Em Jirau, operários da Enesa decidem voltar...
Sindicato tem audiência de conciliação com consórcios nesta terça (27) para negociar acordo
Publicado: 27 Março, 2012 - 14h02
Escrito por: Luiz Carvalho, de Rondônia

Ademilton Borges, diretor do Sticcero dá inÃcio à assembleia
Na manhã desta segunda-feira (27), dirigentes da CUT, da Conticom (Confederação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e Madeira) e do Sticcero (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia) atenderam aos pedidos dos operários da Enesa Engenharia e realizaram uma assembleia para avaliar a proposta da empresa
Dessa vez, ao contrário do que ocorreu no dia anterior, quando a votação terminou em empate, os trabalhadores resolveram a aceitar a proposta de 5% de aumento adiantado como bonificação referente ao próximo salário e pagamento dos dias parados. E, com isso, retomar as atividades.
“Obviamente nós tivemos a resistência de uma parte pequena dos trabalhadores da Camargo Corrêa, mas aqueles ligados a essa empresa já pedem em sua grande maioria o retorno ao trabalho”, avalia o presidente da Conticom, Cláudio Gomes.
Ainda assim, a maior parte do canteiro, formada pelo pessoal ligado à Camargo Corrêa, permanece de braços cruzados. A avaliação da pauta por parte desse grupo deve ocorrer nesta quarta-feira (28) por meio de um plebiscito para quantificar exatamente qual é a maioria nesse embate.
A luta continua
A greve começou no último dia 9, puxada pelos 1.600 funcionários da Enesa, empresa contratada para cuidar da instalação das turbinas na hidrelétrica. Na ocasião, a manifestação cobrava a melhoria das condições no alojamento e em espaços de lazer, além do vale alimentação. Três dias depois, os outros 15 mil trabalhadores resolveram aderir ao movimento.
Dessa vez, porém, a disposição do primeiro grupo em retornar ao trabalho e iniciar o processo de negociação da campanha salarial ficou evidente já na chegada dos dirigentes, que encontram milhares de pessoas uniformizadas.
A categoria, cuja data-base é em maio, cobra 30% de aumento salarial, pagamento de 100% de todas as horas extras, baixada de 10 dias a cada 70 trabalhados, entre outros pontos.
Durante sua intervenção, o presidente da Conticom, Cláudio Gomes, destacou que a CUT, a confederação e o sindicato iriam referendar o desejo da base. “A despeito da definição da Justiça, estamos aqui para obedecer fielmente a deliberação de vocês”, comentou, referindo-se à decisão da Justiça do Trabalho de considerar a greve ilegal e multar o Sticcero em R$ 200 mil por cada dia de paralisação.
O mesmo vale para a mobilização na usina de Santo Antônio, onde os operários mantém a greve desde ontem.
Cláudio Gomes coloca em votação proposta: aprovada pelos trabalhadores da EnesaCampanha salarial – Ainda hoje, CUT, Conticom e Sticcero reúnem-se com os consórcios das duas usinas e com o Ministério do Trabalho para buscar uma proposta que será submetida à assembleia.
“A Justiça do Trabalho, infelizmente, está presa ao ritual daquilo que prevê a lei de greve e não considera os fatos sociais. Se nós tivéssemos um tribunal com uma visão mais avançada, certamente a situação desses trabalhadores seria vista de outra forma. O que fará os trabalhadores retornarem ao trabalho será a negociação e não a imposição judicial”, reafirmou Gomes.
Política do canteiro
O histórico da crise em Jirau e o desrespeito a decisão da maior parte dos trabalhadores deixa no ar um certo cheiro de que algo há em jogo além do desejo de melhorar a situação dos operários.
O atual processo de negociação começa em 8 de março, com uma assembleia na Enesa. Apesar de a pauta de reivindicações ter sido acatada pela empresa, um pequeno, mas barulhento grupo de trabalhadores comanda, no dia seguinte, a convocação à greve, alegando que as reivindicações não foram atendidas.
Um novo encontro foi realizado, dessa vez sem a participação do sindicato e apenas liderado por uma comissão de trabalhadores, que resolveu negociar isoladamente. Retiraram um acordo, homologaram na Delegacia Regional do Trabalho, mas novamente a proposta foi rejeitada em asembleia.
Diante disso, a Enesa entra com um processo de dissídio, é marcada uma audiência de conciliação. Sindicato e comissão de trabalhadores aceitam o acordo, mas a base, não.
No dia 14, já com a determinação do Tribunal Regional do Trabalho de aplicar multa ao Sticcero de R$ 100 mil por empresa – uma da Enesa e outra da Camargo Correa, portanto, R$ 200 mil –, há nova assembleia, após a entidade negociar que os dias de paralisação não seriam descontados, mediante o retorno ao trabalho. Porém, novamente, a proposta não foi aceita, algo que reforça o interesse político nessa disputa.
“É perceptível que há uma maioria que quer retornar ao trabalho, mas esse grupo minoritário é extremamente barulhento e agressivo com quem deseja trabalhar. O que observamos durante todo o processo é que as decisões têm motivação política e uma orientação externa. Isso preocupa porque compete com a legitimidade do sindicato de fazer a representação dos operários. Esses organismos que estão lá dentro e não são entidades sindicais negam e combatem o papel de conduzirmos corretamente o processo de negociação”, ressalta Cláudio Gomes.