CUT mobiliza trabalhadores para Conferência Nacional das Cidades
Envolvimento de sindicatos nas etapas municipais e estaduais, que antecedem o evento nacional, é essencial para subsidiar a atuação da CUT na Conferência
Publicado: 09 Maio, 2025 - 13h37 | Última modificação: 09 Maio, 2025 - 13h51
Escrito por: André Accarini | Editado por: Rosely Rocha
A CUT está mobilizando suas bases para participar das etapas municipais e estaduais da 6ª Conferência Nacional das Cidades, importante espaço de diálogo social que será realizado em outubro deste ano em Brasília. O processo de escuta das conferências é uma oportunidade para que a população defina, de fato, como quer viver nas cidades.
Com o tema "Caminhos para cidades inclusivas, democráticas, sustentáveis e com justiça social", a conferência, promovida pelo Ministério das Cidades, retoma suas atividades após mais de 10 anos de ausência – a última edição ocorreu em 2013. As novas etapas ocorrem até agosto deste ano e subsidiarão a participação da CUT na etapa nacional, entre os dias 28 e 31 de outubro. (Veja calendário abaixo).
Em entrevista ao Portal da CUT, o representante da Central no Conselho Nacional das Cidades, Aparecido Donizeti da Silva, reforça a importância de o movimento sindical se engajar na realização das etapas municipais e estaduais.
“É a partir da nossa base que vamos definir quais serão as contribuições da CUT na Conferência Nacional. É nosso papel levar as demandas da classe trabalhadora também no que se refere à qualidade de vida nas cidades. Isso envolve eixos fundamentais como a mobilidade urbana com tarifa justa; o enfrentamento à crise climática e o direito à cidade inclusiva”, diz Donizeti.
Ele pontua que essas demandas têm de ser discutidas na Conferência Nacional para que se tornem políticas públicas efetivas para a população. "Essa conferência dialoga diretamente com a vida das pessoas. É no transporte lotado, na falta de saneamento, na dificuldade de acesso à moradia digna que a política urbana mostra sua cara. Se a população não ocupar esse espaço, outros decidirão por nós", afirma o dirigente.
Na prática
Para dar a dimensão de como o tema dialoga com cada cidadão e cada cidadã – e para reforçar a importância do envolvimento de toda a sociedade– o dirigente exemplifica com algumas realidades das grandes cidades.
Em termos de transportes, ele destaca a qualidade e a função social do serviço prestado. “O mesmo tempo que eu usava num ônibus há 10 anos para trabalhar, estudar, continua do mesmo jeito. As periferias estão amontoadas, a sua grande maioria nos morros, e aí você vê o censo desse ano apontando que a expectativa de vida nossa é um pouco mais velha. Precisamos mudar a expectativa para o futuro das pessoas nas cidades”, diz.
Donizeti também citou as mudanças climáticas para explicar que é preciso dar condições dignas de moradia à população trabalhadora. As periferias são as primeiras a sofrer com enchentes e falta de energia. Com certeza 40, 50% do trabalhador brasileiro moram nesses espaços, que é onde há enchente, falta de saneamento e riscos de deslizamentos”.
Entre as propostas a serem levadas à Conferência está o uso de painéis solares para a geração e energia sustentável para as periferias.
Reorganização e inclusão social
“Não adianta ter uma política sustentável sem ter uma consciência lá dentro da comunidade”. Com este conceito, Donizete explica que é possível explorar, dentro das próprias comunidades, espaços para geração de emprego e renda, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores.
Etapas
As conferências municipais já começaram e seguem até o dia 30 de junho. As etapas estaduais e do Distrito Federal acontecem até o dia 31 de agosto. A etapa nacional será realizada em outubro.
A participação dos sindicatos e movimentos populares nessas etapas é fundamental, reforça Donizeti.
As informações sobre como participar, organizar e o calendário das conferências, em um mapa interativo, estão no portal oficial da Conferência. Clique aqui para acessar
Conselho das Cidades
O Conselho das Cidades é um órgão colegiado deliberativo e consultivo, integrante da estrutura do Ministério das Cidades, que tem por finalidade estudar e propor diretrizes para a formulação e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).
Criado em 2004, representa uma instância de comunicação plural e democrática, com a participação dos diversos atores sociais nos processos decisórios sobre a temática do desenvolvimento urbano sustentável.
Além de Aparecido Donizetti da Silva, a CUT é representada no Conselho pelo secretário nacional as Pessoas Aposentadas, Pensionistas e Idosas, Ari Aloraldo Nascimento.
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Entrevista
Veja a seguir um resumo da entrevista realizada com Aparecido Donizeti para o portal e para o Podcast Estúdio CUT.
CUT: A última conferência ocorreu há mais de 10 anos. O que mudou nas cidades desde então?
Aparecido Donizeti: Nas periferias, pouco mudou. O mesmo tempo no ônibus, as mesmas áreas de risco. Os desastres climáticos aumentaram - quem fica sem energia, quem sofre com enchentes são os trabalhadores. A desarticulação dos conselhos municipais e estaduais foi um prejuízo enorme. O poder público e os empresários fizeram o que queriam, sem ouvir a sociedade.
O texto-base traz muitos temas. Quais destacar?
Mobilidade urbana, clima e periferia inclusiva. Porque falam diretamente da vida do trabalhador - do tempo perdido no transporte, dos deslizamentos nas áreas de risco, da falta de espaços públicos dignos nas periferias. Enquanto no centro surgem torres inacessíveis, a periferia continua sem infraestrutura básica.
Por que a CUT deve participar?
Porque está em disputa o modelo de desenvolvimento urbano. Se não estivermos presentes, o poder público e os empresários vão aprovar o que interessa a eles - como o sistema único de mobilidade pensado pelos donos de ônibus. Os trabalhadores precisam defender transporte público de qualidade, moradia digna e emprego sustentável.
Como estão as etapas municipais?
A participação dos trabalhadores ainda é pequena, fruto desses 10 anos sem conferências. Mas é fundamental articular com os movimentos populares para levar as demandas reais das periferias. Sem essa pressão, as políticas continuarão sendo feitas de cima para baixo. Estamos trabalhando a mobilidade, os empregos sustentáveis como os catadores de recicláveis, e a revitalização dos espaços públicos. A ideia é garantir que essas propostas cheguem à etapa nacional.
O que esperar das próximas etapas?
Nas estaduais, o desafio é eleger delegados comprometidos com os trabalhadores. Na nacional, em outubro, vamos brigar por políticas concretas - como o sistema único de mobilidade com tarifa acessível e ações reais contra as mudanças climáticas.
Quem organiza e como participar?
O poder público convoca, mas os trabalhadores precisam ocupar esses espaços. Os sindicatos devem mobilizar suas bases para as conferências estaduais e depois cobrar os conselheiros municipais e estaduais.
Essa conferência é nossa chance de construir cidades inclusivas, democráticas e sustentáveis. Se não participarmos, outros vão decidir por nós. Vamos às conferências estaduais, vamos a Brasília em outubro. A política urbana se faz com participação popular