Copom afirma em ata que ameaça são os...
BC usa risco
Publicado: 14 Setembro, 2011 - 11h48
Escrito por: Carlos Lopes/Hora do Povo
A última ata do Copom, divulgada no dia 8, é coisa para deixar um cristão encafifado.
Imagine o leitor, depois de meses e meses, e milhares de palavras e de linhas, escritas pelo mesmos diretores do Banco Central, pregando que o importante é a “inflação prospectiva” (segundo eles, a inflação para daqui a nove meses); que o perigo é “o descompasso entre o crescimento da oferta e da demanda”; que “o nível de utilização da capacidade instalada está muito alto”; e etc., etc., & etc., o BC, agora, descobriu que tudo isso, e muito mais, desapareceu em 45 dias.
Segundo a última ata, “o cenário prospectivo para a inflação acumulou sinais favoráveis” (os aumentos de juros não iam fazer efeito só daqui a 9 meses?); são “decrescentes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda” (houve algum investimento de efeito instantâneo na economia?); “o nível de utilização da capacidade se encontra abaixo da tendência de longo prazo” (quando esteve acima?), e mais, mais, mais, etc., etc., etc. & etc.
São fenômenos inexplicáveis e miraculosos: os aumentos de juros que só iam funcionar nove meses depois, fizeram efeito em seis, cinco, o último em pouco mais de um mês; os investimentos tiveram um efeito mais rápido do que a velocidade da luz (de onde eles vieram?), pois o descompasso entre a oferta e a demanda está decrescente e até a capacidade instalada da indústria está menos ocupada.
Certamente, leitor, quanto aos dois últimos fenômenos, o efeito não foi dos investimentos, mas da derrubada geral da economia, antes de tudo da indústria (e também da agricultura, que caiu no segundo trimestre). Em suma, não foi a capacidade instalada que aumentou – pelo contrário, aumentou, realmente, a capacidade ociosa, isto é, a parcela da capacidade instalada que não é utilizada na produção.
Mas voltemos à ata do Copom: claro que tudo isso é bobagem. Os diretores do BC, até então, arrumavam pretextos, ainda que inteiramente mentirosos, completamente fora da realidade (por exemplo, os investimentos sempre cresceram mais do que o consumo - ou seja, do que a demanda - apesar da nossa baixa taxa de investimento), para aumentar os juros.
Agora que isso se tornou outra vez um escândalo público nacional, em vista das graves consequências (o emprego industrial caiu outra vez em julho, revelou o IBGE no dia 9), os mesmos indivíduos têm que justificar porque baixaram os juros, ainda que exiguamente.
BANCOS
Naturalmente, não seria de esperar que essa gente dissesse a verdade: aumentamos os juros cinco vezes sem necessidade, apenas para aumentar o ganho dos bancos, sobretudo os estrangeiros, com a dívida pública.
Assim, segundo a ata do Copom, o que mudou (e para melhor) foi a realidade – e em tempo recorde, de fazer inveja ao Flash e outros adictos à velocidade instantânea, que, aliás, eram mais modestos: nunca pretenderam mudar a realidade, exceto quanto a colocar marginais na cadeia.
Evidentemente, não foi a realidade que mudou para melhor, antes pelo contrário. O fato é que, como piorou mais do que o suportável, eles foram forçados a reduzir a taxa básica de juros em 0,5 p.p.
Bem, pensará o leitor, isso é uma trupe de embusteiros, mas do que vocês estão se queixando? Pelo menos, agora, trata-se de baixar os juros.
É verdade, leitor. Mas não estamos nos queixando. Apenas, nos pareceu pouco promissor que a política monetária do país esteja entregue a elementos sem a menor seriedade. Porém, não pense que eles desistiram – estão outra vez querendo saquear o vosso (e o nosso) salário.
DESCOMPASSO
Se os “riscos” para a “inflação prospectiva” diminuíram; se os “riscos” do descompasso entre oferta e demanda - e da capacidade ocupada - são “decrescentes”; se até os “preços das commodities nos mercados internacionais desde abril mostram certa acomodação” (uai, então por que aumentaram os juros em junho e julho, se esse era o principal problema na inflação?), como, pelo menos, segurar os juros na altitude? Onde arrumar um pretexto?
Diz a ata do Copom que “a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho, em tais circunstâncias, um risco muito importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”.
Não é função do BC se preocupar com os salários. Isso é uma clara intromissão em área que compete à nossa presidente, eleita por nós para cuidar desses assuntos. Sobretudo quando a intenção é conter o mercado interno, isto é, sabotar a atual - e justa - grande bandeira da presidente Dilma.
A “margem de ociosidade”, que antes era “estreita” na indústria, foi transportada pelo BC para o emprego. Uma desgraça esse país onde os desempregados são apenas alguns milhões! Aquela velha múmia, Eugenio Gudin, expeliu essa tese na década de 30 do século passado, há uns 80 anos. Mas o BC está ainda na fase paleolítica, desejando que o desemprego seja maior.
Quanto aos aumentos de salários “incompatíveis com o crescimento da produtividade” (outra descoberta de Gudin), pelo jeito o BC considera que os empresários, até mesmo as multinacionais, são suicidas. São muito frouxos com esses trabalhadores que sempre querem ganhar mais. Daqui a pouco é capaz de todo brasileiro comer três vezes por dia – como desejava o presidente Lula, que, como todo trabalhador, é um sujeito que acarreta muitos riscos inflacionários...
(E, leitor, não vamos mostrar outra vez que aumento de salário não provoca inflação, o que foi comprovado na prática até durante a ditadura, porque, convenhamos, não vamos encher a vossa paciência – e nem a nossa.)