores financeiro e químico, e queremos conhecer melhor essas práticas, além das ações em temas ambientais e de capacitação”, afirmou. Qian destacou o papel da educação e da qualificação técnica no crescimento econômico de Xangai, apontando que a cidade se tornou um laboratório de inovação e industrialização rápida.
A delegação chinesa descreveu ainda a atuação sindical frente ao avanço das plataformas digitais e das novas formas de contratação. Dirigentes chineses mencionaram que, sob a coordenação da federação local, empresas de tecnologia com sede em Xangai — como as plataformas de entrega Ele.me e Meituan — já criaram sindicatos e vêm negociando com os trabalhadores.
“Com a promoção da nossa federação, conseguimos estabelecer o sindicato dos trabalhadores de delivery, que realizou negociações nacionais sobre condições e proteção no trabalho”, relataram.
Brasil
Por meio dos anfitriões cutistas, a delegação chinesa conheceu algumas realidades e experiências em se tratando de economia, mercado de trabalho e organização sindical no país.
A Secretária de Relações Internacionais Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Ramo Químico (CNQ-CUT) Elaine Blefari, detalhou a estrutura sindical da CUT e reforçou o interesse da CUT em conhecer as novas tecnologias e formas de contratação.
“Podemos, visitar e entender um pouco das novas tecnologias, novas formas de contratação dos trabalhadores de aplicativo, além de participar de vários intercâmbios culturais e conhecer lugares muito bonitos e importantes”, afirmou, destacando também a importância de entender experiências do setor químico, que representa cerca de 11% do PIB brasileiro e emprega 1,3 milhão de trabalhadores diretamente.
O presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart, citou a indústria automobilística para detalhas a presença da CUT no estado. O dirigente lembrou que esse setor vem sendo amplamente explorado por indústrias chinesas como a BYD.
“São Paulo é nosso grande polo industrial e financeiro, com setores automotivo, petroquímico e de açúcar e álcool. Representamos cerca de 380 sindicatos filiados, além de uma população significativa de trabalhadores de origem chinesa na região. Para nós, a relação com a China é estratégica para fortalecer a indústria e aproximar experiências sindicais.”
Ele reforçou a intenção de se construir uma relação sólida, fortalecer a indústria e conhecer como a China se consolidou economicamente mantendo sua própria organização. “Com as empresas chinesas chegando ao Brasil, como a BYD, extremamente popular com seus carros elétricos, isso nos permite observar experiências de multinacionais”, concluiu o dirigente.
Também estiveram presentes ao encontro em São Paulo o secretário-geral da CUT, Renato Zulato; e a diretora executiva da CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, e o secretário-adjunto de Comunicação, Tadeu Porto, reforçando a importância do intercâmbio para ampliar o diálogo e o aprendizado mútuo.



