CUT participa do L20 na África do Sul e defende novo contrato social global
Encontro reuniu centrais sindicais e organismos internacionais para debater igualdade, sustentabilidade e solidariedade frente às crises climática, geopolítica e social
Publicado: 06 Agosto, 2025 - 20h43 | Última modificação: 08 Agosto, 2025 - 15h48
Escrito por: André Accarini

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) participou do encontro internacional do L20 (Labour 20), realizado em George, na África do Sul, com o tema “Fomentar a solidariedade, a igualdade e a sustentabilidade por meio de um novo contrato social”. A CUT foi representada pelo secretário de Relações Internacionais, Antonio Lisboa, que levou à reunião as posições do sindicalismo brasileiro frente à conjuntura global marcada por crises ambientais, geopolíticas e ataques à soberania.
O encontro ocorreu paralelamente à reunião do Grupo de Trabalho de Trabalho e Emprego do G20 e ao fórum empresarial B20, nos dias 28 e 29 de julho. Estiveram presentes lideranças sindicais de diversos países, representantes da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da CSI (Confederação Sindical Internacional), autoridades do Ministério do Trabalho sul-africano e dirigentes de centrais como a UGT e a Força Sindical, também representantes do Brasil.
Novo contrato social global no centro dos debates
No primeiro dia, as discussões se concentraram em temas como política industrial verde e transição justa, modelo comercial justo em um mundo dividido, trabalho decente, formalização e o combate à precarização.
Já no segundo dia, Antonio Lisboa integrou a mesa “Os desafios geopolíticos e a necessidade de reforçar o multilateralismo: qual é o papel do G20?”. Ao lado de representantes da Confederação Sindical Internacional (CSI) vindo das Turquia e da , o dirigente apresentou a contribuição do Brasil na presidência do G20 e dos BRICS, além de reforçar a agenda sindical para a COP 30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).
“Realizamos no Rio de Janeiro duas sessões de consulta em que pudemos apresentar as reivindicações do movimento sindical e da sociedade civil aos negociadores do G20”, afirmou Lisboa, ao comentar a influência do movimento sindical na construção da declaração final do G20. “Isso contribuiu para a elaboração da declaração final dos chefes de Estado, que incluiu, no parágrafo 31, temas como trabalho decente, emprego de qualidade e combate à fome e à pobreza.”
COP 30: alerta para participação popular e transição justa
Lisboa ressaltou a importância da COP 30 e destacou a atuação da CUT junto à presidência brasileira do evento, especialmente em torno da pauta da transição justa, conceito que busca garantir que a resposta à crise climática seja socialmente inclusiva e não sacrifique direitos trabalhistas e sociais.
“Neste momento, na discussão da COP30, nós já tivemos contato com o presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, e um dos temas que nós estamos incidindo é sobre o tema da transição justa”, afirmou Lisboa, complementando que o governo brasileiro reconhece o tema da transição justa como um tema importante para enfrentar a crise climática, mas garantindo o direito às populações.
Denúncia de ataque à soberania brasileira
Um dos alertas mais contundentes feitos por Lisboa durante o encontro foi sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e suas implicações geopolíticas. Para ele, a decisão do presidente Donald Trump de elevar em até 50% as tarifas de produtos brasileiros configura uma tentativa inaceitável de ingerência nos assuntos internos do Brasil, vinculando questões comerciais a condicionantes políticas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Eu diria que não só o governo, mas o próprio Brasil está sob ataque por conta da política externa do governo dos Estados Unidos O que está acontecendo é um ataque sobre a democracia brasileira e, portanto, é fundamental ter o apoio de vocês, o apoio do movimento sindical internacional”, disse o dirigente.
Genocídio em Gaza: denúncia e apelo à solidariedade
Outro ponto destacado pela CUT no L20 foi o genocídio na Faixa de Gaza. Lisboa condenou as ações do governo de Israel e pediu uma posição clara do movimento sindical internacional diante das atrocidades.
“Companheiros, o que acontece em Gaza hoje é uma desumanidade. As crianças estão morrendo de fome. O parágrafo 8 da declaração do G20 trata do respeito aos dois Estados e pede o fim do massacre em Gaza, mas nada foi feito. A situação piorou”, afirmou o secretário de Relações Internacionais da CUT.
Segundo ele, “não é possível seguir em silêncio como se nada estivesse acontecendo. É um massacre, um extermínio, e não podemos nos omitir.”
Encaminhamentos finais e agenda global do trabalho
As discussões do segundo dia do L20 também abordaram a necessidade de ampliar o espaço fiscal nos países, por meio de sistemas tributários progressivos, enfrentando a crise da dívida e fortalecendo os serviços públicos e a proteção social. Também houve debates sobre os impactos da digitalização e da inteligência artificial, especialmente em contextos de desigualdade laboral.
O evento se encerrou com mesa coordenada pelo secretário-geral da CSI, Luc Triangle, e contou com a participação de Gilbert Houngbo, diretor-geral da OIT, representantes dos Ministérios do Trabalho da África do Sul, Reino Unido e Alemanha, e da delegada do governo francês para assuntos trabalhistas no G7 e G20.
Glossário
O que é L20
O L20, ou Labour20, é um dos grupos de engajamento do G20 Social, que representa os interesses da classe trabalhadora nas discussões do G20. Ele reúne sindicatos e organizações de trabalhadores de todo o mundo para formular e apresentar propostas e recomendações aos líderes do G20 sobre questões como emprego, direitos trabalhistas e condições de trabalho. No Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) é a principal representante do L20.
Em resumo, o L20 atua como a voz dos trabalhadores no G20, buscando garantir que as decisões econômicas e sociais do grupo considerem as necessidades e preocupações da classe trabalhadora global.
Outros grupos de engajamento
O G20, grupo que reúne as principais economias emergentes do planeta, nasceu em 1999, com a função e dar voz e representação às economias, entre elas o Brasil. Tais países, juntos, representam fatia importante da economia mundial, além de concentrarem também considerável parcela da população mundial. Além do G20, há outro grupo, o G7, das sete maiores potências do planeta.
G 20 Social
Anunciado pelo presidente Lula na 18ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20, em Nova Délhi, na Índia, em 2023, quando o Brasil assumiu simbolicamente a presidência do bloco, o G20 social tem como objetivo ampliar a participação de atores não-governamentais nas atividades e nos processos decisórios do G20, ou seja, por meio de diálogo e iniciativas para a inserção das demandas da classe trabalhadora nas discussões do G20.
É formado por 13 grupos de engajamento. São eles o C20 (sociedade civil); T20 (think tanks); Y20 (juventude); W20 (mulheres); L20 (trabalho); U20 (cidades); B20 (business); S20 (ciências); Startup20 (startups); P20 (parlamentos); SAI20 (tribunais de contas); J20 (cortes supremas) e O20 (oceanos).
Contrato Social
O conceito de Contrato Social é a proposta de um novo modelo de desenvolvimento global baseado em justiça social, ambiental e econômica. A ideia central é reposicionar a classe trabalhadora como sujeito ativo nas decisões econômicas e políticas que moldam o futuro do planeta.
Segundo Antonio Lisboa esse novo Contrato Social é uma estratégia global para reequilibrar as relações de trabalho e garantir direitos fundamentais. Envolve não apenas o mundo do trabalho, mas também questões como democracia, meio ambiente e combate às desigualdades.
A proposta parte do entendimento de que o atual sistema global é insustentável. Ele concentra renda, precariza empregos e exclui milhões de pessoas do acesso a direitos básicos. O novo Contrato Social busca regras mais justas para as relações laborais e sociais, promovendo trabalho digno e qualidade de vida para todos.