CUT destaca integração regional, democracia e trabalho durante congresso da CSA
Painel com a participação da Central apontou a importância da articulação do movimento sindical das três américas para romper com a lógica neoliberal e recolocar direitos sociais no centro do desenvolvimento
Publicado: 15 Maio, 2025 - 11h15 | Última modificação: 16 Maio, 2025 - 14h33
Escrito por: André Accarini

Durante o painel “Mudanças democráticas e o novo momento para a integração e a cooperação” realizado no dia 13 de maio, dia de atividades que antecederam a abertura oficial do 5° Congresso da Confederação Sindical das Américas (CSA), na República Dominicana, o secretário adjunto de Relações Internacionais da CUT, Quintino Severo, também Secretário-Geral da Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul, defendeu a necessidade urgente de um novo modelo de integração regional, ancorado na cooperação solidária, na valorização do trabalho e na defesa intransigente da democracia.
Em sua fala, Quintino apresentou reflexões sobre o papel do movimento sindical na articulação de um projeto comum para a América Latina, capaz de romper com a lógica neoliberal e recolocar os direitos sociais no centro do desenvolvimento.
“O objetivo do painel foi discutir a integração regional, a cooperação para o desenvolvimento e a defesa da democracia. E nós, enquanto Coordenadora, trouxemos a perspectiva do sindicalismo latino-americano para esse debate”, explicou.
De acordo com o dirigente, é impossível pensar em integração real se a mobilidade humana continuar sendo criminalizada. “Migrar é um direito, não é caso de polícia. Uma pessoa que decide viver em outro país não pode ser tratada como criminosa”, criticou.
Quintino citou a integração limitada que ainda predomina no Mercosul, baseada na livre circulação de mercadorias, mas não de pessoas. “Diferente da União Europeia, aqui não há liberdade plena de circulação. Até hoje, um brasileiro precisa se justificar na migração para entrar na Argentina. Isso precisa mudar. Queremos uma integração com base na solidariedade, na democracia e na dignidade”, afirmou.
Outro ponto central da exposição do dirigente sindical foi a necessidade de uma cooperação tecnológica e energética entre os países latino-americanos. Ele destaca que o Brasil, por exemplo, possui experiências consolidadas na transição para matrizes energéticas limpas, como biocombustíveis e energia solar, que deveriam ser compartilhadas com os países vizinhos.
“Não se trata de caridade, mas de responsabilidade regional. O Brasil sozinho não preserva a Amazônia. O bioma é continental, exige políticas integradas entre Peru, Colômbia, Guiana e outros países amazônicos”, argumentou.
Ainda sobre a integração na utilização de recursos, ele também citou o aquífero Guarani, que se estende por Brasil, Argentina e Uruguai, como exemplo de bem natural que exige preservação cooperada. “É impossível proteger só a parte brasileira. A sustentabilidade precisa ser um projeto coletivo.”
Economia
Sobre questões econômicas e de desenvolvimento da América Latina, Quintino afirmou que o desafio está em romper com o papel histórico da região como exportadora de matérias-primas. Ele trouxe como exemplo o lítio boliviano, essencial para a produção de baterias de carros elétricos: “Vamos seguir exportando lítio cru ou vamos ajudar a Bolívia a desenvolver tecnologia para transformar esse minério em riqueza industrializada?”.
Exportar matéria-prima e importar produto acabado é o caminho da dependência eterna. Precisamos de soberania compartilhada
Democracia
A defesa da democracia foi outro ponto de destaque. Quintino alertou para o avanço da extrema-direita em países como Argentina e Paraguai e lembrou o recente período de ataque às instituições democráticas no Brasil. Para ele, a democracia é essencial para qualquer avanço social.
“Sem democracia, não há conquistas trabalhistas nem sociais. É por isso que o sindicalismo precisa assumir a defesa da democracia como parte de sua estratégia. Não é um papel apenas dos partidos ou dos governos”, destacou.
Por fim, reforçou que o trabalho e os trabalhadores devem estar no centro de qualquer projeto de integração ou desenvolvimento. “Sem valorização do trabalho e sem garantia de direitos, o desenvolvimento será sempre concentrador e excludente. O trabalho decente precisa estar no centro dos debates na COP30, nos BRICS, no Mercosul. Se o trabalho não for central, o projeto é incompleto.”
CSA
O Congresso da CSA, que reúne representantes sindicais de toda a América Latina, Caribe e América do Norte, foi apontado por Quintino como um espaço estratégico para construção desse novo projeto continental. “É um momento importante. Temos aqui companheiros do sul ao norte do continente. Isso mostra que a integração popular e sindical não é só possível, é necessária.”
Para ele, o momento político atual, com a presença de governos progressistas em alguns países da região, exige protagonismo do movimento sindical. “Não podemos achar que o sindicato vai fazer tudo sozinho. Precisamos ocupar os espaços oferecidos pelos governos e incidir com propostas concretas. Essa é a hora de transformar discurso em realidade.”
O painel ainda contou com a participação de Danilo Urrea, da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo (ATALC) e foi coordenado pela Secretária de Políticas Sociais da CSA, Nallely Domínguez.
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