Em Brasília, sete mil ocupam esplanada para...
Repúdio ao PL da terceirização, reforma agrária e democratização da comunicação foram os pontos mais lembrados por manifestantes
Publicado: 11 Julho, 2013 - 20h14
Escrito por: Luiz Carvalho

Armengol ressaltou que valorização do serviço público começa pelos trabalhadoresPara Carmeno Foro, unidade da classe trabalhadora precisa continuar para construir as reformas
Manifestantes afirmaram repúdio ao PL 4330 que amplia precarização das relações trabalhistas
A classe trabalhadora organizada, que nunca dormiu e jamais deixou de mostrar a cara, ocupou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na tarde desta quinta-feira (11), para pressionar o Congresso Nacional e o governo federal a destravar a pauta dos trabalhadores.
Mais de sete mil pessoas convocadas pela CUT e pelas demais centrais sindicais para o Dia Nacional de Lutas uniram-se a parceiros dos movimentos sociais no Museu da República e seguiram até o parlamento brasileiro, onde a manifestação terminou no início da noite.
No encerramento, a vice-presidenta da Central, Carmen Foro, destacou que a unidade entre os trabalhadores foi responsável por conquistas como a política de valorização permanente do salário mínimo, luta que permitirá avançar nas reformas necessárias ao país.
“Essa unidade está há muito tempo nas ruas e temos claro que a democratização do país passa pelas reformas agrária e do Judiciário, e por impedir que o Projeto de Lei 4330 – que regulamenta a terceirização e precariza as relações trabalhistas – seja aprovado. Passa também por uma reforma tributária que diminua os impostos para os pobres e taxe as grandes fortunas”, defendeu.
Durante o trajeto, os manifestantes fizeram paradas nos ministérios do Planejamento e da Agricultura para cobrar negociação com os servidores públicos e mais recursos para a reforma agrária.
Diálogo e poder – Secretário adjunto de Relações do Trabalho da CUT, Pedro Armengol, citou que sem a valorização do funcionalismo não haverá serviço público de qualidade e cobrou mais disposição do Legislativo e do Executivo para o diálogo.
“Hoje viemos dar um recado ao Congresso e ao governo: ou atendem nossa pauta ou vamos tensionar essa relação”, afirmou.
Secretário de Políticas Sociais da CUT-DF, Ismael Cesar, destacou a simbologia da marcha. “Do ponto de vista político, é de extrema importância essa atividade. Aqui estamos perto dos poderes e mais do que simbólica, essa ação permite que o governo veja os trabalhadores nas ruas e saiba que continuamos mobilizados.”
Para o diretor Executivo da Central Antônio Lisboa o perfil ultraconservador do Congresso não representa o povo brasileiro e para que a pauta de reivindicações avance de fato é preciso iniciar a mudança pela reforma política.
“Apesar de os trabalhadores estarem nas ruas há muito tempo, nossas pautas sempre foram engavetadas nessa Casa. Esperamos que os deputados e senadores entendam que os trabalhadores e a população querem avançar e não aceitarão retrocessos, medidas que retirem nossas conquistas”, alertou.
Contra a precarização – Um dos temas mais lembrados tanto nas intervenções dos dirigentes como em cartazes levados pelos manifestantes foi o combate ao PL da terceirização, um dos pontos da pauta unificada das centrais.
Caso aprovado, o projeto aprofundará problemas como a falta de isonomia entre os contratados diretos e os terceirizados, conforme lembra o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Comunicação do Distrito Federal (Sinttel-DF), Geraldo Estevão Coan.
“Nossa base tem 30 mil pessoas e 20 mil são terceirizados, que não têm os mesmos direitos dos contratados diretos, não têm acesso ao plano de saúde, previdência complementar como os diretos. O projeto do Sandro Mabel (PMDB-GO), que já era ruim, ficou ainda pior com o relatório do Arthur Maia (PMDB-BA) e não podemos deixar que seja aprovado ou teremos empresários lucrando às custas da precarização e da escravidão”, criticou.
Reforma agrária já
Primeiros a ocuparem o ponto de concentração da marcha, os manifestantes da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Distrito Federal e Entorno (Fetraf-DF) deixaram as imediações do Palácio dos Buritis, onde estavam acampados, e foram em cerca de 400 pessoas cobrar a desapropriação de 15 áreas na capital federal, além de mais recursos aos assentamentos.
“Desde 2008 temos mais de três mil famílias acampadas e viemos cobrar a regularização dessas terras e a devolução de mais de R$ 400 mil que o Incra retirou da associação dos assentados. Tivemos uma reunião na segunda com o governo e já começaram a devolução. Agora, falta acertar a situação das famílias”, explicou Francisco Lucena, coordenador-geral da Fetraf-DF.
Presidente da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contag), Alberto Broch, ressaltou que a reforma agrária tem relação direta com a autonomia do Brasil e por isso deve ser prioridade na agenda do governo.
“Precisamos fazer essa reforma para garantir a soberania alimentar e a soberania do país a fim de acabar com o massacre dos latifundiários sobre os agricultores familiares”, disse.
Educação é prioridade – Dirigente da CUT-DF e diretor do Sindicato dos Professores do Distrito Federal, Rodrigo Rodrigues destacou que, além dos 10% do PIB para a educação, é necessário que o governo federal atue para aprovar o Plano Nacional de Educação (PNE), com metas claras para o setor.
“Nesta manhã (11), tivemos uma audiência com ministro da Educação – Aloizio Mercadante –, que disse ter uma audiência com a presidenta Dilma e se comprometeu a colocar a aprovação do PNE como prioridade. Já estamos três anos atrasados na aprovação desse plano e não aceitamos mais essa enrolação”, criticou.
Comunicação democrática – Como em outras partes do país, a democratização da comunicação foi mais um tema bastante presente.
Representante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Maria Mello, lembrou a campanha da entidade para a coleta de assinaturas pela elaboração de um novo marco regulatório para as comunicações e a luta para construção de um marco civil para a internet.
“Temos uma Constituição bastante progressista, mas há artigos sobre a comunicação que não são regulamentados até hoje, que dizem, por exemplo, que políticos não podem ser donos de concessões de rádios e TV. Esperamos que, com a coleta de 1,3 milhão de assinaturas, o Congresso possa levar nosso projeto de lei de iniciativa popular para construção do marco regulatório adiante. Isso é fundamental para avançarmos contra a invisibilidade que os meios de comunicação impõem”, pontuou.
Entidades vão ao Ministério Público contra Globo –Representante do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Sônia Correa criticou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por relacionar controle social com censura e comentou que entidades em defesa da democratização da comunicação cobrarão investigação sobre sonegação fiscal das Organizações Globo.
“O Barão de Itararé, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e mais 15 entidades estiveram nesta tarde (11) no Ministério Público Federal protocolando uma exigência do povo brasileiro, para que se investigue e acione de fato a rede Globo pela sonegação denunciada recentemente”, concluiu.