CUT-SP defende coleta seletiva e respeito aos...
Oficinas de reciclagem no Vale do Anhangabaú refletem consumo consciente, respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores (as)
Publicado: 02 Maio, 2013 - 10h02
Escrito por: Vanessa Ramos/CUT-SP
“A sustentabilidade deve gerar emprego, renda e respeito ao direito dos trabalhadores. Os catadores de materiais recicláveis devem ser valorizados pelo bem que fazem à sociedade”. Esta foi a afirmação do secretário de Saúde do Trabalhador da CUT/SP, Luiz Antonio Queiroz, durante as oficinas de reciclagem - desmontagem e triagem de computadores - realizadas nesta terça-feira (30) no Vale do Anhangabaú. As atividades são parte da programação do 1º de maio da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo.
Neste mesmo dia e local, ocorreu a coleta de celulares velhos, das 10h às 19h. Todo o material arrecadado será destinado à Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (Coopamare), entidade que surgiu em 1989, fruto da associação de alguns catadores que atuavam no Baixo Glicério, na cidade de São Paulo.
Cerca de 60 pessoas participaram das oficinas que refletiram a importância do consumo consciente, naquilo que afeta tanto os direitos dos trabalhadores (as) na produção, como a destruição da natureza e suas conseqüências à sociedade.
A responsabilidade é de todos
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 500 milhões de aparelhos eletrônicos sem uso estão guardados nas residências brasileiras. Descartados incorretamente, acabam parando nos lixões, liberando substâncias tóxicas prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
Para a engenheira ambiental, Bruna Previato, do Instituto GEA, que trabalha em parceria com a USP no Projeto de Reciclagem de Eletrônicos patrocinado pela Petrobrás, as oficinas formam os catadores no manejo de materiais que contêm chumbo e mercúrio. “É uma forma de cuidar não apenas do meio ambiente, como também da saúde e da qualidade de vida desses trabalhadores”, afirma.
Dados divulgados no portal do Instituto GEA afirmam que “cerca de um milhão de computadores são jogados no lixo anualmente. Além disso, de 10% a 20% de celulares entram em inatividade no mesmo período. Estes materiais já representam 5% dos detritos produzidos pela população mundial”.
Segundo o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, a atividade desses trabalhadores é um projeto de inclusão social que a CUT defende, além de ser uma alternativa de renda. “O Brasil ainda patina com a reciclagem de produtos eletrônicos. É preciso que existam ações concretas de coleta seletiva e de incentivo tanto da população que disponibiliza sem cuidado os seus lixos, quanto do poder público, a quem os catadores, mesmo sem convênios estabelecidos, prestam serviço”, pontua.
Experiências de vida
O catador Eduardo Ferreira de Paula, de 46 anos, é diretor e um dos fundadores da Coopamare, entidade que hoje chega a separar 80 toneladas de resíduos por mês, gerando trabalho e renda para muitos trabalhadores em São Paulo.
Ele, que também faz parte do Movimento Nacional dos Catadores, relata as histórias de luta. “Sofremos discriminação por muito tempo, mas começamos a nos organizar. O primeiro objetivo se referia à auto-estima do catador, porque éramos taxados como mendigos, ladrão ou vagabundo. Catando papel tínhamos condição de sair da rua, de nos valorizar, comprar a nossa própria comida, alugar um quartinho ou comprar um barraco para começarmos a nos levantar”
Walison Borges, de 27 anos, começou a trabalhar aos 18 anos como catador e, hoje, é também diretor da Coopamare. Maranhense de nascimento, ele conta que trabalham na entidade 24 catadores e dois carroceiros. “Passamos por dificuldades tanto por falta de apoio do governo, como pelo tratamento da sociedade que passava por nós com a carroça e jogava casca de banana. Hoje já existe mais respeito e temos mais consciência. Com uma renda de R$ 600 a R$800 temos dignidade”.
Como um dos mais jovens catadores da cooperativa, ele afirma que este trabalho pode gerar a oportunidade de dar cidadania à juventude que mora nas ruas. “Vou ser sincero. Se não fosse a cooperativa, hoje eu era um bandido ou usuário de crack, estaria correndo da polícia”, relata.
A presidenta da Coopamare, Maria Dulcinéia Silva Santos, de 49 anos, fala com orgulho do trabalho que realiza há quase dezesseis anos. De 1999 a 2006 puxou carroça com material reciclado pelas ruas da capital paulista. “Nossa cooperativa separa uma gama de materiais, como os eletrônicos. Antes não conhecíamos bem este produto, agora já estamos mais bem formados para vendermos sem sermos explorados”, diz.
Mulher de pele negra, Maria explica que o gasto da entidade chega a R$ 10 mil por mês. Ela espera o reconhecimento dos órgãos públicos, na prática, do trabalho que realizam. Segundo a Lei nº 11.445, de 2007, as cooperativas de catadores podem prestar serviço de coleta seletiva sem passar por uma licitação. “Basta vontade política do município para que possamos fazer um trabalho em conjunto. É isso que agora reivindicamos da prefeitura”, conclui.
Até 2030, existe uma estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) de que o Brasil produzirá 680 mil toneladas/ano de resíduos eletrônicos, e cada brasileiro será responsável pela geração de 3,4 quilos de material digital que será disponibilizado no meio ambiente.
A Coopmare está localizada na Rua Galeno de Almeida, 659 - na esquina com a Rua João Moura, em Pinheiros - embaixo do viaduto Sumaré. Os catadores aceitam doações de material reciclado.