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Disputa entre acionistas da Oi põe em risco o emprego de 1.700 trabalhadores

Serede, prestadora de serviços, que teve contrato rompido com V.tal, subsidiária da OI, diz não ter dinheiro em caixa para pagar os trabalhadores. FITRATELP diz que categoria pode parar

Publicado: 26 Setembro, 2025 - 17h07 | Última modificação: 26 Setembro, 2025 - 17h44

Escrito por: Rosely Rocha

Divulgação
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Uma disputa entre acionistas da Oi está prejudicando 1.789 trabalhadores e suas famílias, depois que a V.tal/BTG, subsidiária da empresa, anunciou o fim do contrato da terceirizada Serede, de fibra ótica, para transferir os serviços prestados para outras cinco empresas.

Um acordo, mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), chegou a ser anunciado, em que cerca de 700 profissionais seriam mantidos na subsidiária da Oi. Outros 1.700 seriam demitidos, mas com promessa de que cerca de mil seriam reintegrados nas cinco novas prestadoras de serviços da V.tal (Ability, Icomon, R2, Tel e Telemont). Sem o cumprimento deste acordo, a Serede anunciou que 834 trabalhadores, que a empresa não tem onde alocar, serão demitidos

O presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações e Eletrônicos do Brasil (FITRATELP), João de Moura Neto, contou que a Serede informou que não recebeu os valores pelos serviços prestados pela a V.tal relativos ao mês de agosto e, por isso não tem caixa suficiente para pagar os trabalhadores, as demissões, além de não emitir o aviso prévio. Por enquanto os salários estão em dia, mas a preocupação é que após as demissões os trabalhadores fiquem sem nada.

“Serão dispensados o pessoal de logística, da operação, a partir do dia 30 [terça-feira], e a V.Tal não vai ter gente para fazer a manutenção da operação porque as empresas contratadas para substituir a Serede não tem quadros suficientes para dar conta da manutenção”, diz.

“Se porventura, chegar o dia 30 e não houver uma solução para esses trabalhadores com o pagamento das verbas e tudo, nós estamos afirmando que nós vamos parar”.

Disputa entre acionistas da Oi

O maior acionista da Oi é um fundo de investimento do Reino Unido o Pimco, e a Oi é detentora de mais de 27%, das ações da V.tal. Já a maior acionista da V.tal é o BTG Pactual, o banco de André Esteves.

A V.tal, que vem travando uma série de disputas com a Oi, critica a Pimco, porque, segundo ela, o fundo ficou ausente das mesas decisivas sobre o acordo sobre os direitos trabalhistas que haviam sido mediados pelo TST.

Em nota, a V.tal afirma que a Oi, controladora da Serede, recusou a proposta de destinar os valores devidos diretamente ao pagamento das verbas rescisórias e salários dos trabalhadores. A empresa acusa a Oi de buscar outras finalidades para os recursos e justifica o depósito judicial como uma forma de garantir a destinação correta dos valores.

Por outro lado, também em nota, a Serede afirmou que “a companhia foi surpreendida com uma medida judicial com a qual a Vtal/BTG teria depositado em juízo o valor que é devido pela prestação de serviço já executado , o que gera enorme insegurança jurídica e coloca em risco o pagamento de salários. Até agora, a Serede está em dia com os salários e benefícios de todos os seus colaboradores e com o depósito e consequente inadimplemento, a V.tal/BTG coloca em risco imediato o pagamento de benefícios e salários de todos os trabalhadores da companhia".

“Na realidade, essa disputa, o cancelamento do contrato, o não pagamento das obrigações decorrente da terceirização, a contratação de outras empresas por um custo menor e com condições mais precárias, tudo é parte de uma disputa entre acionistas”, afirma Moura.

Segundo ele, essa disputa poderia ser resolvida através de uma mediação, mas a relação de confiança deles é praticamente zero.

“É realmente uma situação bastante complicada, em todos esses anos que eu tenho de telecomunicações, eu nunca vi uma disputa nesse nível, uma empresa claramente dizendo que lá só tem ladrão, que é isso, que é aquilo, não sei o quê. E essas acusações, elas partem da V.tal. É uma situação bastante difícil e muito complicada”, critica Moura.

Críticas às novas prestadoras

Outra preocupação dos sindicatos é a de que nem todas as cinco novas prestadoras contratadas pela V.tal respeitam a convenção coletiva, embora os salários sejam praticamente o mesmo valor.

“No Nordeste, do Maranhão até a Bahia, a empresa que vai assumir o contrato, ela costumeiramente não obedece às convenções coletivas. É preciso que os sindicatos entrem com ações de cumprimento, com ações judiciais. Ela nunca estabelece uma negociação com os sindicatos. Normalmente, quando a gente manda a pauta, eles respondem por e-mail e cada resposta leva três meses. E aí, pro final, a gente tem que entrar na justiça pra poder garantir o reajuste dos trabalhadores.”, conta o presidente da FITRATELP.

“Quando fazemos manifestações, e temos feito bastantes, não surte muito efeito porque a empresa acaba demitindo os trabalhadores. A gente entra na justiça, o trabalhador não quer mais voltar pra empresa, porque considera que é muito ruim e por isso contratar essa empresa representa uma precarização”, complementa Moura.

Em nota, os presidentes da FITRATELP, João de Moura Neto; da FIT LIVRES, Luiz Antônio Silva e da FENATTEL, José Roberto Silva, repudiaram todo esse processo.

Leia a íntegra

NOTA DE REPÚDIO

O processo de renovação de contratos e serviços especializados ameaça diretamente 1.789 trabalhadores e suas famílias, que podem ficar sem o sustento de cada dia. Sob o falso pretexto de “ganho de produtividade”, a medida nada mais é do que um expediente para engordar ainda mais os lucros bilionários de acionistas, tratando vidas humanas como simples números em disputas empresariais.

A decisão da Vtal de romper o contrato  com a SEREDE escancarou uma crise sem precedentes, deixando a empresa impossibilitada de honrar suas obrigações trabalhistas. A justificativa da Oi/SEREDE de que não tem recursos para pagar verbas rescisórias por conta de bloqueios judiciais é inaceitável e representa um verdadeiro tapa na cara dos trabalhadores.

A judicialização do processo pela Vtal, por meio da Ação de Consignação e da imposição de depósito judicial, é um absurdo. Tal medida inviabiliza a mesa de negociação, afronta o CEJUSC-TST e desrespeita frontalmente os trabalhadores. Além de ser insana, atenta contra o direito ao contraditório e ignora que apenas a empresa empregadora detém documentos essenciais – termos de rescisão, folhas de pagamento e registros que são indispensáveis para qualquer acerto de contas.

Exigimos que a Vital recue, reavalie suas posições e retire a Ação de Consignação, viabilizando um acordo verdadeiro, baseado no diálogo e na garantia de direitos. A intransigência não resolve e apenas agrava a instabilidade de quem está na ponta, carregando a empresa nas costas.

Ressaltamos: os trabalhadores permanecem empregados na SEREDE. Não houve aviso prévio. Assim, com o fim do contrato no dia 30, acaba também a obrigação de prestar serviços, deixando milhares de clientes correndo o risco de ficarem sem assistência técnica. Isso demonstra o tamanho da irresponsabilidade com a sociedade e com a própria continuidade dos serviços de telecomunicações.

Os trabalhadores estão sendo jogados em um cenário de insegurança e incerteza:
- não sabem até quando seguirão empregados na SEREDE;
- não sabem se receberão suas verbas rescisórias;
- não sabem se, ao serem demitidos, ainda terão vagas na nova prestadora;
- e pior, se pedirem demissão para assumir o novo contrato, terão que pagar aviso prévio, perder os 40% da multa do FGTS e ainda ficarem sem seguro-desemprego, caso não sejam absorvidos pela nova empresa a tempo.

Isso é exploração e chantagem social contra quem garante todos os dias a infraestrutura que mantém o Brasil conectado.

Reafirmamos que os direitos trabalhistas não se negociam. Exigimos:
1. Que a Oi/SEREDE apresente garantias imediatas de quitação das verbas rescisórias e créditos pendentes;
2. Que a V. tal assuma suas responsabilidades, formalizando compromissos para assegurar empregos e renda;
3. Que o TST estabeleça condições claras que priorizem a dignidade da classe trabalhadora e imponha segurança jurídica;
4. Que a Vtal retire a Ação de Consignação e respeite o espaço de negociação, sem manobras judiciais que só aumentam a insegurança.

Conclamamos a sociedade, autoridades e órgãos de controle a se levantarem em defesa dos trabalhadores, contra a lógica perversa do mercado que sacrifica famílias em nome de cifras bilionárias.

FITRATELP – João de Moura Neto

FIT LIVRES – Luiz Antônio Silva Souza

FENATTEL – José Roberto Silva