CUT-PE: Manifestação contra as fundações estatais
Publicado: 02 Outubro, 2008 - 17h50
Escrito por: CUT-PE
A frase era direta e certeira como uma flecha. Sintetizou em poucas palavras o objetivo da manifestação realizada nesta quinta-feira (2) no Recife. A Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE) e as entidades que compõem os movimentos sociais se reuniram, na Praça da Independência, Centro do Recife, em ato público contra a criação pelo governo de Pernambuco das fundações estatais de direito privado. Os manifestantes iniciaram a distribuição de panfletos à população a partir das 9h, quando a cidade estava sob um céu nublado e o comércio erguia suas portas para mais um dia de trabalho. Calor insuportável. No panfleto, eram apontadas as graves conseqüências do projeto de lei do Executivo pernambucano aprovado pelos deputados estaduais de forma relâmpago e sem discutir com a sociedade civil organizada, o modelo chamado “fundações”, transferindo a gestão de saúde e os recursos para a iniciativa privada.
Ao mesmo tempo, o grupo “Loucas de Pedra Lilás” iniciou a encenação numa linguagem expressiva, mostrando ao público que a privatização não vai resolver os problemas da saúde pública. Foi um esquete muito interessante ao ar livre. Várias faixas rodeavam a Praça da Independência, alertando aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) por que as fundações de direito privado representam uma ameaça ao setor de saúde, principalmente, para os trabalhadores e usuários.
De acordo com uma das coordenadoras do movimento Articulação Aids em Pernambuco, Simone Ferreira, as fundações estatais de direito privado podem levar à privatização da saúde. "Estamos desde o começo de setembro realizando ações semanais para mostrar à população nosso posicionamento", explicou.
O secretário nacional de políticas sociais da CUT, Expedito Solaney, criticou duramente o governo do estado e os deputados estaduais pela aprovação às pressas do projeto de lei que vai trazer vários problemas na rede estadual de saúde. “A população perderá o direito de fiscalizar o funcionamento das fundações e os recursos a elas destinados, já que enfraquece o controle social” assinalou.
O aposentado José Augusto dos Santos, 70 anos, disse que a crise na área de saúde já é uma rotina lamentável nos hospitais de Pernambuco, uma vez que faltam profissionais, remédios, equipamentos, entre outros. “Quando a gente precisa ser atendido nas emergências públicas é um “deus nos acuda”. Você não imagina quanto sofrimento, meu filho”, reclamou. A estudante Márcia Santos, 24 anos, que passava pelo local parou e ouviu a manifestação dos sindicalistas sobre as fundações que vão gerir a saúde no estado. “ Realmente, Governo Eduardo Campos pisou na bola, porque se esse projeto fosse bom ele deveria ter ouvido os trabalhadores e usuários. Pra mim, isso não é legítimo e serve apenas para mostrar o desrespeito com o povo” assinalou.
A diretora do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Carla Bezerra, defendeu o SUS que significa para o povo brasileiro a maior conquista social, pois determina que a saúde é direito de todos e dever do Estado. “Nós dos movimentos sociais não vamos desistir de luta pelo SUS público, de qualidade e para todos” frisou.
Por sua vez, o presidente da CUT-PE, Sérgio Goiana, afirmou que as entidades sindicais e os movimentos sociais têm clareza de que o caos na saúde só acontece por culpa do descaso do Governo do Estado, têm certeza também de que as fundações estatais de direito privado são uma forma de privatização e que não resolvem os problemas da saúde pública. Para Goiana, é preciso a moralidade na gestão pública, a reestruturação dos hospitais, mais investimentos, maior assistência ao Programa de Saúde da Família (PSF) e das policlínicas, medicamentos e leitos hospitalares suficientes, concurso público para ampliação do número de profissionais e condições dignas de trabalho para melhor atender a população.
Os contrastes dos prédios e da igreja de Santo Antonio se confundem nesse momento com a luz sol do pintor chamado verão. As cores se espalham na energia do frenesi da cidade. O relógio marca 11h20. Os minutos vão escapando velozes entre os dedos. O céu é cor anil. A marcha inexorável do tempo não pára.
No próximo dia 8 de outubro, quarta-feira, às 9h, haverá nova manifestação contra as fundações de direito privado no Recife. Desta feita, a concentração será na Praça Oswaldo Cruz/Boa Vista, organizada pela CUT-PE e entidades dos movimentos sociais. A luta continua!