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CUT no Fórum Social Temático: sociedade...

Na abertura, cutistas enfrentaram a chuva para levar pauta dos trabalhadores às ruas de Porto Alegre

Publicado: 25 Janeiro, 2012 - 04h13

Escrito por: Luiz Carvalho, de Porto Alegre

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Graziano defendeu necessidade de manter diálogo constante com a sociedade organizadaGraziano defendeu necessidade de manter diálogo constante com a sociedade organizadaCortejo do bioma brasileiro diante dos avanços do Código FlorestalCortejo do bioma brasileiro diante dos avanços do Código Florestal
Uma grande marcha tomou as ruas de Porto Alegre (RS) na tarde desta terça-feira (24) para dar início ao Fórum Social Temático (FST), que acontece até o próximo domingo (29) na região metropolitana da capital gaúcha.

Primeiro o sol forte e depois a chuva testaram a fibra dos mais de 20 mil participantes de diversos estados e até mesmo de outros países Caso de José Domingos, que partiu de Santigo, no Chile, para participar do encontro. Enrolado a uma bandeira da CUT chilena ele destacou qual deve ser a missão dos movimentos sociais nesse encontor. “Demonstrar que estamos mais unidos do que nunca e que com o povo unido tudo é possível”, pontuou.

O principal objetivo dessa edição é discutir a crise capitalista e a justiça social e ambiental para definir um conjunto de propostas que serão levadas à Cúpula dos Povos da Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). E com essa pauta, não poderiam faltar críticas à mudança no Código Florestal Brasileiro. Durante todo o trajeto, manifestantes vestidos de preto e com maletas cheia de dinheiro, em alusão aos parlamentares e grandes empresários do agronegócio favoráveis à reforma, carregavam caixões com mudas de árvores que eram distribuídas à população. À frente e atrás do cortejo, faixas que pediam o veto da presidenta Dilma ao projeto de lei complementar aprovado no Senado e que agora volta à Câmara. Caso também passe pela casa, seguirá para as mãos do Executivo.

A CUT esteve presente com uma delegação que ressaltava a necessidade de construir um novo processo de desenvolvimento onde o trabalho decente e a reforma agrária sejam os pilares de sustentação.

Também presentes em grande número, as mulheres exigiam serem ouvidas no processo de construção da Rio+20. Sob pena do evento tornar-se apenas um encontro sem expressivos resultados práticos. “Da forma como está, as mudanças não serão feitas para melhorar condições porque os grandes detentores do capital são os coordenadores da Rio+20”, disse Cláudia Prates, da Marcha Mundial de Mulheres.

Faixa sobre a avenida Borges Medeiros lembrava a responsabilidade do EstadoFaixa sobre a avenida Borges Medeiros lembrava a responsabilidade do EstadoSociedade atuante
Os debates sobre a soberania alimentar, contudo, começaram antes mesmo da marcha. No Palácio do Piratini, sede do governo gaúcho, a mesa de debates contou com o governador Tarso Genro, que lançou o programa de apoio às cooperativas rurais, e com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o agrônomo brasileiro José Graziano.

Para Genro, após o primeiro passo da implementação das políticas sociais, o Brasil precisa realizar uma busca ativa pelos deserdados que não foram alcançados por tais ações de inclusão. A começar pelo próprio Rio Grande do Sul. “Ainda são 316 mil pessoas aqui que vivem na miséria”, disse.

Aliado a isso, ele comentou a necessidade de redução da desigualdade social. Sem deixar de criticar quem acredita na higienização social como modelo de gestão. “Não é correto dizer que a insegurança pública decorre dos pobres. A criminalidade é transversal entre classes e o que a acelera é o contraste. Devemos ter como prioridade o combate à miséria absoluta e às desigualdades sociais neste próximo ciclo. Fora disso não há saída, se alguns não comem, outros não dormem”, falou.

Apresentado pelo governador como figura fundamental para colocar a FAO no caminho correto, de combate da pobreza global, Graziano lembrou o tempo todo em seu discurso a necessidade de ouvir a sociedade e os movimentos sociais. “A FAO está em um momento em que é preciso abrir as portas para a sociedade e estamos tentando criar espaços de interlocução para quebrar o monopólio do diálogo apenas com os governos de alguns países. Porque a luta contra a fome não é de um governo, mas uma decisão de toda a sociedade. Precisamos integrar as forças vivas mais representativas. Uma agência que não inclui essa questão não é digna de nosso tempo”, explicou.

Governador Tarso Genro (de camisa cinza) integra-se à faixa da CUTGovernador Tarso Genro (de camisa cinza) integra-se à faixa da CUTNova forma de produção - Em sua campanha, ele defendeu três grandes ações para erradicar a pobreza, que devem fazer parte da agenda prioritária da organização: encontrar uma forma mais sustentável de produzir – que desperdice menos recursos –, diminuir custos internos e estabelecer um mecanismo global de articulação de segurança. “Não temos conselho com autonomia de intervenção efetiva. Há mais de 20 anos vemos a fome na Somália e vamos prescrever as mesmas medidas quando voltarmos agora, que incluem a oferta de sementes de melhor qualidade aos agricultores e uma atuação junto aos pastores nômades que perdem seus rebanhos por conta da guerra, por exemplo. Além disso, devemos recriar um departamento de cooperativismo, que acabou devido à burocracia, e definir um espaço de participação aos pequenos produtores”, explicou.

Ao final, voltou a citar a participação social como eixo essencial. Não como utopia, mas como necessidade. “Utopia é achar que podemos conviver em paz com mais de 1 bilhão de famílias com fome.”

Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul (CDESRS) e presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, representou o CDERS e leu um documento com propostas para Rio+20.

De acordo com o texto, o desafio é garantir a segurança alimentar e nutricional como forma de inserção social e o acesso aos alimentos a toda a população. “A agricultura de base familiar deve ser fortalecida e devemos incentivar as práticas de tecnologias agrícolas voltadas para o aumento da produção de alimentos, com equilíbrio da preservação e conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. Portanto, é necessária a reforma agrária para dar acesso ao novo modelo de produção agropecuária, um modelo que reduza as desigualdades e incentive o desenvolvimento regional, com garantia do trabalho decente, do acesso ao crédito e suporte técnico desde produção até comercialização”, elencou.

A participação da CUT no FST prossegue nesta quarta-feira (25).Clique aqui para conhecer a programação completa das atividades promovidas pela Central.